Indira Xavier
Belo Horizonte
O Dia Nacional de Enfrentamento ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes é 18 de maio. O Brasil ocupa o segundo lugar no ranking mundial, perdendo apenas para a Tailândia. São 500 mil vítimas anualmente. Ou seja, a cada 24 horas, 320 crianças e adolescentes são abusados e explorados sexualmente, segundo dados do Instituto Libertas.
Mas a realidade é ainda pior: apenas sete em cada 100 casos são denunciados. Quando pensamos onde e por quem esses crimes são praticados, nos deparamos com a aterrorizante constatação de que cerca de 80% são realizados dentro do ambiente doméstico por parentes e pessoas próximas às vítimas.
O fato é que vivemos em uma sociedade que não reconhece, cuida e protege os mais vulneráveis. Com a pandemia, os casos de abuso e exploração cresceram, justamente pelo fato de que a maior parcela dessas crianças está em risco social e econômico. Segundo dados do Disque 100, só no primeiro semestre de 2021, em comparação ao mesmo período de 2020, foram 5.106 abusos denunciados contra 3.342. Dessas, 83,87% eram meninas, sendo 57,73% negras, com faixa etária entre 8 e 14 anos, cerca de 70%.
“Era assustador chegar em casa e ver que minha mãe tinha mudado a cama de posição. Sabia que naquelas noites não dormiria, pois ele viria me acariciar”, relata Maria (nome fictício). Hoje adulta, ela passou parte da sua adolescência sendo abusada sexualmente por seu primo.
Entre os anos de 2019 e 2020, foram mapeados mais de 3.650 pontos vulneráveis nas rodovias federais, dos quais 60% estão em áreas urbanas e quase a metade são em postos de combustível. A BR-116, conhecida por ser a maior rodovia federal do país, é a que possui o maior número de pontos.
Quando falamos de responsabilização social sobre tais atrocidades é justamente porque, dentro de uma sociedade falida e violenta, que estimula a pornografia e a exploração sexual, não deve competir só à família o ato de proteger e cuidar das crianças. Devemos instruí-las sobre a sua própria proteção, além da vigilância e responsabilização coletivas.
Cabe também a escola esse papel, essa mesma escola que é atacada no Governo Bolsonaro e que tenta impor um projeto de educação domiciliar. O que seria dessas crianças se não tivessem um olhar atento e pedagógico que não só orienta como ajuda nas denúncias? O que seria das dez crianças de Campo Limpo de Goiás, que, após uma palestra em sua escola, se reconheceram vítimas de tais abusos e conseguiram denunciar?
Por isso, toda atenção e carinho a nossas crianças e adolescentes!