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domingo, 6 de outubro de 2024

Contra toda forma de opressão: Ebó coletivo é realizado em Salvador

Ebó Coletivo em Salvador representa um ato de resistência cultural

Alexandre Nascimento e Tassio Silva, Salvador-BA

Alfazema. Pipoca. Sons de atabaque e agogô. Quem passou na Praça São Tomé, em frente à Câmara Municipal de Salvador, no dia 15 de fevereiro, se surpreendeu com um grande Ebó Coletivo, organizado pela Frente Nacional Makota Valdina. O ato aconteceu próximo a um dos pontos turísticos mais populares da cidade. O motivo? A violência explícita de tentar mudar o nome do Parque do Abaeté, para “Monte Santo Deus Proverá” e proposta de urbanização do parque, que se trata de uma Área de Proteção Ambiental (APA).

A princípio é preciso dizer que o nome ”Abaeté” tem origem tupi, junção das palavras abá que significa “homem” e eté que significa “verdadeiro”. Assim, a história do território é marcada por contos, lendas e memórias populares. A sua importância se estende para além da garantia da diversidade natural e qualidade de vida de toda cidade soteropolitana. Ainda mais, o parque também possui um significado afetivo, subjetivo, religioso e cultural.

É nele que as religiões de matrizes africanas e indígenas fazem seus rituais, cerimônias e ebós, nele que alguns cristãos pagam suas promessas, etc. Dar um nome cristão, com base em fundamentos da bíblia, ao Abaeté, é validar uma religião em detrimento das outras. Além de permitir condições necessárias para a prevalência da intolerância religiosa e ignorar a pulsação da pluralidade da vida e crenças do lugar. Sabendo disso, propor a urbanização de uma APA é desumano, perverso, criminoso e uma maneira de privilegiar os interesses do capital privado, diante os interesses coletivos.

”O apagamento histórico é uma das diversas maneiras de alienar o nosso povo. Desse modo, necessitamos não somente denunciar as violações contra nossos corpos e cultura, mas fortalecer os espaços que viabilizam a nossa existência. Portanto, nós do MLB encaramos como fundamental e um ato de resistência, a construção de escolas de formação popular em cada ocupação, a exemplo da Escola Eliana Silva. É fundamental para dar continuidade ao legado das nossas ancestrais que sacrificaram suas vidas em prol do poder popular.

Enquanto mulher negra, candomblecista e estudante do ensino público, vi na escola o quanto a cultura afro-brasileira é demonizada ou simplesmente apagada do currículo. Se não nos colocamos diante da tarefa de construir verdadeiros quilombos educacionais e contar as histórias de Luísa Mahin, Amaro Félix, Zeferina, Maria Felipa, Manoel Lisboa e tantos outros, dificilmente o ensino burguês o fará.” – comentou Bianca, coordenadora da Ocupação Carlos Marighella do MLB, que esteve presente no ato.

Nesse sentido, o Ebó Coletivo não foi apenas contra um ato específico, mas contra todas as formas de racismo ambiental e institucional, contra o fundamentalismo e as políticas de morte que atravessam corpos e territórios negros/indígenas. É inegável que o modo escolhido para a manifestação prova que a luta é indissociável das maneiras de viver, fazeres, saberes e existências. Afinal, a história do nosso povo se faz nas lutas contra a exploração e apagamento dos nossos heróis e heroínas.

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