UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

domingo, 24 de novembro de 2024

Catarina Matos e Serley Leal: “É na organização que nos fortalecemos e aprendemos a encarar os enfrentamentos de forma mais acertada”

Outros Artigos

Em dezembro de 2022, o Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) organizou a já tradicional campanha Natal Sem Fome, denunciando a propaganda consumista, que ignora a dura realidade vivida pela maioria do povo brasileiro, que vive sob insegurança alimentar. Devido à manifestação realizada pelo MLB em Fortaleza (CE), Catarina Matos, do Movimento de Mulheres Olga Benario, e Serley Leal, da Unidade Popular (UP), estão sendo perseguidos injustamente por terem participado e apoiado a luta das famílias pobres do MLB. As ameaças ferem o direito constitucional de Catarina e Serley de participarem de manifestações políticas e mostra que a criminalização das lutas sociais é mais um traço do fascismo e dos ricos contra os que lutam por justiça social.

Redação CE


A Verdade – Quais os motivos da perseguição política do qual estão sendo vítimas?

Catarina Quem nos ataca se utiliza de discursos levianos, dos mais baixos. Falam todo tipo de mentiras para reduzir as denúncias que fazemos contra a situação de fome e a pobreza que o nosso povo está sofrendo, que é de abandono, fome, desemprego e miséria de milhões de irmãos brasileiros. Alegam que não somos “necessitados” e ignoram que vivemos diante de uma grave crise econômica e social, em que somente os ricos podem usufruir das riquezas produzidas pela classe trabalhadora, enquanto o povo pobre não tem o direito sequer de comer ou ter uma vida digna. Mas nós sabemos muito bem que vergonhoso é não lutar e ter ilusões de classe.

Então ter uma casa onde morar, um emprego e salário no final do mês faz um trabalhador indigno de lutar? Qualquer um que olhe com atenção para as nossas vidas percebe que vivemos uma militância genuína e nos dedicamos a ela porque acreditamos na transformação dessa sociedade injusta e desigual, mas ela só se dará com a união e a organização da classe trabalhadora, que é a nossa classe. 

A repressão de lideranças sociais no Brasil aumentou nos últimos anos. Como explicar essa situação?

O avanço da extrema-direita trouxe consigo essa situação, pois uma de suas táticas ideológicas é a desmoralização da luta popular organizada. Eles querem deixar a classe trabalhadora descrente do poder que tem para submetê-la ainda mais à exploração e à opressão. O desgoverno fascista de Bolsonaro ampliou a perseguição aos lutadores e lideranças sociais. Ainda no processo de campanha eleitoral, em 2018, Jair Bolsonaro discursava sem nenhum pudor que ia acabar com a esquerda, caçar comunistas, e não podemos esquecer que, naquele ano, Marielle Franco e seu motorista Anderson foram covardemente assassinados. Então a escalada de ódio e perseguição só aumentou.

Que medidas estão sendo tomadas para garantir os direitos constitucionais dos que lutam pelos direitos e contra as mazelas do capitalismo?

Serley – A primeira medida é a ampliação das lutas e da organização dos movimentos sociais e populares. Quanto mais fortes, maiores, mais combativos e organizados forem os movimentos sociais, os sindicatos, as entidades estudantis, as organizações femininas, mais proteção e mais segurança serão garantidos para os lutadores sociais. Quanto mais enraizados forem esses movimentos em nossa classe, mais segurança será garantida àqueles que dirigem e lideram essas lutas.

A segunda medida é realizar uma expressiva luta contra o fascismo, mobilizar amplamente os setores da sociedade, das organizações políticas e parte do poder do Estado para defender as conquistas democráticas que nós conseguimos nos últimos 40 anos.

E, em terceiro lugar, sensibilizar os organismos de proteção, a Defensoria Pública, as comissões de proteção aos direitos humanos, nas assembleias e câmaras de vereadores, assim como a da Ordem dos Advogados do Brasil. Fortalecer os Comitês de Memória, Verdade e Justiça para sempre nos lembrarmos daquelas lideranças populares que foram assassinadas pelo fascismo da ditadura de 1964 no Brasil.

Setores da extrema-direita estão insistindo na realização da CPI do MST, que afetará todos os movimentos sociais no Brasil. Como enfrentar essa possibilidade de criminalização da luta?

Esta é mais uma medida da extrema-direita para tentar criminalizar os movimentos que lutam por um Brasil melhor para o povo. Essa CPI tem um caráter puramente propagandista de perseguição e visa intimidar a mobilização popular contra os governos e os patrões que atacam os nossos direitos fundamentais. Essa CPI está sendo proposta por deputados corruptos, ligados ao agronegócio e às milícias, para desviar as investigações dos criminosos atos fascistas e golpistas de 08 de janeiro e das denúncias contra Bolsonaro e seus milicianos, que surgem a cada semana. Eles estão cada vez mais perto da prisão e tentam se esconder por trás dessa CPI. Ela é, portanto, uma espécie de contraofensiva.

É uma tentativa de barrar qualquer possiblidade de ação do MST e de todos os movimentos na cidade e no campo, com o objetivo de impedir que se lute contra a exploração. Portanto, é preciso denunciar essa medida da extrema-direita, essa tentativa de criminalizar as lutas e os lutadores.

Precisamos que os parlamentares democráticos encarem essa luta antifascista de forma mais firme e intensiva nos espaços institucionais. Porém, sabemos que somente com grandes e combativas mobilizações de rua podemos garantir nossos direitos.

Lutar é crime?

Catarina – Lutar não é crime! Crime é usar o aparelho do Estado para manter o povo sob a sua rédea. Lutar é crime para os governos geridos pela burguesia, que sabe que o povo organizado pode salvar a si mesmo da exploração à qual ela nos submete. Para nós, lutar nunca será crime, pois essa é a única “arma” que temos enquanto classe para nos libertarmos da desumanização, da barbárie que esse sistema capitalista podre nos impõe.

Qual mensagem fica desse processo?

Que precisamos continuar e que a luta nunca pode estar apartada da teoria revolucionária. Lidar com os ataques misóginos e fascistas pode ser muito difícil se não tivermos compreensão do porquê lutamos e para onde queremos ir. Além disso, é fundamental estarmos de fato organizados. É na organização que nos fortalecemos e aprendemos a encarar os enfrentamentos de forma mais acertada, segura e consequente. As palavras de ordem “Só a luta muda a vida” e “Só o povo salva o povo” precisam ecoar cada dia mais fortes e vibrantes em nossos corações e mentes para que tenhamos força e continuar até a vitória.

Conheça os livros das edições Manoel Lisboa

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Matérias recentes