A educação está em crise porque os trabalhadores e as trabalhadoras vêm sendo cada vez mais massacrados pelos efeitos da crise mundial do sistema capitalista que não para de se expandir, desde 2008 e que foi agravado pela pandemia do Covid-19.
Nana Sanches e Stefan Chamorro* | Porto Alegre
EDUCAÇÃO – A educação brasileira está em crise, e não é de hoje. Recentemente, a crise na educação tem se materializado através do crescimento da violência no ambiente escolar. Apesar disso, precisamos nos atentar para o fato do ambiente educacional ser apenas um recorte de outro maior, que é a sociedade. A educação está em crise porque os trabalhadores e as trabalhadoras vêm sendo cada vez mais massacrados pelos efeitos da crise mundial do sistema capitalista que não para de se expandir, desde 2008 e que foi agravado pela pandemia do Covid-19.
Historicamente, a forma de lidar com as crises no capitalismo é através do crescimento da violência, seja ela institucional, através de guerras e da ação repressiva policial; seja social, através da criminalidade e dos conflitos pessoais que vão repercutindo as frustrações e o desgosto pela vida. Isso em nível mundial. As escolas manifestam apenas o desespero da falta de perspectiva.
No Brasil, vivemos um aumento constante da violência graças à influência de hábitos típicos da sociedade americana, país marcado por uma crescente desigualdade social.
Os mortos por armas de fogo, nos EUA, atingem índices altíssimos há décadas. Nos primeiros dez anos deste século foram mais de 130.000 vítimas resultadas de conflitos no interior do país. Centenas delas ocorreram em massacres com mais de 4 mortos de uma só vez. E mais de quatro dezenas desses massacres ocorreram em escolas.
Uma sociedade que cultua a guerra e a competitividade ao limite resulta em elevados casos de violência escolar, como o bullying. A maior parte dos massacres em escolas nos EUA está relacionada a vítimas de bullying que buscam alguma forma de vingança.
Geralmente, jovens de famílias humildes, com baixa perspectiva de ascensão social pela falta de oportunidades e que não possuem perfil esportista, são aqueles os mais suscetíveis à ideologia neonazista, recorrendo à violência extrema contra seus próprios pares, colegas de aula.
Os massacres em escola nos EUA podem ser remetidos à década de 1960, mas desde 1998 não param de crescer. Pelo menos 101 mortes ocorreram neste século. Somente em 2023, houve 89 casos de armas disparadas em escolas daquele país.
É importante lembrar como é fácil adquirir armas nos EUA. A esmagadora maioria dos casos em que ocorrem tragédias escolares se dá com armas adquiridas legalmente. Geralmente são armas da família, de pequeno, médio e de grande porte, empregadas.
Nos últimos anos, o governo fascista de Bolsonaro facilitou o acesso a armas, rendendo-se aos investimentos de grandes empresas produtoras de armas, a exemplo da Taurus, empresa gaúcha que teve sua receita aumentada em 47,4% se comparada ao primeiro trimestre de 2022, de acordo com dados fornecidos pela própria empresa.
Os casos de ataques a escolas no Brasil também cresceram neste século, desde 2002, chegando a casa dos vinte. Contudo, cresceram absurdamente desde 2017.
As vítimas são estudantes e professores
Ao bullying se somam os efeitos restritivos da pandemia com crescimento de quadros depressivos entre jovens, também o acesso a armas de fogo. Mas existe um importante fator ideológico. Há um discurso crescente de apologia às armas, observado pela proliferação de publicações de livros sobre o elogio da autodefesa, da aquisição de armas, juntamente com o aumento do discurso de ódio. Essa combinação, mais o estabelecimento de espaços virtuais não controlados de culto e elogio à violência e ao nazismo vêm tornando o fascismo numa ideologia sedutora como resposta aos problemas do mundo.
Em muitos municípios o debate sobre a violência nas escolas tende ao benefício de grandes empresas de segurança que lucram com nossa insegurança. Em casos mais extremos, a defesa do uso de armas como forma de proteção também ganha notoriedade frente ao cenário de caos que grupos de Internet organizam no Brasil e em diversos países do mundo.
Parece óbvio que as políticas públicas americanas falharam e a compra e venda de armas não diminuiu os casos de ataques às escolas, pelo contrário. O acesso a armas aumenta ataques em escolas, feminicídios, chacinas, assassinato de lideranças rurais, indígenas, comunitárias.
Todos os países capitalistas com baixos níveis de violência investem em educação e geração de empregos para possibilitar um bom nível de vida para sua população. Fazem isso se espelhando nas pautas socialistas implementadas em países como Cuba e os partícipes da União Soviética, criadas a partir das demandas populares, e não das demandas das grandes empresas do mercado.
É por isso que defendemos que o debate acerca da violência no Brasil não se baseie no aumento de força repressiva do Estado e sim em investimentos nas estruturas escolas, na efetivação e formação de profissionais que não só trabalhem, mas de fato construam um ambiente escolar em contato permanente com a sua respectiva comunidade.
É importante olharmos para autores consagrados da educação a exemplo de Paulo Freire e construirmos profundos debates sobre o aumento da violência e do fascismo em nosso País, para que todo jovem compreenda que o capitalismo pune sempre os trabalhadores, seja nas escolas ou fora delas é faz isso utilizando a confusão, o medo e o ódio aos trabalhadores. O capitalismo, sistema tão injusto, só sobrevive porque tem como base a violência. Somente uma transformação radical da sociedade pode mudar este cenário e isto passa pela socialização dos bens de produção e pela emancipação dos trabalhadores enquanto classe consciente de seu papel revolucionário contra a burguesia.
Referências:
Em 10 anos, EUA têm mais mortos em massacres do que em ataques terroristas – BBC News Brasil
Atiradora mata seis pessoas em escola dos EUA – DW
Os dados que mostram explosão no número de ataques a escolas no Brasil – BBC News Brasil
* professores e militantes da Unidade Popular do RS