Motoristas e cobradores do transporte público da cidade de São Paulo realizaram dois dias de paralisação no mês de junho, conquistaram 12,47% de ajuste salarial e se mantém em luta por hora de almoço remunerada, PLR, pagamento de horas extras e plano de carreira.
Reinilson Filho e David Jaffe Cartum
SÃO PAULO. Nesta quarta-feira (29), mais de seis mil trabalhadores, motoristas e cobradores, da cidade de São Paulo, decidiram cruzar os braços e retomar a greve iniciada no último dia 14.
Na primeira paralisação os trabalhadores conseguiram um importante aumento salarial de 12,47% referente ao mês de maio, data base da categoria. Porém não houve avanços nas reivindicações das outras demandas, como o direito ao horário de almoço remunerado, retorno do PLR (Programa de Participação nos Lucros e Resultados) e pagamento de 100% das horas extras, além de plano de carreiras do setor de manutenção.
Zé Carlos, diretor executivo do Sindicato dos Motoristas e Trabalhadores em Transporte Rodoviário Urbano de São Paulo (SindMotoristas), destacou em entrevista para o jornal A Verdade o movimento vitorioso realizado pela categoria: “É uma vitória, os trabalhadores fizeram o que deveria ser feito, o sindicato acatou a decisão da categoria e nós fizemos a luta.” e destacou a importância da luta: “Nós temos que seguir andando, seguir fazendo a luta, porque só assim vamos vencer as dificuldades que os trabalhadores e o país vêm enfrentando, fazendo a luta.”
Motoristas e cobradores em luta
As paralisações contaram com grande adesão da categoria. Mais de seis mil trabalhadores, de forma unânime, decidiram realizar a paralisação do dia (29).
Um desses trabalhadores era o senhor Ademar, que denunciou a empresa e os patrões ao jornal A Verdade: “Muitas pessoas criticaram essa greve. Mas quem gosta de estar almoçando e seu chefe chega e diz precisar que você pare de almoçar e volte ao serviço, ou que ele peça para que fique até mais tarde hoje e amanhã, sem receber?! Ninguém gosta de ser obrigado a trabalhar feriados e o patrão fala que é para você pegar Banco de Horas e quando vamos pedir para ir ao médico ou levar um filho ou a esposa, o patrão não dá o seu dia que você tem direito. Ninguém gosta de ir ao médico e ao chegar lá escuta que não está mais atendendo seu convênio. Ninguém gosta de estar a anos exercendo uma função na empresa e recebendo a menos por não te promoverem, é por isso que estamos fazendo essa greve.”
Categoria vai pra greve
A situação do transporte público em São Paulo hoje é reflexo da privatização da CMTC (Companhia Municipal de Transportes Coletivos) feita na gestão Paulo Maluf em 1993. A municipalidade do transporte público não deve se limitar apenas a ser gestora de tráfego e logística, mas ser a executora do serviço de fato, eliminando o cartel criminoso que existe dentro da cidade.
Em nota, o sindicato denunciou a omissão e desrespeito da atual prefeitura com os trabalhadores da categoria:
“A decisão da greve foi a última instância que restou aos trabalhadores, diante da falta de diálogo com o setor empresarial. Por outro lado, o setor público ao invés de agir com o objetivo de mediar uma negociação justa, age de maneira covarde ao atacar injustamente toda a categoria.
As centrais sindicais, que representam milhares de trabalhadores na cidade de São Paulo, incluindo os motoristas e cobradores, exigem respeito com aqueles que durante a pandemia colocaram suas vidas em risco para que a cidade não parasse completamente, apesar dos registros de centenas de mortes por Covid-19.
A greve é o último recurso dos trabalhadores diante da intransigência patronal. Ataques a uma categoria partindo do setor público, demonstra a falta de compromisso daqueles que deveriam ter um olhar de solidariedade com os trabalhadores e com a população.”
Privatização é precarização
Uma das propostas que há anos são defendidas por especialistas de políticas públicas para conter essa precarização no transporte paulistano é que os trabalhadores, motoristas e cobradores, sejam contratados diretamente pela prefeitura e os ônibus sejam adquiridos por meio de locação, mantendo a frota sempre moderna e ambientalmente responsável.
Importante destacar que o compromisso de ter a frota 100% elétrica das atuais concessionárias não foi cumprido até hoje.
Com a municipalização do transporte, o próprio município poderia criar plano de carreira para os trabalhadores, manter a frota renovada, manter uma tarifa a preço justo, organizar a prestação de serviço de forma zonal e permitir maior controle social sobre a empresa pública.
Muita luta precisa ser feita para a melhoria do sistema de transporte público e de outros serviços públicos em geral. Os motoristas e cobradores paulistanos dão um norte do que pode ser feito, mobilizações, reivindicações, paralisações e greve, unidade na categoria, são o caminho para transformações estruturais futuras.