Cauã Roca Antunes* e Raiê Roca Antunes**
RIO GRANDE DO SUL – Desde 16 de setembro de 2020, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul está sob intervenção do governo fascista de Jair Messias Bolsonaro. Nas eleições para reitoria, que ainda seguem um modelo atrasado e antidemocrático onde o voto de um único professor conta mais do que o de 60 estudantes, o professor Carlos André Bulhões Mendes ficou em último lugar. Bulhões recebeu apenas 11,8% dos votos na consulta, sendo rejeitado amplamente por estudantes, professores e técnicos. Ainda assim, Bulhões foi nomeado pelo genocida Bolsonaro em um ato de autoritarismo. Nos dez meses de intervenção, Bulhões se mostrou um braço da política fascista e autoritária do governo Bolsonaro dentro da UFRGS.
Desde que assumiu, a gestão interventora tem agido de maneira anticientífica em relação ao combate da pandemia, realizando reuniões presenciais sem nenhum cuidado e posando para fotos sem máscara, além de insistir na realização da aplicação de um vestibular presencial no auge da pandemia, medida que foi barrada pela comunidade acadêmica. Além disso, a reitoria de Bulhões expulsou mais de 190 estudantes cotistas da universidade, impediu o acesso dos pós-graduandos a qualquer forma de assistência estudantil e à vacinação, desmontou órgãos como a Secretaria de Relações Internacionais e efetuou diversas modificações na estrutura da UFRGS. Dentre as modificações, estão a fusão da Pró-reitoria de Graduação com a de Pós-Graduação, assim como da Pró-reitoria de Pesquisa com a de Extensão. Como resultado do caos administrativo criado, a UFRGS foi uma das últimas universidades a definir um método de ingresso e um calendário letivo para o ano de 2021, deixando dezenas de milhares de estudantes sem tempo de planejar seus estudos
Essa reestruturação foi feita de forma autoritária e irregular, sem consultar a comunidade acadêmica nem o Conselho Universitário (CONSUN) e desrespeitando o estatuto e o regimento da UFRGS. Em resposta o CONSUN, órgão máximo da universidade, emitiu uma resolução em 12 de março, anulando a reestruturação feita pelo interventor. Essa resolução também foi desrespeitada, levando o Conselho a eleger uma comissão especial para analisar as ações de Carlos Bulhões e propor medidas.
Após debater profundamente, a comissão emitiu um parecer (Nº 080/2021) caracterizando a irregularidade das ações do interventor e recomendando ao CONSUN uma série de encaminhamentos, sendo os principais a denúncia junto ao Ministério Público Federal, a requisição de abertura de um Processo Administrativo Disciplinar ao Ministério da Educação e o debate no Conselho da proposição de destituição do reitor interventor.
Na semana em que o Parecer 080 entrou em pauta, Carlos Bulhões voltou atrás em parte das alterações estruturais que ele havia efetuado, mantendo, no entanto, a Pró-reitoria de Inovação e Relações Institucionais, criada para ser o bastião da política bolsonarista na UFRGS. Logo se vê que a atitude de Bulhões foi uma manobra dissimulada para buscar enfraquecer o parecer da comissão. Além disso, um dos aliados de Bulhões e da política bolsonarista realizou um pedido de vistas sobre o Parecer 080, impedindo que ele fosse lido e aprovado naquela ocasião.
Nesta sexta-feira, dia 30 de julho, há uma nova oportunidade do CONSUN debater e aprovar o Parecer 080 e dar o próximo passo em direção à destituição desse interventor. O Movimento Correnteza, que desde o início dessa gestão esteve mobilizando os estudantes contra a intervenção, já está organizando também uma manifestação para este dia. Não temos ilusão de que essa reitoria interventora representa qualquer coisa para nossa universidade além da precarização do ensino, da exclusão dos estudantes de baixa renda e do corte da assistência estudantil. Viva a luta dos estudantes contra a intervenção bolsonarista!
*Associação de Pós-graduandos (APG-UFRGS)
**Diretório Central do Estudantes (DCE-UFRGS)
Ambos militantes do Movimento Correnteza