Amanda Benedett | Porto Alegre
JUVENTUDE – Em dezembro de 2022, uma estudante foi estuprada dentro da Universidade Federal do Rio Grande do Sul por um colega de curso. Neste mesmo período, duas estudantes foram violentadas fisicamente por um estudante por se negarem a ter relações sexuais com ele. Casos parecidos aconteceram centenas de vezes nas festas universitárias. Foi o que ocorreu no início deste ano com a estudante da UFPI Janaína Bezerra, assassinada em uma sala durante uma calourada. A investigação policial apontou que a jovem foi estuprada e teve o pescoço quebrado pelo estudante de mestrado Thiago Barbosa, que está preso.
Além disso, outros casos aconteceram e seguem ocorrendo dentro das salas de aula e no meio virtual, com envios de mensagens contendo assédios e ameaças. Segundo a Agência Patrícia Galvão, pesquisa realizada com universitárias apontou que 67% delas disseram já ter sofrido algum tipo de violência (sexual, psicológica, moral ou física) praticada por um homem no ambiente universitário: 56% já sofreram assédio sexual; 28%, violência sexual (estupro, tentativa de abuso enquanto sob efeito de álcool, ser tocada sem consentimento, ser forçada a beijar veterano); 42% sente medo de sofrer violência no ambiente universitário; 36% já deixaram de fazer alguma atividade na universidade por medo de sofrer violência.
Outro caso ocorreu na PUCRS. No último mês, os Movimentos Olga Benario e Correnteza denunciaram um caso de oito estudantes que foram violentadas pelo mesmo estudante assediador, sendo uma delas estuprada dentro da sala de aula. No entanto, apesar de todos esses casos terem sido denunciados pelas vítimas, em reuniões com as direções dos cursos e com as ouvidorias das instituições, as universidades se negam a prosseguir com a expulsão do assediador, com a justificativa de que, enquanto o caso não for averiguado, mesmo com provas, o violentador possui direito de frequentar os espaços acadêmicos, pois não pode ser prejudicado na aprendizagem.
A direção da instituição de ensino optou por ficar do lado do agressor, que segue com sua vida normalmente, enquanto as estudantes trancaram seus cursos, mudaram de cidade, desenvolveram depressão, podendo ainda outras mulheres serem violentadas pelo mesmo violador. Além das estudantes, as militantes dos movimentos foram ameaçadas para não prosseguirem com as denúncias.
O Movimento Olga Benario tem um núcleo na universidade e vem atuando em conjunto com essas estudantes com uma campanha contra o assédio, com passagens em sala, colagens de cartazes e divulgando amplamente a foto do abusador. Assim, estamos construindo formas de denúncias alternativas para buscar acolher as vítimas e promover um espaço de apoio psicológico e jurídico, em conjunto com a Casa de Referência Mulheres Mirabal.
Nesse processo de luta, crescemos os núcleos de base do Movimento de Mulheres Olga Benario nas universidades.
Essas lutas mostraram que as mulheres jovens, estudantes, não serão caladas frente às violências no ambiente acadêmico, pois só a luta organizada pode trazer justiça a casos como esses. A universidade precisa ser um lugar seguro para todas!
Matéria publicada na edição nº 269 do Jornal A Verdade.