Ocupação Maria Felipa é exemplo de luta popular em Salvador

443

Composta por maioria de trabalhadores e trabalhadoras informais do Centro Histórico, a Ocupação carrega a reivindicação do direito à cidade. Sendo a capital mais negra fora da África, Salvador conta com uma população que sofre na pele as opressões do sistema capitalista: é a capital do desemprego e tem uma polícia militar entre as mais violentas e racistas do país.

Willian Santos | Salvador


LUTA POPULAR – Na madrugada do dia 2 de abril, 35 famílias ocuparam de maneira espontânea um antigo imóvel abandonado há mais de quatro anos pela Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (Conder). Situada no Largo do Pelourinho, Centro Histórico de Salvador, a região é dominada pela especulação imobiliária e grandes empresas de turismo em detrimento do povo pobre e trabalhador, que constrói cada pedaço de chão da cidade desde o período da escravidão até os dias de hoje. Cada ocupação que surge é o povo pobre fazendo a reforma urbana acontecer na marra.

Após terem ocupado o imóvel, as famílias decidiram, em assembleia, se organizarem no Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), entendendo que a essa decisão política faria a luta ganhar ainda mais força. 

Composta por maioria de trabalhadores e trabalhadoras informais do Centro Histórico, a Ocupação carrega a reivindicação do direito à cidade. Muitos nasceram e se criaram no Centro e entendem que suas vidas foram construídas nessa região e lá devem permanecer. Além de não precisarem gastar dinheiro com o caríssimo transporte de Salvador para irem trabalhar, contam os vários equipamentos públicos no entorno, diferente das outras regiões periféricas da cidade. Por isso, o povo não quer só trabalhar no Centro. É necessário também morar no Centro, visto que centenas de imóveis estão abandonados e caindo aos pedaços.

Quem foi Maria Felipa

Desde o período de invasão dos portugueses, o território da Bahia foi cenário de várias lutas históricas que puseram em ameaça o domínio da Coroa Portuguesa e dos escravizadores. Uma das heroínas que se destacaram nesta luta foi Maria Felipa, mulher negra, marisqueira, que na luta pela Independência da Bahia comandou uma ação militar com mais de 40 mulheres negras e indígenas responsáveis por atear fogo nas embarcações portuguesas e expulsar os invasores. Inspirados nesse exemplo, as famílias resolveram homenagear essa grande guerreira dando o nome dela à Ocupação. Maria Felipa segue viva na luta do povo sem-teto da Bahia!

Horas antes da assembleia que elegeria a Coordenação da Ocupação, uma das lideranças foi conduzida de maneira truculenta por agentes policiais do seu local de trabalho à delegacia, com o objetivo de intimidá-la. Longe de aterrorizar os moradores, esse ato repressivo serviu de combustível para lutar com mais garra pela vitória.

Sendo a capital mais negra fora da África, Salvador conta com uma população que sofre na pele as opressões do sistema capitalista: é a capital do desemprego e tem uma polícia militar entre as mais violentas e racistas do país. Mais de 107 mil trabalhadores não têm direito à moradia e é a cidade com o maior número de moradores em áreas de risco, batendo a marca de 45,5% da população. Assim como Maria Felipa e tantas famílias pobres da Bahia, não podemos baixar a cabeça diante de toda essa situação que vivemos.

Matéria publicada na edição impressa nº 269 do Jornal A Verdade.