O futebol como forma de resistência racial, social e política

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FUTEBOL E RESITÊNCIA. Time do Vasco em 1923, os “Camisas Negras” (Imagem: Acervo CRVG)

O futebol é um esporte amado em todo o mundo. Sua importância vai muito além das quatro linhas. 

Mauricio Mateus
Rio de Janeiro


ESPORTE – Historicamente, o futebol foi fundamental na luta e visibilidade de diversas pautas  renegadas e negligenciadas pelas elites, como o racismo, preconceito social e até contra governos ditatoriais. Jogadores como Arthur Friedenreich, Moacir Barbosa e Sócrates, foram fundamentais para aplicar visibilidade ao negro no futebol brasileiro e resistir a essas imposições burguesas. 

Muitos clubes também foram de extrema importância para a resistência e luta antirracista no século 20. Exemplo disso foi o Clube de Regatas Vasco da  Gama, que foi campeão em 1923 do Campeonato Carioca com um elenco cheio de jogadores negros, mestiços e operários, o que era proibido na época por muitos outros clubes. 

Posteriormente, em 1924, o Vasco publicou a carta conhecida como “A resposta histórica”, onde declarava ser  contra as exigências dos demais clubes e da burguesia brasileira, que exigiam a retirada dos negros do time.  

No período das ditaduras na América do Sul, o esporte foi protagonista de diversos momentos de resistência aos regimes ditatoriais. Na ditadura militar no Brasil (1964-1985), houve a  tentativa de apropriação do esporte pelos fascistas no poder. Um  dos exemplos foi o tão famoso embate entre o técnico da seleção brasileira João  Saldanha e o ditador Emílio Garrastazu Médici, que tentou interferir na seleção e foi rechaçado pelo técnico da equipe canarinho. Saldanha foi retirado do comando da seleção um pouco antes da Copa de 70.

No fim do século 20 e início do século 21, com a crescente comercialização e  mercantilização do esporte, o caráter contestatório de clubes e atletas diminuiu. Durante a Copa América 2021, a seleção ensaiou dar uma resposta histórica à negligência na administração do país durante a pandemia da covid-19, mas recuou.

Hoje, nosso país carece de jogadores que  possuam certo engajamento nas lutas progressistas. O futebol é um fator não apenas de lazer, como também tem um grande valor social e histórico. E, se conduzido pelas vertentes certas, pode tornar-se um instrumento de mobilização e conscientização popular. 

Referências Bibliográficas:  

GALEANO, Eduardo. Futebol ao sol e à sombra. Porto Alegre: LP&M, 2004.

MALAIA, João; FORTES, Rafael. ‘Brasil-grande, estádios gigantescos’: toponímia dos  estádios públicos da ditadura civil-militar brasileira e os discursos de reconciliação, 1964- 1985. Revista Tempo, Niterói,Vol. 27, n. 1, p. 165 – 183, Jan/Abr. 2021.  

Disponível em: https://www.scielo.br/j/tem/a/dxyZ4FpZVhkw6KB6sb7K4Tn/. Acesso  em: 27/10/2021.