No último dia 5 de abril a Ocupação dos Desabrigados pela chuva – Antônio Conselheiro completou um mês de luta. Cientes do tamanho da vitória que é passar 30 dias fazendo valer seu direito constitucional a moradia e garantindo abrigo e alimentação para centenas de homens, mulheres e crianças, as famílias realizaram uma grande festa de comemoração.
De MLB São Paulo
LUTA POPULAR – Antes da pandemia o déficit habitacional no Brasil alcançava 8 milhões de famílias. Apesar do sucateamento dos órgãos públicos de pesquisa, que dificulta a atualização dessa estatística, através da atuação dos movimentos sociais é possível descobrir que o déficit tem crescido. A Campanha Despejo Zero, grande exemplo de unidade de vários movimentos e seguimentos da sociedade civil, tem mapeado diversos despejos e reintegrações de posse, tendo conseguido impedir muitos deles. Em março desse ano, uma manifestação nacional da campanha, mobilizando milhares de famílias pelo Brasil, conquistou a prorrogação da lei do despejo zero na pandemia (ADPF 828) até o fim de junho.
Apesar das vitórias importantes nesse campo, sabemos que a justiça no Estado capitalista defende a propriedade privada e mesmo diante dessa situação, o número de despejo dobrou durante a pandemia, além dos inúmeros ataques que as ocupações vêm sofrendo em todo território nacional, incitados por Bolsonaro e que tem levado a morte muitas lideranças sociais.
Além disso, a realidade nas ruas tem nos mostrado o quanto esse número cresceu durante a crise que vivemos, junto a fome e ao desemprego vemos diariamente a quantidade de famílias que estão morando na rua. Somado a isso, o descaso que os governantes e o projeto de extermínio do povo pobre da familicia de Bolsonaro e os generais, vimos mais um começo de ano devastador para as famílias pobres nos Estados da Bahia, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo.
Em Mauá, cidade do grande ABC Paulista onde as fortes chuvas e a falta de planejamento e investimento todo ano assola as famílias que já pouco possuem, o MLB decidiu não depender do interesse político dos ricos e organizou ações de solidariedade em bairros da cidade ajudando estas famílias e apontando o caminho da luta. Fruto dessa organização e da referência que o movimento tem se tornado, foi organizada a Ocupação dos desabrigados pela chuva – Antônio Conselheiro, que reuniu centenas de pessoas para ocupar um terreno municipal sem função social há mais de 30 anos, em uma Zona de Interesse Social do município, devendo servir então ao povo.
Leila, uma das coordenadoras da ocupação, relata a situação do seu antigo barraco que motivou a entrar na luta com o MLB:
“Eu já conhecia o movimento das brigadas de solidariedade, dos atos e da Ocupação Manoel Aleixo. E com a chuva que deu aqui no meu barraco, alagando e caindo quase toda a frente, foram as únicas pessoas que apareceram aqui para poder me ajudar e também falar com outros moradores que chegaram a perder cômodos inteiros, compras do mês. Então eu vi uma esperança de conquistar um lugar melhor pra mim e pra minha família porque toda vez que chove, eu corro com ela daqui com medo de que algo pior aconteça”.
Além das famílias que perderam suas casas e pertences para a chuva, também há moradores que somaram-se a ocupação por não aguentar mais viver na situação de escolher entre pagar o aluguel ou fazer a compra do mês, como é o caso do Welber, outro coordenador da ocupação e que relata porque decidiu entrar no movimento:
“Eu entrei nessa luta junto com o MLB porque pago aluguel né, hoje em dia pagar aluguel na situação que ta o desemprego tal, pra gente e pras pessoas é difícil entendeu, e pra gente também conseguir uma casa própria, alguma coisa pra gente, a gente também tem que gastar dinheiro, e pra isso a vida, hoje em dia, não tá nessas condições.”
As famílias são organizadas em comissões para garantir alimentação, limpeza, estrutura, segurança, creche e revezam entre trabalho e luta. Desde a primeira noite a GCM, a mando da prefeitura, tem passado 24h na porta da Ocupação tentando intimidar os moradores e impedir a entrada de materiais para garantir a mínima dignidade de moradia das famílias. Ao invés de baixar a cabeça, os moradores seguem organizando panfletagens e venda do jornal no bairros, atividades culturais com apresentação dos próprios moradores e, não menos importante, sendo um território livre da fome que assola os trabalhadores e trabalhadoras.
Que venham muitos meses e anos a mais, afinal nossa luta é justa, como foi a de Antônio Conselheiro que morreu junto a tantos e tantas em defesa da terra para aqueles que realmente produzem e que, portanto, seguem imortais para aqueles que continuam sua luta hoje e que não descansarão enquanto não tivermos a moradia garantida!