Felipe Annunziata | Rio de Janeiro (RJ)
Aprovada em 2017, a Reforma do Ensino Médio piorou profundamente o currículo escolar e a estrutura da educação brasileira. A lei da reforma passou a valer em 2022, e onde foi implementada o cenário é de precarização do trabalho de professores e piora no acesso de estudantes ao conhecimento.
Depois da reforma, professores passaram a dar aulas de matérias para as quais não têm formação. Um professor de história, por exemplo, tem que dar aula de sociologia, geografia ou filosofia. Alguém formado em matemática hoje pode ter que dar aulas de física ou química.
Segundo o professor de geografia da rede estadual do RJ e diretor do SEPE, Igor Andrade, “a reforma aumentou o número de professores que dão aula em mais de uma escola, piorando as atuais condições de trabalho. Profissionais que são pagos abaixo do Piso Nacional, têm que custear o deslocamento entre duas ou mais escolas para cumprir sua carga horária”
Composição do MEC preocupa educadores
Ao mesmo tempo, tem crescido no movimento sindical da educação e em docentes de forma geral uma preocupação sobre a falta de compromisso do governo Lula em revogar a reforma. O MEC (Ministério da Educação) hoje está dirigido pelo ex-governador do Ceará Camilo Santana. Em sua equipe fica evidente a prioridade que ele deu a representantes da educação privada, como o “Todos Pela Educação” e a Fundação Lemann. Os sindicatos e o movimento estudantil interferiram nada ou muito pouco na formação da política educacional do novo governo.
Segundo a CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação), em nota divulgada no último dia 13/01, “chama a atenção a predominância de indicações alinhadas às pautas defendidas por fundações empresariais que não mantêm quaisquer elos com os movimentos sociais que deram sustentação à eleição do atual governo, mas que têm orientado decisivamente a política ministerial”.
Reforma precisa ser revista
Além de toda precarização do trabalho docente, a Reforma do Ensino Médio afasta ainda mais a juventude do conhecimento científico. A nova estrutura curricular diminui a relevância de conhecimentos ligados à Biologia, Física, História e Geografia.
Vimos, nos 4 anos de Bolsonaro, que o acesso do povo à ciência é fundamental. Na pandemia, o ex-governo do fascista só comprou vacina contra a Covid depois da pressão popular.
O povo brasileiro sempre acreditou na eficácia das vacinas e sua importância para acabar com doenças graves. Esta cultura só foi possível construir, pois, nas últimas décadas, parte expressiva da juventude teve acesso às aulas de biologia nas escolas e passou a entender como funcionam as doenças e como é possível evitá-las.
O mesmo vale para a História. Hoje, a juventude e o povo pobre são contra a volta da ditadura militar porque muitos viveram a ditadura e grande parte aprendeu na escola sobre os crimes daquele período.
O professor Igor Andrade confirma este cenário. Para ele, a reforma “teve grande impacto para os professores que são obrigados a dar aulas de disciplinas para as quais não têm formação. Na prática, as disciplinas deixam de ser pautadas em campos científicos”.
O novo governo precisa entender a urgência da revogação deste crime contra a educação do nosso povo. Por outro lado, as entidades estudantis e sindicais da educação precisam ir para as ruas, agora mais do que nunca, enfrentar este retrocesso.
Matéria publicada na edição impressa nº 265 do Jornal A Verdade.