Poesia | Direito à vida

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Foto: JAV/Rio

Se me tiram a vida
E me ferem à bala
já não serei eu
Que defenderei a farda
Porque um dos meus
Todos os dias
São recebidos
Por 80 tiros na estrada
Dentro de mim
Já não sobra nada
Há apenas a fúria bárbara
Porque saí pra comprar pão
E não voltei pra casa
E sem explicação
Fui taxado como bandido
Quem gritará ou falará
Pelo pobre e oprimido?
Talvez se fosse mais sangue
Ou talvez sangue de Cristo
Os tais defensores da tal moral
Morreriam comigo
E me fariam coletes
Mesmo que eu fosse bandido
Por quê pra eles
Só deve ser perseguido
Se preto for o menino
E enquanto eu fujo ou corro
Por não poder me render;
Mas a frente há um fuzil
Eu sei que vou morrer
E minha alma vira mais uma
Em um monte de almas que se vão
Quem falará pelo inocente
Com o corpo atirado no chão?

Juan Machado 
Militante da UJR – Rio de Janeiro