Após muita mobilização de estudantes, técnicos e professores, revogação de títulos Honoris Causa concedidos a ditadores estão no caminho de ser revogados, mesmo sob a reitoria do interventor Carlos Bulhões.
Sam Paz
Porto Alegre (RS)
JUVENTUDE – No último dia 5 de maio ocorreu a audiência pública que debateu a proposta de revogação de títulos Honoris Causa concedidos pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul a Emílio Médici e Arthur da Costa e Silva, militares e conhecidos torturadores do período da ditadura militar fascista no Brasil.
Na audiência estavam presentes a comissão, a qual construímos com nossos representantes pelo Movimento Correnteza, eleita no Conselho Universitário, além de entidades representativas de estudantes e de trabalhadores. O debate girou em torno da proposta que será apresentada e votada no Conselho Universitário para a revogação dos títulos. O título Honoris Causa é uma homenagem concedida a pessoas de grande importância para o avanço científico, da inovação e do bem estar social.
Qual a contribuição desses dois torturadores e da ditadura militar como um todo para a ciência e a tecnologia? Matar, perseguir e torturar estudantes, professores, pesquisadores e trabalhadores, censurar o pensamento crítico nas universidades, militarizar a educação.
E para o bem estar social? Torturar e matar trabalhadores, mulheres, jovens e crianças, além de toda a corrupção e alta inflação do período da ditadura, que piorou muito a vida do povo brasileiro.
A UFRGS assim como outras universidades do país sofreu com dezenas de expurgos e expulsões de professores, funcionários e estudantes que ousassem se opor ao regime militar fascista. Ainda hoje nós vemos os resquícios da ditadura em diversos espaços. Na UFRGS, estudantes cotistas são expulsos, estudantes e professores do Instituto de Artes são criminalizados e perseguidos por se mobilizar em defesa de uma estrutura decente, tudo isso a mando do interventor Carlos Bulhões, indicado de Bolsonaro. Nas universidades públicas em geral o fascista Bolsonaro realiza intervenções, corta verbas da educação e tenta censurar estudantes e professores.
Por tudo isso, a revogação dessas homenagens é um passo importante na luta por memória, verdade e justiça, mas não o suficiente para superar a herança sangrenta da ditadura. Para isso, precisamos ainda de uma punição exemplar a todos os torturadores e aos que os homenageiam, a revisão das leis do período que ainda são aplicadas hoje, como a regra da lista tríplice, que permite que aconteçam intervenções nas universidades públicas, a abertura de todos os arquivos da ditadura e o apoio às famílias dos desaparecidos, torturados e mortos. Para que nunca mais se esqueça, para que não se repita jamais.
*Militante da UJR/RS