A mobilização reuniu mais de 5 mil agricultoras e foi realizada em defesa do território agroecológico, denunciando o avanço dos parques eólicos e usinas solares na região da Montadas (PB).
Luana Mafra
MONTADAS (PB) – Nesta quinta (16), ocorreu a 14° Edição da Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia. O tema da atividade foi a defesa do território agroecológico, denunciando o avanço dos parques eólicos e usinas solares na região de Montadas, na Paraíba.
A energia eólica e as usinas solares, são hoje alternativas para as fontes de energias de combustíveis fósseis, que são esgotáveis e se comparado com as energias renováveis são amplamente mais poluentes.
O debate por sua vez gira em torno de que tais energias não devem estar em espaços agroecológicos, pois causam uma série de danos e perturbações que fazem com que as famílias rurais tenham como única alternativa o abandono do seu território. Os contratos e os empreiteiros a mando das empresas, prometem “o mel e entregam o fel”, como foi citado pelos depoimentos das agricultoras.
Em vez de riqueza, a presença dos parques e das indústrias promovem o empobrecimento, adoecimento mental e físico, a perda da produção da agricultura familiar, morte e adoecimento de animais e até mesmo a perda de suas identidades, uma vez em que até o nome dos seus territórios são mudados. O que antes era sítio, agora é parque ou usina e pertence a uma empresa.
A linguagem acessível através do teatro às mais de 5 mil agricultoras e agricultores que estavam ali, fez o debate de como as empresas capitalistas omitem os danos e as implicâncias daquelas construções e fazem com que agricultores, muitos deles semianalfabetos, assinem contratos sem ao menos saberem do que realmente se trata e da perda de autonomia sobre suas terras que aquele contrato implica.
Ao mesmo tempo, o teatro que todos os anos compõe as edições da marcha coloca a importância do sindicato dos trabalhadores rurais para a defesa da agricultura e do agricultor, mesmo após o contrato assinado a luta não está perdida.
As mulheres trabalhadoras não aceitam mais serem enganadas
Alguns depoimentos de agricultoras que vivem perto de usinas eólicas chegaram a dizer que: “não tem dinheiro no mundo que pague e devolva o nosso sossego”. Além da perturbação, a tal energia limpa não é adequada para os territórios agroecológicos: “Foi uma riqueza conseguir as nossas cisternas (que guardam água da chuva para beber e cozinhar). Antes a gente tinha que caminhar 2 a 3 quilômetros para pegar água.
Hoje, o pó que as hélices soltam contamina a água da cisterna, contamina o solo e o nosso alimento. Quando as empresas chegaram, a gente pensava que era bom pra gente.”, conta uma das agricultoras que subiu ao palco para contar seu depoimento. O teatro se colocou como uma linguagem tão acessível, que foi possível no meio da multidão se escutar e observar as mulheres concordando “é mesmo mulher, é desse jeitinho mesmo”.
A Marcha nunca perde de vista em nenhuma de suas edições o debate sobre o machismo e o papel fundamental da mulher na luta e no campo. Esse ano, como todos os outros, foi lembrado o legado de luta de Margarida Maria Alves, uma das primeiras mulheres a exercer um cargo de direção sindical no país. Em 2023 completa-se 40 anos de seu assassinato pelas mãos dos usineiros e latifundiários locais, figuras que Margarida enfrentava diariamente em defesa dos direitos dos trabalhadores rurais
Além de Margarida, uma outra grande lutadora foi lembrada e a justiça pela seu assassinato foi aclamada, as mulheres do Polo Sindical da Borborema e as agricultoras do seminário também querem saber: quem mandou matar Marielle Franco e Anderson?
A Marcha terminou em grande estilo e festejando o recado que foi dado nas ruas de Montadas. Terminamos com a ciranda da grande Lia de Itamaracá, as filhas de Baracho e os músicos da banda, com Lia reforçando no palco “estou com 79 anos e levando muita cultura pelo mundo”.
A 14° Marcha Pela Vida das Mulheres e Pela Agroecologia é sempre um momento emocionante. É um encontro com a terra, com aquelas e aqueles que realmente colocam a comida na mesa do trabalhador. É um encontro com a produção que resiste apesar do latifúndio e da monocultura. É um encontro com a produção sem agrotóxicos, do alimento sem veneno. Estar na Marcha das Mulheres pela Agroecologia é renovar as energias pela defesa do nosso território, a defesa do nosso país contra a grande burguesia que insiste em desapropriar o povo.