Mulheres de Campinas ocupam imóvel abandonado e denunciam descaso do poder público.
Redação SP | Campinas
MULHERES – Após diversas denúncias sobre a total ausência de políticas públicas em Campinas para combater a violência contra a mulher, a escalada dos registros de feminicídio, a precarização dos poucos equipamentos públicos destinados ao acolhimento e a promoção da saúde física e mental das mulheres da classe trabalhadora, o Movimento de Mulheres Olga Benario e a Rede de Apoio Maria Lúcia Petit organizaram, na última quarta-feira (26), a ocupação de mulheres que leva o nome da jovem professora e guerrilheira, Maria Lúcia Petit, assassinada em 1972, pela ditadura militar. A ocupação Maria Lúcia Petit Vive nasce para defender uma rede complexa de acolhimento e enfrentamento à violência e combate ao fascismo.
A decisão de realizar uma ocupação de mulheres na cidade se fundamenta por diversas lutas e pela constatação que a vida das mulheres não é prioridade do governo. Há quase três anos o movimento Olga Benário atua na cidade e se defronta com as demandas das mulheres, auxiliando na busca pelo cumprimento constitucional do Estado de promover políticas públicas em prol da vida de todas as mulheres. Em 2022, a Rede de Apoio Maria Lúcia Petit – criada pelo Movimento de Mulheres Olga Benario – realizou 11 patrulhas em diversos locais que fazem atendimento às mulheres (UPA, UBS, CRAS, CREA, CRM, hospitais) com o objetivo de verificar como ocorria a abordagem, quais eram as condições trabalhistas dos funcionários, a estrutura dos espaços, o acompanhamento e o acolhimento.
A maior parte destes serviços opera rotineiramente com a falta de funcionários e condições inadequadas para a realização dos atendimentos. Segundo informações colhidas, a única Delegacia da Mulher 24 horas está funcionando com o desfalque de mais de 20 agentes públicos. A patrulha feita em 2022, na Delegacia 24 horas, registrou que, dos 25 servidores concursados para trabalharem no local, apenas dois cumprem plantões noturnos e os casos de estupros ocorridos em 2021, estavam com as investigações paradas por falta de agentes públicos. Campinas não está sendo governada para promover a vida das mulheres e esta realidade não pode continuar.
As mulheres de Campinas pedem socorro há muitos anos e os seus gritos ecoam nas estatísticas de feminicídio, na violência doméstica, na violência das ruas, na falta de vagas em creche para nossas crianças, na violência obstetra, no preconceito de gênero, na discriminação e violência contra as mulheres trans. Esse contexto reafirma as múltiplas faces de uma sociedade que ainda se organiza admitindo as expressões do machismo, da misoginia e do patriarcado em suas estruturas.
Indiferente às demandas, o poder público municipal não apresenta respostas e se mantém gerindo recursos bilionários do orçamento público que, no entanto, excluem as políticas efetivas em prol da vida das mulheres, o que se reflete na precarização dos equipamentos e serviços insuficientes, na inexistência de redes de acolhimento e no imobilismo o que tem culminado com o crescimento dos casos de violência e a morte de nossas mulheres.
O agravamento da violência contra as mulheres em Campinas também é reflexo dos quatro anos do governo fascista de Bolsonaro, que cortou quase 100% das verbas do orçamento público, destinadas às ações de enfrentamento à violência contra a mulher, no entanto, a Prefeitura de Campinas, na gestão de Dario Saadi, segue o projeto fascista de Bolsonaro, o que se constitui uma ameaça diária que se materializa na naturalização da violência doméstica e no feminicídio.
A cidade é a segunda maior do Estado de São Paulo em arrecadação e mesmo com os anos de pandemia, conseguiu aumentar a receita provenientes de impostos, tendo para 2023, uma receita da ordem de R$ 9,1 bilhões (2023). Entretanto, a receita bilionária de Campinas não inclui a vida das mulheres. A cidade tem apenas um centro de referência (CEAMO) de apoio à mulher, equipamento que atua de forma insuficiente para atender às denúncias de violência doméstica, com registros de mais de 200 casos mensais, o que esconde as centenas de subnotificações. Sem uma rede de acolhimento complexa, a violência doméstica escala para os casos de feminicídio. E esta situação não é novidade para os governantes da cidade. De 33 cidades da Região Metropolitana, Campinas lidera o número de denúncias, segundo dados coletados no Ministério das Mulheres, em 2022.
Em março de 2023, de forma coletiva, com a cooperação de outras representações políticas da cidade, incluindo três mandatos populares de mulheres, o Movimento Olga e a Rede de Apoio Maria Lúcia Petit escreveram uma carta de reivindicações que foi entregue e protocolada, em audiência para o vice-prefeito, Wanderley Almeida. A posição da prefeitura é de que agendaria uma reunião técnica sobre a carta para discutir encaminhamentos com a Secretaria de Assistência, mas até o momento nada foi feito.
Para salvar as mulheres, o Movimento Olga Benario propõe a urgência de construção de uma rede complexa de acolhimento e enfrentamento à violência, que atue de forma articulada, complexa e com agilidade para impedir a escalada da violência que resulta em feminicídio.
Por que ocupamos?
As mulheres de Campinas não podem continuar a ser vítimas de violência doméstica, sexual, assédio e discriminação e perderem suas vidas pelo fato de serem mulheres.
Ocupamos para acolher e denunciar! Ocupamos para salvar a vida de mulheres, promovendo o acolhimento humanizado, assistência jurídica e psicológica. Ocupamos para propor que o acolhimento às mulheres seja um modelo de serviço público comprometido em orientar e organizar nossas mulheres para romperem o ciclo de opressão imposto pela sociedade capitalista, em que vidas valem menos que imóveis utilizados para especulação imobiliária e para o enriquecimento fácil e injusto, às custas da banalização da vida das mulheres da classe trabalhadora.
A Ocupação Maria Lúcia Petit Vive nasce para estar ao lado das mulheres de Campinas, na luta contra a opressão e a violência. Dentre suas atividades, além de acolher e orientar, a ocupação realizará uma programação permanente de cursos, rodas de conversas, oficinas para aprendizados que gerem renda, lazer e oportunidades para que as mulheres vítimas da opressão e não atendidas pelas políticas públicas consigam se reerguer e terem garantido o direito de viver.
Precisamos de toda solidariedade e união.
Venha visitar a Ocupação Maria Lúcia Petit Vive!
Rua Dr. Delfino Cintra, 462 – Bairro Botafogo, Campinas.
Colabore com qualquer valor pelo pix: [email protected]
É pela vida das mulheres!