Karla Albuquerque, Matheus Gomes, Victoria Lopes e Alex D Black
SÃO PAULO – A lotação dos transportes públicos não é novidade para quem faz uso diário dos ônibus, trens e metrôs da região metropolitana de São Paulo, assim como a falta de infraestrutura e o alto preço das passagens. No entanto esse problema assumiu novas perspectivas com a chegada da pandemia do coronavírus, que impacta fortemente todas as áreas da sociedade, inclusive a mobilidade urbana.
A grande maioria das pessoas que utilizam o transporte coletivo regularmente é formada por trabalhadores e trabalhadoras das periferias, que não podem optar pelo isolamento social, tendo em vista que são obrigados a sair de suas casas todos os dias para ir ao trabalho. Por morarem distante dos grandes centros urbanos, esses trabalhadores enfrentam longos trajetos até seus postos de trabalho, permanecendo um longo tempo no transporte lotado e ficando, assim, mais vulneráveis à covid-19.
Márcio, trabalhador terceirizado de uma empresa de segurança que não interrompeu os serviços durante a pandemia, morador da Vila Eunice, em Jandira – SP, se indigna com a situação dos ônibus: “A questão da higiene nos ônibus não favorece você ter esse tipo de segurança. A higiene, as medidas básicas que a gente toma em casa… Aí você chega num corrimão que todo mundo pega, todo mundo passa diversas vezes… é inevitável. Eu sei que cada um tem que fazer sua parte, mas acredito que a empresa [responsável pelo transporte] poderia melhor se enquadrar em relação a isso.”
Márcio escancara como as empresas de transporte negligenciam a saúde e a vida dos passageiros ao deixarem de fornecer itens básicos de prevenção, como álcool em gel, e ao não realizarem a limpeza e higienização dos veículos, contando sempre com a anuência do poder público.
Somadas ao descaso das empresas estão as medidas adotadas pelos governantes, que ao invés de ajudar a deter o vírus ajudam a disseminá-lo: em março de 2020 os órgãos públicos de São Paulo decidiram pela redução da frota de trens e ônibus em até 35%, justificando queda no número de passageiros nos meses de março e, posteriormente, abril; todavia a diminuição do número de passageiros não ocorreu de maneira proporcional à redução da frota e, assim, as aglomerações nos ônibus e trens aumentaram.
Em depoimento ao jornal A Verdade, Dielma, moradora do Sagrado Coração, bairro de Jandira, declarou: “Nessa linha de ônibus, Sagrado Coração, eram dois ônibus, agora é só um. Então, tem muita gente… ele está sempre cheio”. E continua: “deveria ter mais transporte para que não tivesse tão cheio, não tivesse tanta gente.”
Outra medida que piorou a situação foi a restrição da circulação de veículos no município de São Paulo, com o estabelecimento do decreto nº 59.403, em maio de 2020, sob a justificativa do afrouxamento do isolamento social na capital paulista; sem poderem utilizar veículos individuais mas precisando sair de casa para trabalhar, ir ao mercado, ao médico, etc, mais pessoas passaram a utilizar o transporte público, aumentando a lotação. Foram prejudicadas em especial as pessoas que fazem tratamentos médicos e precisam ir constantemente à rede hospitalar, obrigadas a se expor no transporte coletivo mesmo tendo problemas de saúde prévios.
Trabalhadores enfrentam o vírus e o desemprego
De acordo com um levantamento feito pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) em dezembro de 2020, cerca de 45,9% das empresas do ramo de transportes rodoviários fecharam postos de trabalho no último ano e 20% delas preveem novos cortes em 2021. Trata-se da demissão em massa de trabalhadores que serão obrigados a enfrentar o desemprego, o vírus e a insegurança ao mesmo tempo, sem nem ao menos encontrar assistência do poder público para esse momento ou ter previsão de serem vacinados contra a doença.
Com um governo que defende os interesses das grandes empresas, inclusas as empresas de transporte, e ignora a necessidade dos trabalhadores, o povo vive hoje sem nenhuma garantia de sustento ou de manutenção de sua saúde, sendo obrigado a continuar se aglomerando nos transportes para manter rodando as máquinas de lucros da burguesia.
Dessa maneira, em uma sociedade que escolhe quem vive e quem morre em uma pandemia de acordo com a classe social das pessoas, é necessário que a classe trabalhadora se una para dar fim em tanta exploração e injustiça. Durante a pandemia a manutenção do trabalho presencial e a consequente lotação dos transportes, assim como a exploração dos trabalhadores essenciais do setor da mobilidade urbana, que têm trabalhado sem terem sido vacinados e muitas vezes são demitidos mesmo com as empresas lucrando muito, são exemplos de como, no capitalismo, a classe trabalhadora é sempre desvalorizada e explorada até sua última gota de suor.