Maria do Carmo é de fato uma heroína da resistência proletária clandestina à ditadura militar fascista e da causa da liberdade, da democracia e do socialismo no Brasil.
Edival Nunes Cajá | presidente do Centro Cultural Manoel Lisboa
Conheci Do Carmo, até o dia do seu sequestro, 16 de agosto de 1973, como Catarina nas ações armadas do trabalho clandestino do Partido, durante o dia ela era operária da fábrica Torre e eu bancário do Banco Mercantil do Brasil. Não conheci ninguém mais disciplinada e com mais determinação do que ela na preparação e no decorrer daquelas ações, onde a postura, a segurança pessoal ao portar uma arma, como também minutos, até segundos, podiam determinar o êxito de determinadas operações ou uma tragédia para a organização.
Quando teve de enfrentar o covarde inimigo de classe, os defensores do sistema capitalista, nas câmeras de tortura foi capaz de derrotá-los, nada informando, nem mesmo onde morava, pois seu endereço era também um “aparelho” do Partido. os torturadores tiveram de chegar à sua casa por outros meios, não pela sua boca. Catarina saiu do DOI-CODI, do DOPES-PE, depois, do presídio feminina da ditadura em Pernambuco, o Bom Pastor, toda machucada fisicamente, porém de cabeça erguida, segundo suas palavras e ratificadas pela direção do Partido: “conseguiu cumprir tudo que eu mais desejava que era não trair meus camaradas de arma, os companheiros e companheiras do Conselho Operário e do meu único Partido político em toda minha vida, o Partido fundado por Manoel Lisboa”.
Maria do Carmo nasceu no dia 10/06/1947, em Bananeiras (PB) e viveu sua infância e adolescência em São José do Campestre (RN). Nos anos 60, para cursar o ensino médio, deslocou-se para Natal, e foi morar na Casa da Estudante de Rio Grande do Norte e estudar no Colégio Estadual, onde conheceu o Partido Comunista Revolucionário. Com as constantes perseguições da ditadura militar fascista aos militantes do PCR no Rio Grande do Norte, o Partido organizou sua transferência para Recife, como única forma de protegê-la, onde, com novo nome e nova documentação, passa a trabalhar na imensa Fábrica de Confecções do bairro da Torre por um largo tempo, onde se destacou como operária no setor de tinturaria e depois na estamparia.
Após cumprimento da pena imposta pelo tribunal militar da ditadura, a 7° auditoria militar da sétima região do exército, em Recife, passou a viver e trabalhar em São Paulo. Aí casou-se, tem dois filhos, separa-se, adota outro filho, volta pra Natal, onde criou seus três filhos. Na terra de Emanuel Bezerra viveu e educou seus filhos e ajudava a criar os netos, quando teve de despedir-se da vida enquanto
se tratava de uma leucemia por meio da quimioterapia, no hospital São Lucas, vindo a contrair aí a covid-19, que lhe provocou a diminuição de sua imunidade e ainda um fatídico e insuportável
AVC hemorrágico. Seu corpo repousa no cemitério Morada da Paz em Emaús, bairro de Parnamirim, vizinho a Natal.
Manoel Lisboa, Amaro Luiz de Carvalho e Emmanuel Bezerra fizeram do PCR uma escola de formação política e ideológica, uma escola do bolchevismo, a resistência e a dignidade com que se portou Maria do Carmo é um belo exemplo dessa Escola de Formação de jovens lutadores contra o nazifascismo, pela liberdade, a democracia e o socialismo.
Camarada Maria do Carmo? Presente, agora e sempre!
*Edival Nunes Cajá é sociólogo e membro do CC do PCR.
Matéria publicada na edição impressa nº 271 do Jornal A Verdade.