Leonardo Carvalho
SÃO PAULO – A Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Campinas realiza anualmente um processo de aferição das bolsas de estudo oferecidas a seus estudantes, aprovando ou não a continuidade das mesmas; tal processo exige a apresentação de uma extensa lista de documentos da/do bolsista e de sua família para comprovação de renda, algo que nacionalmente é exigido pelo Programa Universidade Para Todos (ProUni) apenas no momento da matrícula.
Mesmo durante a pandemia e com a aplicação das aulas remotas, o processo de aferição de bolsas continuou sendo realizado presencialmente. Não bastasse o absurdo de obrigar os estudantes a irem à Universidade para apresentar os documentos, a PUC-Campinas decidiu, em 2021, alterar o calendário do processo sem nenhuma justificativa e realizá-lo no 1° semestre, sendo que este sempre foi realizado no 2° semestre.
Trata-se de uma ação autoritária da gestão da Universidade, que tem o claro objetivo de dificultar a apresentação dos documentos e pode gerar a perda das bolsas de muitos estudantes. Esse não é o primeiro ataque à permanência estudantil por parte dessa gestão: em 2020 mais de mil estudantes se mobilizaram para cobrar a redução das mensalidades durante a pandemia, realizando abaixo-assinados, enviando e-mails e até mesmo um ato simbólico organizado pelo Movimento Correnteza, no entanto foram completamente ignorados; tratavam-se de estudantes trabalhadores que foram demitidos, tiveram contratos de trabalho suspensos ou carga horária reduzida e passaram a não ter condições de pagar suas mensalidades.
Ser trabalhador no Brasil é ser massacrado constantemente, em especial durante o Governo Bolsonaro, que abandonou o povo e lavou as mãos diante de uma pandemia que poderia ser controlada se a vida da população fosse prioridade. Para os estudantes trabalhadores o descaso fica ainda mais claro, pois o Estado, apesar de arrecadar cerca de 3 trilhões em impostos ao ano, não investe na formação dos estudantes; na verdade gasta quase metade desse dinheiro pagando uma dívida pública que só serve para enriquecer os banqueiros e a grande burguesia, enquanto o povo não tem nem mesmo a oportunidade de estudar.
É uma grande contradição uma instituição que se diz filantrópica, como é o caso da PUC, colocar a vida de seus estudantes em risco por puro capricho, realizando um processo que obriga as/os bolsistas a se deslocarem de cidade, irem à cartórios, bancos e outras instituições durante a pior fase da pandemia para poderem manter suas bolsas. Pior ainda é que esse ataque é dirigido aos estudantes pobres, aqueles que têm menos condições de se proteger da Covid-19 e que estão mais abandonados por um governo anti-povo como o de Bolsonaro.
A formação em um curso universitário apresenta muitos obstáculos quando se é pobre, porém todos esses degraus podem ser superados de maneira coletiva, com a organização e a luta para mudar a realidade injusta expressa dentro e fora das Universidades. Por isso o Movimento Correnteza e o coletivo de bolsistas da PUC-Campinas lutam para garantir que todos tenham direito à ingressar, permanecer e se formar e que o lucro não esteja acima dos direitos dos estudantes.