Povo irá às ruas para derrubar o governo Bolsonaro no dia 29

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Reunião da coordenação do ato ocorreu nesta segunda-feira na quadra do Sindicato dos Bancários e congregou entidades e partidos políticos como UP, MLB, UJR, MTST, Coalizão Negra, CMP, FENET e UNE. Foto: Mídia Ninja

João Coelho
Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas – MLB

SÃO PAULO – Nas últimas semanas movimentos sociais, populares, sindicatos e partidos de esquerda iniciaram a convocação de uma grande mobilização nacional para derrubar o Governo Bolsonaro e pôr fim à gestão assassina que o capitão reformado e seus generais têm levado a cabo durante a pandemia. O recado é claro: somente com o povo na rua, pressão popular e enfrentamento direto exigindo a queda do governo, será possível acabar com as milhares de mortes, a fome e o sofrimento dos brasileiros.

Marcada para o dia 29 de maio, a manifestação nacional será realizada nas capitais e em outras importantes cidades ao redor do país. O objetivo é iniciar uma agenda de lutas onde o povo das periferias e bairros pobres, que tem sentido na pele uma das piores carestias das últimas décadas, os trabalhadores, que têm sofrido com as demissões e o achatamento dos salários, a juventude, que assiste as Universidades Públicas serem desmontadas e a violência crescer e levar a vida de centenas de jovens inocentes em operações policiais, e as mulheres, que têm tido seus lares devastados pela fome e sofrido com o aumento da violência de gênero, tomem a frente da luta social, derrubem o governo e criem as condições para a vacinação geral da população e a superação da profunda crise econômica e social vivida pelo país.

Segundo Leonardo Péricles, presidente do partido Unidade Popular e uma das principais lideranças políticas na articulação das manifestações: “após um ano da pandemia, o que nosso povo assiste é a chegada ao número de quase 500 mil mortos, o colapso no sistema de saúde de vários estados, a falta de leitos, respiradores, profissionais e até mesmo de oxigênio e remédios para intubação. Não há perspectiva de solução para a crise de saúde, econômica e social em que vivemos caso esse governo não seja derrubado; e somente o povo pode derrubá-lo e abrir caminho para uma mudança real em nosso país”.

Para se ter ideia da crise humanitária no Brasil, a guerra imperialista dos EUA contra o Afeganistão matou 149 mil pessoas em 14 anos e na guerra da Síria morreram 380 mil pessoas em 10 anos de guerra. Apesar dos números assustadores, Bolsonaro fez tudo para propagar o vírus: divulgou notícias falsas e desestimulou o uso de máscara e outros protocolos de saúde, promoveu aglomerações e o uso de medicamentos inúteis, não investiu na produção de uma vacina nacional e ainda por cima negou a compra da vacina por várias vezes e orientou a população a não se vacinar.

Não bastassem as mortes, o desemprego no país atinge 14,2%, ou seja, 14,3 milhões de pessoas, a pior taxa desde 2012. Para Ricardo Senese, diretor do Sindicato dos Metroviários de São Paulo: “É um grande assalto ao povo o que está acontecendo no Brasil; enquanto a população adoece, sofre com o desemprego, a inflação e a redução salarial, enquanto as pequenas empresas fecham as portas e se torna impossível para o trabalhador ganhar o sustento de cada dia, Bolsonaro e sua quadrilha gastam o dinheiro público com jantares de luxo para os militares, destinam bilhões para os cofres dos bancos privados e tentam privatizar as empresas públicas, como os Correios, a Eletrobrás e o Metrô de São Paulo, para entregar aos patrões o patrimônio dos trabalhadores brasileiros”. Biano Polito, presidente da Associação das Trabalhadoras Terceirizadas de São Paulo, ressalta: “Os trabalhadores estão sendo obrigados a trabalhar ou procurar emprego em condições que colocam suas vidas em risco. Isso porquê o Governo não gasta o dinheiro público para salvar a população, garantindo um auxílio emergencial digno, a manutenção dos empregos e dos salários e a vacinação; pelo contrário, Bolsonaro preferiu gastar R$2,5 milhões tirando férias em plena pandemia enquanto apenas 15% da população tomou a primeira dose da vacina, 7% a segunda dose e a maior parte da população não tem nem previsão para ser vacinada”.

