Em 07 de dezembro de 2022, mais um golpe de Estado fascista ocorreu no Peru. O então presidente Pedro Castillo, numa atitude arbitrária, dissolveu o Parlamento e tentou instaurar um Estado de exceção. Por tal ato, sofreu impeachment e foi preso. Assumiu o governo, a vice-presidenta Dina Boluarteque que também decretou estado de sítio e mandou o Exército matar quem resistir ao golpe. Até o dia 17 de janeiro, mais de 50 peruanos foram assassinados. Pesquisa divulgada recentemente pelo Instituto de Estudos Peruano (IEP), aponta que quase 70% da população quer a instalação de uma Assembleia Constituinte. Já são mais de 50 mortes e milhares de presos e feridos em todo o país. Para entender mais essa realidade, A Verdade entrevistou Mariana Paredes, integrante do Movimento de Mulheres pela Liberação Social (MMLS).
Indira Xavier | Redação
A Verdade – O presidente eleito Pedro Castillo foi deposto, preso e destituído de suas funções constitucionais no dia 7 de dezembro. A quem serve o golpe militar no Peru?
Mariana Paredes – Para melhor compreender o golpe, é necessário caracterizar o governo de Castillo. É um governo social-democrata, que chegou ao poder pelo partido Peru Livre, uma organização que representa setores da burguesia provinciana e com influências do imperialismo chinês. Por isso, que a burguesia alinhada ao imperialismo estadunidense foi a mais descontente com os resultados da eleição de Castillo.
Cabe ressaltar que o governo Castillo buscou contentar a burguesia, afastando-se de suas principais bandeiras de campanha, dentre elas o chamado à Assembleia Constituinte. Apesar disso, o golpe foi promovido e empurrado pela burguesia, que via seus interesses ameaçados, sobretudo com contratos encerrados. É assim que consegue negociar com Dina Baluarte, gerando o golpe para favorecer seus interesses e para que o imperialismo estadunidense siga usando nosso país como quintal.
Castillo assumiu a Presidência com grande apoio popular, mas seu governo não cumpriu várias promessas. Por que o governo de Castillo não levou adiante as propostas da campanha eleitoral?
O presidente Castillo chegou ao governo com apoio do povo e com promessas de campanha que são o que bradamos nas ruas: a mudança da Constituição por meio de uma Assembleia Constituinte que faça mudanças estruturantes e recupere nossos patrimônios e recursos. No entanto, desde o primeiro dia, e antes que pudesse concretizar qualquer coisa, tinha um Congresso Nacional com maioria de representantes da burguesia buscando apresentar uma infinidade de contrapropostas e tentativas de impeachment, apoiados pelos meios de comunicação tradicionais. E, dentro do governo, os entornos que rodearam o Executivo só zelavam pelos seus próprios interesses, deixando de lado as ações que deveriam ser realizadas em benefício do povo.
As mulheres peruanas realizaram várias mobilizações contra o golpeia, exigindo respeito à vontade popular. Como, no momento, as mulheres estão organizadas no Peru?
Como organização de mulheres, nos somamos às lutas do povo exigindo a renúncia de Dina Boluarte e de seu gabinete, levantando a palavra de ordem do chamado da Assembleia Constituinte soberana e popular, convocando mais companheiras para as mobilizações, participando na difusão de informações sobre detenções arbitrárias, violações aos direitos humanos e convidando outras organizações de mulheres conscientes a se somarem nas lutas.
Por outro lado, buscando também invisibilizar o problema da violência contra a mulher, tentaram uma moção para mudar o nome do Ministério da Mulher e Populações Vulneráveis para Ministério da Família e Populações Vulneráveis. Além disso, testemunhamos a tentativa do Congresso de blindar o congressista Freddy Díaz, acusado de violação sexual. É importante reiterar que a luta das mulheres nessa conjuntura se baseia em exigir a renúncia de Dina Boluarte, a convocação de uma nova mesa diretora que proclame eleições gerais e a realização de um plebiscito para consultar a população sobre a formação de uma Assembleia Constituinte que represente todos os setores do Peru e que seja encarregada de elaborar uma nova constituição.
Em julho, será realizado no Brasil o 3° Encontro de Mulheres da América Latina e do Caribe. Como o Movimento de Mulheres pelas Liberação Social se prepara para participar? Quais são as expectativas?
A organização do Encontro de Mulheres da América Latina e do Caribe é uma tarefa que assumimos desde a segunda edição e consideramos que é um evento importante para conhecer e aprender a organização e luta de nossas companheiras em outras latitudes da região.
Nesse contexto, para nós é importante estarmos lá e nos prepararmos, sobretudo para difundir e denunciar tudo o que está acontecendo em nosso país diante da violência do Estado e a conivência da imprensa nacional. É um cenário complicado para nós, mas estamos empregando esforços para reestruturar nossas coordenações e preparar-nos de maneira teórica, logística e econômica.