Inicialmente, o Sindicato das empresas de Transportes de Pernambuco propôs um aumento de 22,67% no valor das passagens de ônibus no Grande Recife. Dessa forma, o anel A, que custa R$3,75 passaria a custar R$4,60 e o anel B, de R$5,10 para R$6,25. Porém, após pressão dos movimentos populares, foi proposto um novo aumento de quase 10%, que, em suma, ainda irá prejudicar a nossa população.
Anderson Cordeiro, UJR e Movimento Correnteza em Recife – PE.
Luta Popular – Em Recife (PE), o ano de 2022 não se iniciou com propostas de políticas públicas para melhorar a qualidade de vida da população que vive na Região Metropolitana do Recife (RMR), que têm sido prejudicadas pelas crises sanitária e económica: com a pandemia do Covid-19 e pela má gestão dos políticos da cidade e do Estado. Tampouco, o governador Paulo Câmara (PSB) e o prefeito João Campos (PSB) propuseram discutir com o Grande Recife, a acessibilidade, melhoria do transporte público ou das paradas. Em vez disso, o que se discute é o encarecimento das passagens de ônibus, mas a que custo?
Inicialmente, o Sindicato das empresas de Transportes de Pernambuco propôs um aumento de 22,67% no valor das passagens de ônibus no Grande Recife. Dessa forma, o anel A, que custa R$3,75 passaria a custar R$4,60 e o anel B, de R$5,10 para R$6,25. Porém, após pressão dos movimentos populares, foi proposto um novo aumento de quase 10%, que, em suma, ainda irá prejudicar a nossa população.
Apesar de no artigo 5º, a Constituição Federal de 1988 garantir o direito formal de ir e vir, este não se efetiva na prática, quando o aumento das passagens de ônibus no Recife restringem o uso do transporte àqueles que o necessitam – como único meio – para ter acesso à cidade. Com o aumento dessas passagens, a juventude, trabalhadores e estudantes serão os principais afetados. No caso dos estudantes que têm o direito ao Vem Estudante, o qual garante o pagamento de meia passagem, a realidade é que muitos ainda têm a sua permanência estudantil ameaçada devido ao valor que já é caro.
A juventude periférica da RMR, por exemplo, que precisam dos ônibus para frequentar os espaços culturais que, geralmente, estão localizados no centro da cidade, como o Recife Antigo, shoppings, cinemas, museus, etc., terão ainda mais dificuldades para consumir a cultura local e para ter direito ao lazer. É evidente, também, a insatisfação popular com a qualidade dos ônibus, pois são precários. Há pouca disponibilidade de assentos para a quantidade de passageiros e, para piorar, desconfortáveis, mal ventilados e com nenhuma segurança, dado os casos de assédios, furtos e roubos. Além disso, são bastante demorados.
Mas não acaba aí! Colocando o lucro acima da vida, os políticos e empresários, em conluio com o governo Bolsonaro e os banqueiros, não permitiram sequer a possibilidade de quarentena aos trabalhadores e muitos, inclusive, não pararam de trabalhar desde o início da pandemia, gerando superlotação em horários de pico, o que, segundo órgãos pesquisa, os transportes públicos são um dos locais mais propícios de contaminação do Covid-19 (1).
Mas toda essa discussão, ao que podemos notar, não conta com a participação dos representantes e lideranças dos bairros populares, pois é a classe trabalhadora que mais necessita do transporte público. Assim, esquecendo – ou melhor, ignorando – a condição da maioria da população da cidade, esses políticos e empresários querem responsabilizar-nos pela sua péssima administração.
Mas diante de todas essas problemáticas, a desculpa de quem quer atacar mais um direito dos recifenses, nesse caso, o de “ir e vir” é dizer que o preço dos combustíveis estão caros. Mas por qual motivo devemos arcar com as contas de quem é responsável pela péssima administração do país?
Ora, devemos ter em mente que, no Recife, o transporte público é administrado por 14 empresas privadas, as quais foram responsáveis pela demissão em massa dos cobradores, sobrecarregando os motoristas com dupla função, com salários e benefícios sem reajuste real e sem redefinição da jornada semanal, ainda com 48h. Ademais, estes foram uma das categorias de trabalhadores mais afetadas pelas mortes do Covid-19(2).
São os empresários e os políticos ricos que querem aumentar as passagens dos transportes, pois possuem carros, inclusive de luxo e distantes da realidade da maioria dos recifenses e, por isso, não necessitam do transporte público para “ir e vir”. É inadmissível, portanto, que o transporte público seja encarecido, os quais possuem qualidade precária, com a população recebendo um salário de fome, com recordes de desigualdade social, com o país no mapa da fome e com uma grande quantidade de desempregados.
A passagem é discutida por aqueles que, no alto de seus apartamentos de luxo e tomando champanhe, ignoram as condições precárias de vida a que estamos submetidos para realizar políticas que beneficiam, historicamente, os ricos do nosso país. Por isso, não podemos aceitar os aumentos das passagens, pois é “roubo”.
É nesse sentido que os movimentos sociais, sindicatos, coletivos e organizações de Recife organizaram o CUTLP: Comitê Unificado em defesa do Transporte Público, o qual convida todas as pessoas insatisfeitas e revoltadas para lutarmos contra o roubo que é o aumento absurdo das passagens de ônibus.
Notas
(1) Segundo um estudo realizado pela Sociedade Brasileira de Controle de Contaminação (SBCC), a pedido da CNN, os transportes públicos são classificados como vilões de disseminação do vírus sobre esse assunto ver: https://www.cnnbrasil.com.br/saude/transporte-publico-e-o-vilao-para-transmissao-da-omicron-afirma-sbcc/
(2) Junto às profissões de domésticas, caixas e frentistas, os motoristas e cobradores eram um dos principais profissionais que mais morriam por Covid-19 em 2020-2021. Sobre esse assunto, ver: https://www.redebrasilatual.com.br/trabalho/2021/04/frentistas-caixas-motoristas-profissoes-mais-matam-pandemia/