Nana Sanches*
OPINIÃO – Quem vive no Rio Grande do Sul está enfrentando temperaturas extremas. Neste domingo (22/02/22), completam-se 12 dias com temperaturas superiores a 40ºC em diversas cidades. A este fenômeno chamamos de ondas de calor, resultado de uma combinação de fatores naturais a ações antrópicas, em especial o aumento da temperatura média global decorrente do lançamento de dióxido de carbono (CO2) e outros gases do efeito estufa na atmosfera.
As ondas de calor são caracterizadas por alturas extremas em períodos prolongados que causam diversos danos à saúde de pessoas e animais.
Embora seja um evento climático presente na história, a intensificação das ondas de calor tem feito com que a pauta ambiental volte a ser debatida com maior afinco pela sociedade. Porém, poucas reportagens e estudos referentes ao tema abordam o modo de produção capitalista como causa para as mudanças climáticas. Consequentemente, poucos estudos apontam como necessidade a mudança do modo de produção atual para frear as mudanças climáticas. De fato, a maioria das campanhas que vemos são voltadas a mudanças cotidianas individuais, retirando a responsabilidade das regras inerentes ao sistema de produção capitalista.
Também pudera, as ondas de calor trazem consequências para os mais pobres, crianças e idosos, e para os animais, todos supérfluos quando se trata de lucro para a burguesia e continuidade do capitalismo.
Em sua tese de doutorado lançada em 2017, o professor da Universidade Federal de Goiás Paulo Henrique Cirino Araújo analisou dados climáticos de 2008 a 2013 das 27 capitais brasileiras. O estudo apontou que durante os episódios de ondas de calor as mortes de crianças de até 5 anos aumentaram de 24% a 30% em Mato Grosso, São Paulo, Goiás e Tocantins, exatamente as cidades que apresentaram ondas de calor mais severas no período analisado. Destas crianças, 75% viviam em domicílios pobres As mortes decorrentes das ondas de calor estão relacionadas ao aumento de infecções, doenças parasitárias, cardíacas, respiratórias, além de danos nos rins, pâncreas e cérebro, para citar as principais causas.
Diante deste cenário, diversos desafios se apresentam para a esquerda no mundo. Elaborar planos populares com medidas locais é um dos passos para a preservação da vida na Terra e devem ser encorajados e organizados por todos os militantes de nosso Partido, através de um processo educativo e consciente sobre o meio ambiente e de lutas consequentes pelo abastecimento de água potável, tratamento de esgoto, coleta de lixo e a implementação de medidas de prevenção a enchentes e desabamentos, entre outros.
Contudo, o ativismo apresenta limitações. Enquanto milhões de litros de água forem poluídos a cada minuto pelas grandes indústrias, teremos muita dificuldade de reverter o quadro climático atual global. Uma mudança que gere, de fato, a curto, médio e longo prazo, a melhoria da condição da vida da grande maioria da população mundial passa por um processo revolucionário que retire o poder das grandes decisões socioeconômicas e ambientais das mãos da burguesia que já aponta a “solução” para os problemas climáticos, com a mudança das matrizes energéticas das indústrias e transportes e empurram aos mais inocentes a possibilidade de construir um capitalismo verde, “sustentável”.
Na anarquia da produção capitalista, a única sustentabilidade que se mantém é a do banquete servido à burguesia todas as noites, enquanto literalmente morremos de calor.
*Professora de Geografia e Coordenadora Nacional do Movimento de Mulheres Olga Benario