Os casos de assédio contra alunas da rede normalista de ensino no Rio de Janeiro só aumentam e não se encontra nenhuma rede de apoio por parte das escolas, que se preocupam mais em manter uma boa imagem do que com a segurança de suas estudantes.
Alana Veras
Rio de Janeiro
RIO DE JANEIRO – Estudantes do Instituto de Educação Carmela Dutra (IECD) promoveram uma manifestação, no último dia 25/02, contra o assédio realizado por professores da rede.
No ato, que contou com apoio da Associação de Estudantes Secundaristas do Estado do Rio de Janeiro (AERJ) e do Movimento de Mulheres Olga Benário, as alunas denunciaram que sofrem constantemente pelo machismo e que a escola, onde elas deveriam estar seguras e serem acolhidas, é local de reprodução de todas as violências que elas sofrem na rua, muitas vezes motivadas pelo uniforme, visto como um “convite”.
Com cartazes e palavras de ordem que diziam “É uniforme! Não é fetiche! Minha saia não é convite!”, o protesto foi o segundo realizado em menos de um mês. Na semana anterior, no 14 de fevereiro, outra manifestação, dessa vez em frente ao Instituto de Educação Sarah Kubitschek (IESK), foi promovida com representações de outros colégios do Rio de Janeiro exigindo respeito e o direito das alunas de usar seus uniformes sem serem alvo de sexualização.
Essa luta vem tendo grande repercussão, o que impulsionou que outros casos de assédio fossem divulgados, exigindo que as autoridades tomem uma providência diante do absurdo que é as estudantes não terem segurança tanto fora quanto dentro do ambiente escolar. As direções dos colégios tentam silenciar as alunas, “abafar o caso”, orientando para que irem à delegacia, sem, entretanto, resolver o problema.
Após o ato das alunas do Carmela Dutra, uma roda de conversa foi organizada para analisar o papel do capitalismo no machismo tão presente no Brasil e no mundo. A participação do Movimento de Mulheres Olga Benário foi crucial para entender que esse assédio e violência sofridos não são por acaso. É necessário compreender que o sistema capitalista é quem lucra em cima da exploração e sexualização das mulheres. De acordo com o IBGE, as mulheres receberam 77,7% do salário dos homens, em 2019, sendo o cenário ainda pior em cargos de gerência e diretoria (61,9%).
A AERJ, diante dessa realidade desesperadora de estudantes desistindo da escola por sentirem medo de algo acontecer ou para se afastar dos causadores do assédio, fez reuniões na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) pautando as movimentações contra o assédio nas escolas, o respeito aos uniformes normalistas e a distribuição de absorventes para o corpo discente. A Secretaria de Estado de Educação (SEEDUC) afirmou que afastou um professor depois da denúncia e que abriu uma sindicância para apurar os casos.