Prefeitura ameaça reprimir camelôs do centro do Rio de Janeiro

357
Camelôs em manifestação no centro do Rio. Foto: Justiça Global

Mesmo com toda precariedade da categoria, na terça-feira (13), o Gabinete de Crise do Centro, composto por grandes empresários cariocas decidiram que a partir do dia 26 será publicado um decreto que proíbe totalmente a presença de vendedores ambulantes na região Central da cidade.

Igor Barradas | Redação Rio

“A Área vai ficar um Brinco”, disse o prefeito Eduardo Paes (DEM) para o grupo de empresários milionários do Rio. Essa repressão baseada na limpeza social lembra o que realizou Pereira Passos, prefeito da cidade do Rio de Janeiro no início do século XX, contra a população carioca. Sob pretexto de “modernizar” o Rio, Passos proibiu a atuação de ambulantes e promoveu a remoção de mais de 20.000 trabalhadores de suas residências. Esse período foi chamado de “bota-abaixo”, expressão criada após a demolição de inúmeras habitações populares.

Inúmeros camelôs morrem for fome e por exposição ao Covid-19, se arriscando diariamente nas ruas. Uma pesquisa da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo afirma que, dentro de um coeficiente de 0 a 1 em nível de mortandade na capital paulista, as categorias dos trabalhadores “autônomos” (que inclui diaristas e camelôs) atingiram o absurdo índice de 0,79. Já os “profissionais liberais” possuem grau de correlação de 0,0245.

Outra pesquisa, realizada pelo Observatório das Metrópoles, revela que a maior parte dos camelôs já sofreram violência física ou verbal, abuso moral, material e apropriação indevida de mercadorias. No centro do rio, poucos camelôs possuem licença para trabalhar. Segundo o estudo, esse fato vem ‘’em conformidade com uma construção simbólica dos discursos de criminalização do camelô, os/as tornam ainda mais suscetíveis às relações e práticas de hostilidade com estes/as trabalhadores/as’’. Com base na totalidade dos respondentes, 57% afirmaram ter sofrido agressão durante o exercício do trabalho. Sobre os tipos de agressão, 67,1% já sofreram violência física, 72,6% violência verbal ou moral.

Em 2014, camelô foi assassinado pela polícia no bairro da Lapa, no Rio de Janeiro. Foto: reprodução

“Dado o crescente número da informalidade, em especial nas grandes capitais, e o longo histórico de violência contra o comercio ambulante da Rio, esse decreto só vai aumentar a repressão e dificultar que esses trabalhadores tenham sua dignidade exercida na cidade. Hoje o Rio de Janeiro vive um caos financeiro, sanitário, humanitário. Camelô não é ladrão, é trabalhador! Trabalhador tem que ser tratado com respeito e dignidade, principalmente pela prefeitura que é responsável direta por cuidar das pessoas. A repressão não traz benefícios para a cidade. A prefeitura, com toda sua estrutura, vem como um rolo compressor para cima dos trabalhadores. Só queremos nossa dignidade e levar nosso pão para casa’’, afirmou Vinicius Benevides, também camelô e militante da Unidade Popular.

Vale lembrar que ainda há um projeto em andamento na câmara que prevê o armamento da Guarda Municipal. A verdade é que a marginalização dos trabalhadores informais se comprova como um fato no capitalismo. No pico da pandemia esses trabalhadores estão sem nenhuma ajuda dos governos, vivendo sem auxilio emergencial, e agora proibidos de tentar sobreviver. É nessa conjuntura que essa categoria continua a lutar por mais direitos e contra a repressão.