Gabriela Almeida
SÃO PAULO – Essa é a pergunta levantada logo no início do documentário “O dilema das redes”, produzido pela provedora de séries e filmes, Netflix. O documentário reúne relatos de ex-funcionários de grandes empresas de tecnologia como Google e Facebook a respeito do poder de influência dessas empresas em cada indivíduo que utilizam de seus produtos.
A discussão gira em torno de como a tecnologia deixou de ser uma ferramenta manuseável para se tornar um instrumento de manipulação em massa, em que cada algoritmo utilizado nas mais populares redes sociais, como o Facebook, foi estruturado de maneira a prever toda ação do usuário, traçar seus gostos e adaptar o conteúdo mostrado em tela de maneira que seu uso se torne cada vez mais viciante, tudo isso estruturado com base no levantamento de dados de cada um que faz uso das redes.
Durante o documentário, temos a presença de Tristan Harris, ex-designer ético da Google, relatando que escreveu um manifesto denunciando a forma como a empresa agia uma vez que é responsável por impactar a vida de dois bilhões de pessoas que têm seus pensamentos influenciados pelo uso incessante de aplicativos cuidadosamente construídos para mantê-las viciadas. O texto foi inicialmente enviado para 20 amigos de Tristan, mas ao final toda empresa teve acesso e inclusive concordou com ele. Para no fim, não haver mudança alguma. Não nos enganemos, é evidente que um texto na caixa de e-mail não mudará as ações de quem lucra, mais do que nações inteiras, com nossas informações.
Duas das empresas mais ricas do mundo, Google e Facebook, possuem relativamente poucos funcionários se pensarmos na quantidade de lucro que geram. Como poderia uma plataforma de pesquisa e a outra de relacionamento lucrar tanto? Pelo que são pagas?
Essas empresas são grandes comercializadoras de nossas informações, são pagas pela venda de dados dos usuários. Não é à toa que as redes sociais são extremamente viciantes, quanto mais tempo utilizando-as, maior o levantamento de informações extraídas e consequentemente mais certeiro será as previsões de comportamento de cada usuário, são essas previsões que são vendidas a preços inimagináveis.
Os algoritmos utilizados pelas plataformas estão cada vez mais precisos, cada vez mais o poder de manipulação sobre o usuário aumenta, consequentemente, o poder de convencimento. Não por menos, as redes sociais desempenharam um papel importantíssimo nas eleições presidenciais dos EUA e Brasil em 2016 e 2018, respectivamente, espalhando uma série de notícias falsas e utilizando do sintoma de pós-verdade que favoreciam aqueles que se tornaram presidentes mais tarde.
Não é de agora que entramos em disputa com a ideologia burguesa. Vivemos em uma sociedade capitalista, em que os padrões de comportamento e pensamento são formados com base na ideologia da classe dominante. Mas vivemos em uma fase em que essa ideologia é ainda mais difundida em nosso dia a dia, o poder de controle da massa encontra-se muito mais palpável nas mãos dos grandes capitalistas por meio da manipulação dos usuários nas redes. Por isso, o questionamento que devemos levantar não é “o que há de errado com a indústria tecnológica?” mas sim “o que há de errado com o sistema capitalista?”.
A todos nós que nos opomos a esse sistema e seus métodos vorazes para obtenção de lucro, cabe repensar a forma como nos portamos nas redes sociais, de maneira a nos desvencilharmos de comportamentos liberais e assumir uma postura cada vez mais vigilante.
Não se propõe aqui o abandono das redes, mas seu uso consciente e vinculado a propaganda dos verdadeiros ideais de libertação do povo, os ideais revolucionários. Ressaltando que a solução para acabar com a manipulação das massas está longe de ser uma mera regulamentação para empresas, como colocado no documentário, mas sim a ampliação da consciência revolucionária em cada frente de atuação em que estamos presentes hoje.