Gabriela Lisboa
SÃO PAULO – Há muitas discussões, criticas e apontamentos sobre a super exploração e precarização do trabalho dos motoristas por aplicativos ou entregadores, como da Rappi, iFood e do Uber Eats, todos serviços que foram criados a partir de 2009. Esses serviços são recentes, com menos de doze anos de atuação no mercado e com atuação majoritária de homens; porém há outros trabalhos, majoritariamente executados por mulheres, que não geram tanta repercussão mas que há muito tempo promovem a super exploração das trabalhadoras, como a revenda por catálogo de empresas como Avon, Natura, Boticário, etc.
A relação que essas revendedoras têm com as empresas carece de qualquer vínculo empregatício formal, não havendo acesso à direitos trabalhistas, seguridade social, contribuição previdenciária ou até mesmo salário: é oferecido apenas o pagamento de comissão através da venda de produtos. Milhares de mulheres vêm trabalhando e sendo exploradas por essas empresas desde a década de 1970.
Geralmente as revendedoras trabalham para complementar suas rendas, mas muitas vezes, em especial nos momentos de crise, sobrevivem exclusivamente desse tipo de trabalho. A verdade entrevistou duas revendedoras, que retrataram a luta pelo sustento de suas famílias.
Luana Talita Seola, de 37 anos, moradora do bairro de São Mateus, São Paulo, além de revendedora é professora de Artes. Tornou-se revendedora das revistas Natura e Tupperware há três anos e realiza suas vendas através da entrega dos catálogos, porém, durante a pandemia, tem realizado apenas atendimentos digitais pelo celular.
Luana relata que buscou esse tipo de trabalho para complementar a renda e que ganha cerca de R$500,00 por mês, contando o valor necessário para repor o estoque de produtos. Para ela, o trabalho registrado é muito melhor, mas as mulheres procuram trabalhar como revendedoras pela dificuldade encontrada ao procurar um emprego fixo. Diz ainda que as empresas não ajudam as trabalhadoras, em especial durante a pandemia.
Elisangela B. Silva, mora em Guarulhos com seu esposo e duas filhas e trabalha como revendedora há mais de quinze anos para as revistas Tupperware, Avon, Natura, Demillus, Boticário, Abelha Rainha e Amway. Com a pandemia, Elisangela se esforça para continuar trabalhando e, ao mesmo tempo, manter os protocolos de saúde.
A trabalhadora relata que entrou nesse ramo para poder passar mais tempo com as filhas. No entanto conta que durante o período em que esteve doente, não recebeu qualquer auxílio da empresa e ficou sem renda; durante a pandemia, além da falta de assistência, as empresas têm cobrado da revendedora juros e multas devido ao atraso de pagamento de clientes, que não estão conseguindo arcar com seus compromissos.
Para as empresas esse modelo de trabalho só tem benefícios: cobram taxas de cadastro das trabalhadoras, não pagam salários ou impostos, não mantém lojas físicas e assim diminuem sua necessidade de investimento e, ainda por cima, muitas vezes forçam as revendedoras a comprarem produtos que não têm mais saída, passando para as trabalhadoras o prejuízo que deveria ser dos patrões.
Já para as trabalhadoras trata-se de uma relação de trabalho extremamente injusta: a exploração e precarização do trabalho é gritante, enquanto os patrões vendem a ilusão de ser um trabalho flexível, “sem patrão”, etc.
Quem ganha com tudo isso? As mulheres? Sem dúvidas não, quem acaba lucrando e se beneficiando com esse modelo de trabalho são apenas as grandes corporações.