Cinedebate sobre filme Marighella em São Pedro da Aldeia (RJ)

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MEMÓRIA. Movimentos prestam homenagem a Marighella (Foto: JAV/Rio)

Na última sexta-feira (19), foi realizada a exibição do filme Marighella, obra de estreia do ator Wagner Moura como diretor. O evento aconteceu no cinema municipal e foi promovido pelo Movimento Negro Perifa Zumbi em parceria com a União da Juventude Rebelião, além de contar com a presença de militantes de outros movimentos sociais e moradores da Região dos Lagos.

Alessandro Damasceno e Fabricio Mendes
Região dos Lagos


CULTURA – Na presença de cerca de 30 participantes, a exibição do filme na cidade de São Pedro da Aldeia (RJ) foi uma das atividades previstas pelo Movimento Negro Perifa Zumbi para o mês de novembro. A escolha do filme deu-se por dois motivos principais: o primeiro deles a celebração do Dia Nacional da Consciência Negra (20), data em que é celebrada a memória de Zumbi e Dandara dos Palmares, símbolos da luta contra o sistema escravista no Brasil colonial, e, em segundo lugar, é que nesse mesmo mês, no dia 4 de novembro de 1969, Marighella foi assassinado por agentes do DOPS durante uma emboscada, portanto, em homenagem, aos 52 anos de sua imortalidade.

O filme deveria ter sido lançado nos cinemas brasileiros em 2019, no entanto, sofreu uma série de entraves postos pela Agência Nacional de Cinema (ANCINE) para impedir seu lançamento. Wagner Moura considerou que foi vítima de censura, conforme declarações noticiadas em entrevistas a canais abertos de televisão. A obra, que foi lançada nacionalmente em 4 de novembro, até o momento não contava com data de exibição nas salas de cinema em nenhuma cidade da Região dos Lagos, além do evento.

Fomentar a cultura nacional 

Em São Pedro da Aldeia, município em que o cinedebate foi organizado, aproximadamente 80% dos votos válidos nas últimas eleições foram para o fascista Bolsonaro. Esta foi a segunda cidade do Estado que mais votou no então candidato. Atualmente, a gestão municipal desastrosa do prefeito Fábio do Pastel (Podemos) corta direitos relacionados ao vale transporte dos servidores municipais para beneficiar a empresa de ônibus da Região dos Lagos, que oferece serviços precários aos seus usuários.

Ocupar o cinema da cidade e fazer o debate crítico do filme pelos movimentos sociais foi mais uma das atividades de luta na Região dos Lagos. O estímulo à cultura fora dos grandes centros urbanos é uma tarefa importante para interiorizar as lutas contra o fascismo, e a realização do evento garantiu as condições objetivas para tanto, ao levar o filme onde os cinemas que visam o lucro não tiveram sequer o interesse em exibi-lo nas suas salas.

A respeito da proposta do debate após o filme, pudemos contar com algumas falas, todas muito enriquecedoras. Havia um companheiro de 86 anos de idade presente, acompanhado de sua esposa, que relatou que ele próprio esteve em um evento com a presença de Leonel Brizola e Carlos Marighella, na década de 1960, e confirmou muitos fatos sobre o período da ditadura militar no Brasil. Também foram feitas falas no sentido de aproximação dos fatos históricos em memória dos companheiros retratados por meio de analogias pela obra de ficção do filme. Na realidade, estes personagens heróicos foram e são militantes muito combativos, pois alguns são vivos até os dias de hoje.

Foram abordados os temas comuns do filme como as noções de liberdade, patriotismo, violência e a noção de “terrorismo” propagada pela ditadura militar fascista e que são abordados politicamente no país atualmente. Esses temas são de fundamental importância pedagógica e revolucionária. Nesse sentido, podemos tomar como o exemplo de que os comunistas revolucionários não idealizam a violência, mas que também não podem ignorar os fatos, pois o único meio de ação conhecido pelos fascistas é a violência sob a qual não devemos nos render, mas sim combater.

Viva a imortalidade do guerrilheiro e revolucionário Carlos Marighella!