Outro problema que as manifestações pretendem escancarar e que motiva a luta pela derrubada do governo é o aumento desenfreado da inflação. Para Lucas Nascimento, Coordenador Nacional do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB): “a carestia que estamos vivendo é a maior do século no país, o alto preço dos alimentos e dos combustíveis têm contribuído para jogar os trabalhadores na miséria. A fome tem doído em mais da metade dos lares brasileiros e em 70% das casas onde moram crianças com menos de 4 anos. Mesmo com tanto sofrimento, o Governo cortou o auxílio emergencial e oferece uma média de R$250,00 por mês para os beneficiários sustentarem suas famílias, ou seja, faz piada com a fome do povo. Enquanto lutamos para comprar comida e pagar o aluguel, o presidente acaba com a verba para moradias populares e seu filho compra uma mansão por R$6 milhões em plena pandemia.

Isis Mustafá, diretora de Relações Internacionais da União Nacional dos Estudantes (UNE) relembra que: “em boa parte do mundo, os governos de países têm praticado o isolamento social, garantido condições das pessoas ficarem em casa e vacinando massivamente a população. Já no Brasil o caminho é o contrário e, por isso, as mortes não podem mais ser consideradas apenas como consequência da pandemia, mas são também fruto direto da irresponsabilidade de Bolsonaro”.

Em que pese o quadro grave do país e as altas estatísticas de desaprovação do Governo, o ex-capitão continua a alimentar uma política de guerra e a inflamar a base social que lhe resta com declarações que buscam criar espaço para uma nova Ditadura Militar. Vivian Mendes, da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos acrescenta: “Bolsonaro quer esconder o desastre de seu governo por trás de um falso discurso antissistema, mas, na verdade, adota uma política econômica neoliberal combinada com uma agenda de privatizações, retirada de direitos, entrega dos recursos naturais e numerosos escândalos de corrupção. Bolsonaro governa para os banqueiros e os mais ricos do país, jogando o povo na pobreza e abandono. Prova disso é que o lucro dos bancos em 2020 foi de R$ 61,6 bilhões. Já o número de bilionários aumentou para 65 pessoas, que juntas possuem uma riqueza equivalente a R$ 1,2 trilhão, enquanto metade da população brasileira vive com menos de um salário-mínimo por mês”.

As organizações que chamam a manifestação ainda ressaltam que a queda do presidente e de seus aliados é necessária não apenas pelo que já fizeram até aqui em seus mais de dois anos de governo, mas pelo que significa a continuidade desse governo. Célia Medina, médica e membro do Coletivo Democracia Corinthiana, diz que: “A situação da pandemia que já está grave tende a piorar devido às ações e declarações indevidas de Bolsonaro. Já estão ocorrendo transmissões de novas cepas mais violentas em nosso país, cepas que geraram uma terceira onda em outras países; estamos na iminência de uma nova onda em um Brasil que já está em colapso sanitário, sem leitos, vacinas e medicamentos para intubação, sem contar a situação econômica e de fome se agravando, será uma tragédia. A manifestação é muito importante, é preciso aumentar o nível de participação nas ações de rua, pois nosso país, à exemplo de outros da América Latina, já está no momento de responder a toda essa situação”.

O chamado é para que o povo dê um basta na política criminosa responsável pela calamidade em que se encontra o país, derrubando o governo e construindo as bases para a construção de um Brasil que seja, de fato, comandado pelo povo. Amanda Bispo, do Movimento de Mulheres Olga Benário, resume o espírito da mobilização como: “A salvação para a mortandade do povo brasileiro diante da pandemia do coronavírus, a saída para a calamidade social do desemprego e da carestia, bem como a chance de obtermos vacinação em massa, exige o impeachment já. Como prova a história, nenhum governo cai sozinho, só o povo organizado e nas ruas derruba governos e transforma a realidade política e social. Estamos lutando pelo direito de viver, por vacinação em massa, por auxílio emergencial de um salário-mínimo durante a pandemia, pela restituição dos direitos, pelo fim das privatizações, pelo fim da corrupção, pelo congelamento dos preços dos alimentos, água, gás e energia e por aumento geral dos salários. A classe trabalhadora do Brasil irá derrubar o governo Bolsonaro”.