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quinta-feira, 25 de abril de 2024

Maria Lucia Petit, guerrilheira comunista, completaria 73 anos

Maria Lúcia Petit foi a primeira entre os desaparecidos da Guerrilha do Araguaia a ser identificada, contribuindo para buscas de outros enterrados em cemitérios clandestinos ou na floresta.

Mayara Fagundes | Militante do Movimento de Mulheres Olga Benario


CAMPINAS – Militante comunista, conhecida como aquela que deu a vida lutando por uma sociedade nova, justa e livre para nosso povo. Combatente destemida, guerrilheira brasileira, professora, a que teve coragem e convicção ideológica, amiga, irmã, filha, mulher, heroína nacional. Maria Lúcia Petit da Silva. 

No dia 20 de março de 1950, no interior de São Paulo, nasceu a filha de Julieta Petit Silva e José Bernadino da Silva Junior na cidade de Agudos. Maria Lúcia Petit estudou em Duartina (SP) dos anos iniciais até concluir o segundo ano do magistério no EEPG Benedito Gebara. Em São Paulo, concluiu o Curso Normal no Instituto de Educação Fernão Dias em 1968, ano em que decidiu participar do movimento estudantil secundarista. 

No ano seguinte, foi professora primária em Vila Nova Cachoeirinha, na capital paulista, e já no começo de 1970, integrando as fileiras do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), mudou-se para o interior do país e passou a fazer parte do Destacamento C da guerrilha no sudeste do Pará, região de Caianos, no Araguaia.

Maria Lúcia Petit trabalhou na roça em diversas atividades de plantio e também exerceu o magistério, ensinando as crianças da redondeza. Assim, pôde perceber a real situação de abandono e miséria da população camponesa.

Sob o comando do general Antônio Bandeira da 3ª Brigada de Infantaria, em 1972, o Exército brasileiro, utilizando forte aparato militar para a repressão, inclusive sobre os moradores locais, cercou a região de atuação dos guerrilheiros, onde se encontrava Maria Lúcia. De acordo com depoimentos de sobreviventes, em 16 de junho de 1972, Petit foi morta pelas tropas do exército.

O Relatório Arroyo apontou que três companheiros dirigidos por Mundico (Rosalindo Souza), Cazuza (Miguel Pereira dos Santos) e Maria Lúcia, procuraram por um camponês, João Coioió, que por várias vezes tinha ajudado os guerrilheiros com alimentos e informações, para que ele fizesse uma pequena compra em São Geraldo. Naquela noite, próximo da casa Mundico, Cazuza afirmou ouvir alguém dizendo “pega, pega”, mas concluíram que não havia mais ninguém no local e decidiram acampar a 200 metros dali. Na manhã seguinte, os três ouviram um barulho e se aproximaram da casa. Petit caminhava à frente e a cerca de 50 metros do imóvel, recebeu tiros. Dez minutos após o ataque, helicópteros metralharam as áreas próximas da casa. 

Exames da arcada dentária, juntamente com depoimentos que apontaram as circunstâncias da morte e o estudo da foto publicada com as ossadas encontradas em 1991, possibilitou a identificação de Maria Lúcia em 15 de maio de 1996.

Contrariando algumas versões que apontam Coiocó como responsável pela execução, o laudo realizado pela Unicamp afirmou que a bala era de uso militar. Uma estava alojada na altura do quadril, e a outra veio de cima para baixo, indicando que Petit foi executada já caída.

Maria Lúcia Petit foi a primeira entre os desaparecidos da Guerrilha do Araguaia a ser identificada, contribuindo para buscas de outros enterrados em cemitérios clandestinos ou na floresta. Vale lembrar que o sumiço e a dificuldade de encontrar os corpos dos guerrilheiros não se deve aos problemas de logística da região, mas sim da ocultação proposital dos crimes cometidos durante esse período de nossa história. Mais de 50 guerrilheiros do Araguaia ainda estão desaparecidos, entre eles Jaime e Lúcio Petit, irmãos de Maria Lúcia.

Nosso país viveu, por 21 anos, debaixo de um regime militar fascista, que torturou, prendeu, censurou, violentou, perseguiu e assassinou milhares de pessoas. Diversos direitos que temos hoje foram garantidos e conquistados graças às lutadoras e lutadores que deram suas vidas combatendo a ditadura.

Depois de exatos 24 anos de sua morte, no dia 16 de junho de 1996, o corpo de Petit pode finalmente ser velado pelos seus familiares, amigos e companheiros de partido.

A maior homenagem que podemos oferecer à Maria Lúcia é seguir lutando contra o fascismo, sem medir esforços na construção da sociedade que tanto sonhou, a sociedade socialista.

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