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terça-feira, 3 de dezembro de 2024

“A Revolução virá dos favelados” – entrevista com a Poeta Rebelião

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 Poeta Rebelião, militante da UJR, ganhou a primeira colocação do slam do Real

 Karla Albuquerque


Desde o começo do ano de 2021 os slams vêm realizando edições para selecionar o representante da copa das favelas. A poeta rebelião, militante da UJR, cria da zona leste de São Paulo, e moradora da ocupação do MLB, no dia 28 de agosto ganhou a primeira colocação do slam do Real, agora ela irá competir estadualmente na copa das favelas com a sua poesia revolucionária. 

Como você começou a fazer poesia?

“Tinha uma frase assim na minha quebrada que a Revolução virá dos favelados e aí todo dia que eu ia para a escola eu sempre via está frase e aí era um momento muito difícil assim, meu pai tinha perdido o emprego e estava uma situação bem difícil lá em casa, e ai vendo toda a situação que a gente estava vivendo eu sempre pensava ” mano se todo mundo tivesse a mesma condição não ia ter mais esta questão né!” E sempre via muita coisa de Revolução assim, e a Revolução virá da favela me caiu muito porque de fato quem vai fazer Revolução é quem tá na pior e aí eu fazendo uma oficina de versos que foi em 2017 comecei a colocar que a Revolução virá da favela e deu uma poesia muito boa e apresentei em um sarau que teve lá na escola e lá em 2018 depois de 2 anos eu voltei a escrever por causa da conjuntura do Bolsonaro e depois não parei de escrever mais.”

O que te inspira a compor ?

“O que me inspira a escrever poesia é a realidade que eu vivo, eu construo alguns movimentos sociais como a União da Juventude Rebelião (UJR) e o Movimento de Luta nos Bairros Vilas e Favelas (MLB) e durante este período da pandemia, mas desde quando me organizei, no começo de 2019, sempre entendi e senti na pele, como é ser uma jovem periférica e ver também que eu não estou sozinha, a realidade do nosso povo é muito dura. É muito duro você colar no extremo da ZL de São Paulo e ver o quanto de gente lá no Itaim tá morando perto do rio Tietê porque não tem condições de morar dignamente, não tem condições de viver dignamente assim… porque é muito escancarado a fome, falta de oportunidade, de moradia, todas as mazelas que são colocadas para a nossa juventude, para o nosso povo. porque a gente vive neste sistema e isso é um dos negócios que me inspira muito a escrever porque eu sei que também por um lado existe todas estas questões mas também existe uma saída, que é a gente se organizar, construir outro tipo de sistema que coloque a nossa vida como prioridade e não o lucro das empresas. Então isso também me inspira a compor.”

O que representa a cultura marginal para você?

“Acho que é difícil definir um ponto específico, mas um dos pontos  centrais que define a cultura marginal é representar o que hoje o nosso povo tem passado, poder dizer nas letras que a gente está vivendo e também propor uma organização, que a gente tem e pode ter uma saída, acho que estes é um dos pontos, mas a esperança da gente, porque é isso hoje a gente tem nossas crianças, jovens periféricos, que fazem slam marginalizados e se não fosse a poesia, o papel e a caneta, com certeza mais jovens estariam na mão do tráfico e por isso é tão importante também a poesia, a poesia de quebrada, lembrar como os slams foram criados porque na década de 70 se não me engano, os slams foram criados porque as pessoas, os academicistas  olhavam a poesia de uma forma que não era para nós, para nos falar da nossa realidade e os slams inclusive foram criados nesta época para a gente conseguir tirar o foco da universidade e a gente poder criar poesia, a quebrada conseguir produzir.”

O que significa para você estar competindo na edição deste ano da copa das favelas?

“É um ganho muito importante para mim, não só para mim, mas para os movimentos que eu faço parte porque é a cultura revolucionária que vai está neste espaço também para disputar as pessoas e para conscientizar, para dizer que nós estamos vivendo mal e para lembrar também a nossa essência dos slams que nós temos  que falar da realidade do nosso povo, nós temos que nos organizar e também  se propor a resolver os nossos problemas e os nossos problemas só vão ser resolvidos quando a gente acabar com este sistema e por isso também que eu faço poesia né! Para conscientizar o nosso povo que temos uma saída, porque para estes  dirigentes nós somos uma massa de manobra, mas para a nossa classe quando a gente constrói uma ocupação, quando a gente constrói uma poesia revolucionária, a gente inspira a molecada que de fato a gente vai conseguir sair deste sistema e conseguir viver, ter dignidade que é uma coisa que infelizmente aqui a gente não vai ter.”

A arte revolucionária serve para conscientizar e organizar o nosso povo para a construção de uma nova sociedade. Devemos valorizar a nossa cultura popular, incentivando a nossa militância, assim como os nossos jovens a ocupar esses espaços. A arte é uma ferramenta para a construção de um novo mundo. 

Ousar e valorizar a nossa cultura popular!

 

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