Chuvas na Bahia são consequência da exploração capitalista

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Lúcio Apoena, Salvador-BA

Verões mais quentes que o comum, incêndios florestais mais frequentes, derretimento do gelo ártico, chuvas acima da média na Bahia e Minas Gerais. Todos esses são exemplos de eventos extremos, possuindo entre suas possíveis causas: o aquecimento global causado pela indústria, pecuária e agricultura. Porém, quem sente as consequências disso é a classe trabalhadora. Como resultado, 27 pessoas morreram e 31 mil ficaram desalojados na Bahia, enquanto em Minas Gerais foram 138 cidades mineiras em situação de emergência.

O sul da Bahia e o norte de Minas Gerais possuem características semelhantes, seja culturais, climáticas, de solo e passam por tragédias parecidas, tendo suas terras exploradas ao máximo pela produção de eucalipto; rios e barragens sendo destruídos pela burguesia; a mata ciliar – que faz com que as águas dos rios não sofram assoreamento, arrasadas pela pecuária e agricultura; além do fato dos eventos La Niña e El Niño terem se chocado.

A Noruega faz parte de um conjunto de países social-democratas, que vendem o ideal de convivência pacifica entre a burguesia e a classe trabalhadora, onde o proletariado possui acesso, ainda que limitado, à saúde, educação e segurança. Porém, no capitalismo, tal ideal só conseguiu existir com a exploração do chamado terceiro mundo. São empresas norueguesas responsáveis pela extração da celulose, a partir das árvores de eucalipto.

O plantio se confunde com a floresta nativa, mata a diversidade das mesmas e gasta 30 mil litros de água por dia. Em alguns casos, plantações são abandonadas antes mesmos da retirada da celulose, deixando a terra improdutiva, por conta da erosão do solo. Por isso, são chamadas de deserto verde. As ditas florestas plantadas são um exemplo de como a monocultura tem destruído as terras brasileiras. Afinal, o agronegócio extrai ao máximo das riquezas naturais, sem retorno algum para a população rural.

Existem dois rios que atravessam Minas Gerais e Bahia: Jequitinhonha e Rio São Francisco. Ambos estão em colapso, por motivos parecidos: as barragens para geração de energia elétrica. Apesar de ser uma energia considerada limpa, destrói a fauna e a flora dos rios, os esvazia, por utilizarem de seus recursos ao máximo. Somente no Rio São Francisco, há cinco barragens para a produção de energia (Três Marias, Sobradinho, Itaparica, Paulo Afonso e Xingó), sendo que resta apenas 4% da vegetação original das margens do São Francisco. Além disso, o rio está infestado pelo mexilhão dourado, espécie exótica, responsável pela perda de biodiversidade.

Segundo a ANA, Agência Nacional de Águas, 45% da população brasileira não dispõe de soluções de esgoto, 70% das cidades não tem estação de tratamento, correspondendo em números de população, a 100 milhões de brasileiros. Chegamos a uma das principais populações afetadas pelas fortes chuvas: a ribeirinha. Tal contingente sofre de habitações precárias, sonham com as promessas governamentais de que um dia conseguirão uma casa em locais longe do risco de desabamentos e enchentes.

Apesar do Código Florestal, afirmar que em faixas marginais, consideradas Áreas de Preservação Permanente (APPs), as construções devem estar a, no mínimo, 30 metros do leito, nem sempre isso acontece. Essa situação é causada pela falta de planejamento urbano. Temos uma grande população mas a população relativa é de 22.4 habitantes por quilômetro quadrado, significando centenas de cidades com até mil habitantes, e uma minoria de municípios com mais de 500 mil moradores.

Contudo, não é só a falta de tratamento de esgoto, que faz com que nossos rios sejam poluídos, é também a destruição das matas ciliares, pois, estas evitam ou diminuem a chegada de resíduos tóxicos aos rios. Além disso, evitam que suas cheias inundem
casas, estabelecimentos comerciais, visto que, o curso das águas vai até as matas do entorno. A remoção das matas acontece pela pecuária e a agricultura. A primeira pois a pastagem úmida favorece o gado em tempos de seca, já a segunda, por conta da monocultura e o uso desenfreado de terras.

Sendo assim, chegamos ao ponto central, que deve ser pauta de toda esquerda revolucionária: a distribuição de terras e moradia, só possuindo enquanto solução a reforma agrária e urbana. As duas devem acontecer por meio da aliança operário-camponesa, afinal, as duas classes dependem uma da outra para sobreviver, ou como diz a velha palavra de ordem: Se o campo não planta, a cidade não janta. Devemos ir além dos jornais burgueses que atribuíram os motivos para tais enchentes apenas nos fenômenos naturais El Niño e La Niña, mas também apontar a classe e o sistema causador de tal desordem.