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segunda-feira, 4 de novembro de 2024

MLB promove curso para coordenadores

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Queops Damasceno
São Paulo

Ao longo do mês de maio, cerca de 40 coordenadores de ocupações urbanas do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) participaram do curso de formação marxista da Escola Nacional Eliana Silva, representando nove estados, divididos em duas turmas regionais.

A primeira turma ocorreu em Belo Horizonte (MG), entre 10 e 15 de maio e contou com representações dos Estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e Santa Catarina. Já a segunda turma foi realizada em Recife, entre 24 e 29 de maio, com lideranças de Pernambuco, Sergipe, Bahia, Paraíba e Rio Grande do Norte.

O curso tem como base a teoria de Karl Marx, estudada de forma clara para que os lutadores possam se aprofundar sobre temas como Filosofia, Economia e Socialismo. Para Joyce Moura, coordenadora da Ocupação João Pedro Teixeira, em João Pessoa: “Um movimento que coloca o povo de periferia, de ocupação, para estudar e discutir filosofia e economia, é um movimento verdadeiramente revolucionário, porque confia no povo, na nossa capacidade de aprender e dirigir o movimento e a luta”.

Durante os seis dias de cada turma foi possível verificar o quanto as pessoas foram absorvendo o conteúdo e aplicando em exemplos simples do seu dia a dia. Além de leituras coletivas, as apresentações foram feitas em slides com imagens e vídeos. “Temos o direito de estudar. Os ricos querem os pobres e negros da periferia ignorantes, mas o MLB mostra que podemos conquistar nossos direitos, inclusive o de estudar. Saio daqui querendo construir uma escola na minha ocupação”, afirmou Ofélia da Silva, coordenadora do MLB em Pernambuco.

O método utilizado para avaliar a qualidade do aprendizado adquirido foi o de apresentações feitas ao final de cada aula por pequenos grupos, com uso de cartazes, desenhos, explanações e até teatro. A escola contou também com estrutura de creche, que, além de dar qualidade para as mães participarem do encontro, aproxima as crianças dos debates. Dessa vez, as crianças surpreenderam a todos com lindas cartas feita por elas sobre a importância do movimento em suas vidas.

RECIFE. Escola Nacional forma lutadores do povo no nordeste. Foto: MLB/Reprodução Jornal A Verdade.

Luze Augusta, coordenadora da Ocupação João Mulungu, em Sergipe, destacou: “O que estamos aprendendo aqui nos ajuda a educar nossos filhos, mostrar para eles porque a polícia é violenta, porque sofremos agressões físicas e verbais e porque precisamos levantar a cabeça, nos proteger, seguir firmes, superar e nunca desistir da luta por um mundo melhor”.

Durante as aulas de filosofia, sobre a dialética, foi possível notar o seguinte diálogo entre duas companheiras: “Tudo muda mesmo, né?!, inclusive a consciência. Eu odiava política e hoje eu sou do partido Unidade Popular” – Marta de Lara, coordenadora da Ocupação Anita Garibaldi (SC). “Eu também mudei. Eu era de direita. Hoje eu vejo que Bolsonaro é um fascista, genocida. E agora tenho orgulho de dizer que sou comunista” – Selma Neila, coordenadora da Ocupação Manoel Aleixo (SP).

Na aula de economia, o companheiro Antônio Jorge, que tem 50 anos e é pescador no Rio de Janeiro, afirmou: “Aqui no Brasil nós somos campeões na produção de grãos, plantamos todo tipo de alimento e pra gente só fica o resto. Os governantes preferem alimentar os ricos lá fora do que alimentar seu próprio povo. Deixa a gente morrer de fome para ganharem mais dinheiro”.

Siderval Cabeludo, coordenador da Ocupação Carlos Marighella, em Salvador, complementou: “O capitalismo é uma grande contradição. Trabalhamos e não temos nada, enquanto alguns não trabalham e estão ricos. A gente precisa estudar para entender isso e aumentar nossa certeza na revolução, nossa capacidade de convencer o povo a se dedicar mais ao movimento. Vamos construir um exército do povo, disciplinado, combativo, mas também estudado”.

No módulo que estudou a política habitacional de Cuba e da União Soviética, José Lubriano, coordenador do MLB em Aracaju, concluiu: “Gostei bastante das nossas discussões sobre o socialismo. Agora temos melhores condições de defender a política do movimento para o povo das ocupações”.

Poliana Souza, educadora popular e coordenadora nacional do MLB, relatou em detalhes uma experiência de alfabetização ocorrida durante o curso:

“Durante os dois primeiros dias de aula, observei que a companheira Leila Venâncio, catadora de recicláveis e moradora da Ocupação Antônio Conselheiro, quase não falava, mas prestava muita atenção em tudo. Quando pedimos para que as pessoas anotassem em um papel um conceito que queríamos explicar sobre economia, ela abaixou a cabeça e disse em voz baixa que não sabia ler. No intervalo perguntei por qual motivo não foi alfabetizada e ela me respondeu que o pai nunca permitiu que as filhas mulheres fossem à escola.

Indaguei se realmente ela não sabia escrever e ler absolutamente nada. Ela disse que algumas vezes as companheiras da UP de São Paulo haviam ensinado umas coisinhas. Pedi para que ela desenhasse para mim na mesa de pedra em que a gente conversava, com um giz de quadro que estava ali perto, as letras que conhecia. Ela rapidamente escreveu várias letras. Expliquei para ela bem rapidinho sobre as letras, as sílabas e palavras. Saímos dali e retornamos à aula. Durante todos os outros dias, ela não parava de copiar o que escrevíamos no quadro, logo vinha nos mostrar e perguntar se estava certo, e, a cada acerto, ela sorria e falava mais. No quinto dia, às vésperas de irmos embora, ela estava lendo e escrevendo.

As frases que ela mais falava era “eu não sei”, “eu não consigo”; fiz um pacto que ela não falaria isso mais durante o tempo que estivesse ali. Sempre que ela ia dizer, se corrigia e já não falava mais.

Nós, trabalhadores, estamos acostumados a ouvir que não sabemos, não podemos e acabamos trazendo isso para as nossas vidas. Assim como ela, quantos mais existem por aí? A Escola Nacional Eliana Silva é fundamental e necessária. A libertação e a emancipação do nosso povo passam pela educação”.

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