Em 2019 houve a última eleição para o DCE da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). Com um processo fraudulento em que a publicação do edital de inscrição das chapas não permitiu outras chapas se organizarem.
Cassiano Bezerra – Movimento Correnteza da UFRPE
Em 2019 houve a última eleição para o DCE da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). Com um processo fraudulento em que a publicação do edital de inscrição das chapas não permitiu outras chapas se organizarem, foi formada uma única chapa, a Nossa Voz. A chapa assumiu a gestão para logo depois abandonar o Diretório Central dos Estudantes (DCE) e realizar nenhuma atividade entre 2019 e 2020.
Todo o processo eleitoral fraudulento foi repudiado pelos estudantes independentes e outras forças políticas. O resultado foi um movimento espontâneo de estudantes tentando impedir que o processo eleitoral fraudado ocorresse, com quebra de urnas, roubo de atas, confusões entre grupos e outros. O momento foi bastante turbulento na história do movimento estudantil da universidade mostrando que os estudantes tinham consciência do seu direito de serem representados por coletivos não-oportunistas e também de comporem uma alternativa àquele grupo. Mesmo assim, sem atas e sem algumas urnas, a chapa se deu como eleita por conta da comissão eleitoral aliada.
No ano seguinte, foi eleita uma gestão temporária para que se cuidasse do DCE por conta da impossibilidade de realizar eleições remotas durante a pandemia de Covid-19, na avaliação da comissão eleitoral e da antiga gestão. Essa gestão temporária foi composta por diversas forças estudantis e estudantes independentes. Entretanto, o ranço deixado pela eleição de 2019 fez com que essa gestão ficasse inerte, mostrando a cisão entre a comunidade estudantil e as forças que atuavam, além do contexto de pandemia e formatura dos estudantes membros. Assim, durante toda a pandemia, nenhum evento ocorreu remotamente.
Com o Diretório abandonado e a visão ruim que a chapa deixou sobre o movimento estudantil da universidade, houve um esfriamento nas ações políticas da universidade. O preço do RU da sede aumentou durante a pandemia, não houveram movimentações para a abertura do RU em outras unidades como em Serra Talhada (no sertão de Pernambuco) que existe, mas está fechado, nem preocupação com a construção do campus de Cabo de Santo Agostinho (Região Metropolitana de Recife) que os estudantes aguardam há 5 anos. Em resumo, a permanência e a vida dos estudantes foram completamente afetadas pela falta de movimentos que pudessem auxiliar na luta pela universidade pública e de qualidade.
Essa não foi a primeira nem a última vez que os movimentos que compuseram essa chapa se aproveitaram para se manterem no controle das entidades estudantis. São conhecidos por fazerem apenas calouradas e distribuir energéticos de uma marca famosa para os estudantes. Não há formação política, ou o máximo que conseguem fazer é fazer oposição de rede social ao fascista do Bolsonaro e apoiar políticos de partidos que usam a polícia para baterem no trabalhador e não pagam o teto dos professores. Quando vão às ruas é para dar flores à polícia.
O Diretório Central dos Estudantes e seu papel
O DCE é a representação máxima dos estudantes de uma universidade. É a entidade responsável por reunir as diversas demandas e dar a elas corpo e voz maiores, capazes de chegar às pró-reitorias e reitoria. Além disso, é a entidade responsável por organizar os estudantes para realizar atos, ações e conseguir representar os estudantes nas lutas gerais da universidade (obras, restaurantes universitários e etc.)
Um DCE que não luta, ou se mantém na institucionalidade de modo a tentar apaziguar os ânimos das demandas dos estudantes é um diretório oportunista que apenas quer fazer acordos com a reitoria e se manter na entidade o máximo que puder. O DCE deve ser combativo e enfrentar os cortes, os aumentos dos preços dos Restaurantes Universitários, organizar a luta dos estudantes com protestos, atos e ajudar na formação política dos estudantes propondo a organização dos mesmos.
Estar no DCE significa assumir um compromisso com o movimento estudantil, lutar pela autonomia universitária e pela universidade pública de qualidade. É necessário e urgente que o movimento estudantil esteja cada vez mais organizado e mobilizado principalmente em momentos de avanço do fascismo, das reformas universitárias neoliberais e crescente falta de investimento na educação pública.
O movimento estudantil é uma necessidade histórica
Ter compromisso com o movimento estudantil é ter em mente que a politização dos estudantes frente às interferências do sistema capitalista nas universidades é uma necessidade para construir uma universidade pública, autônoma e para todos na sociedade. Com essas premissas, o movimento estudantil se torna uma necessidade histórica por representar uma parte importante da luta pela educação. Não é à toa que durante a ditadura empresarial-militar o movimento estudantil pautou debates sobre as torturas, sobre as reformas na educação, além de formações políticas e acontecimentos políticos do momento vividos pelos estudantes seja no Brasil ou no resto do mundo.
O movimento estudantil é uma constante nos movimentos populares e representa uma forma de, a partir das reivindicações, travar determinadas lutas políticas e mostrar como o sistema capitalista impede as melhorias de acesso à universidade e a estrutura da educação.
Quando reivindicamos o fim do vestibular, para que o acesso à universidade seja universal e para todos, mostramos que num sistema onde cursinhos de pré-vestibular lucram e os grandes tubarões da educação privada crescem, é impossível minimamente pensar neste fim. Assim, se faz necessária uma superação desse sistema visando uma forma política e econômica justa que permita a todos terem acesso a educação de qualidade sem ter que pagar por isso.
Então é inadmissível que certos grupos do movimento estudantil utilizem entidades como o DCE, UEEs e a UNE apenas como plataforma eleitoral e de festas, caso contrário nada difere de uma política de pão e circo. É preciso atrair os estudantes para as lutas políticas e históricas do povo e entender que só com a superação do sistema capitalista é que teremos uma universidade realmente popular.
Construir um movimento estudantil combativo
Em várias outras universidades pelo Brasil, a luta de coletivos de movimento estudantil organizado tem rendido frutos importantes para a luta dos estudantes. Foi o caso das eleições de DCE da Universidade de São Paulo (USP), um dos mais importantes diretórios do Brasil, que foi conquistado pela chapa “É Tudo Pra Ontem”, composta pelo Correnteza, MUP, Ecoar e outros movimentos.
No caso da UFRPE não é diferente, o movimento Correnteza tem agido para construir o movimento estudantil na universidade pautado com debates politizados sobre a importância histórica do movimento estudantil na ditadura e também um curso de introdução à teoria marxista. Temos também integrado as assembleias para lutar contra os cortes do governo fascista de Jair Bolsonaro e tentar fazer atos de rua massivos em defesa da educação pública e de qualidade.
Estar organizado no movimento estudantil é apenas um passo para integrar a luta por uma sociedade mais justa, é necessário avançar nas lutas sociais para a superação do capitalismo. Fazemos o movimento na UFRPE após esse hiato de movimentos estudantis na universidade porque há uma necessidade de construir um movimento estudantil que respeite os estudantes e consiga convencê-los da luta por uma sociedade nova. Mais ainda, tentamos dar o exemplo da ação dentro movimento estudantil. As palavras convencem, mas o exemplo arrasta!
Acho que a Universidade está com tudo ok, tudo em perfeita ordem, funcionando adequadamente, sem problemas… porque só assim não há necessidade de um DCE. É uma lástima… estamos organizados com bastante representatividade na PÓS-GRADUAÇÃO da UFRPE e estamos sentindo falta dos alunos da graduação. Estamos com uma ação para melhorar acessibilidade na UFRPE, mas ninguém da graduação se pronunciou.