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quinta-feira, 21 de novembro de 2024

45 anos do lançamento do livro “O Imperialismo e a Revolução” de Enver Hoxha

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O lançamento do livro O Imperialismo e a Revolução, em 1978, foi um divisor de águas no movimento comunista internacional. Foi a preparação teórica que expandiu e fortificou a linha marxista-leninista no combate ao imperialismo e ao revisionismo moderno. A obra marcou época ao reafirmar a possibilidade de construção do socialismo e do comunismo.

Thales Caramante | Mogi das Cruzes – SP


TEORIA MARXISTA — O livro O Imperialismo e a Revolução, do camarada Enver Hoxha representa uma grande contribuição para a teoria marxista-leninista. Ele elabora teoricamente uma verdadeira linha política nacional e internacional acerca de sua época no combate às investidas do imperialismo e do social-imperialismo. O livro contém uma verdadeira e extensa análise de conjuntura que sabe dividir, baseando-se nos princípios mais internacionalistas proletários, quem são os amigos e quem são os inimigos do povo e do partido comunista, como alguns inimigos se mascaram e como combatê-los corretamente.

É necessário entender o contexto da elaboração dessa obra que marcou época e fundou, igualmente, uma nova fase no movimento comunista internacional após a ruptura entre os partidos marxista-leninistas e o revisionismo soviético. Ele ajuda, ainda, a compreender a figura histórica de Enver Hoxha e introduz a belíssima experiência socialista na Albânia, o a que ajuda a entender alguns fenômenos universais do socialismo.

Uma resposta necessária

O livro é o resultado de uma vasta pesquisa política e científica do desenvolvimento das contradições internacionais entre os presentes polos imperialistas daquele momento, isto é, o bloco da OTAN encabeçado pelo imperialismo estadunidense, o bloco do Pacto de Varsóvia encabeçado pelo revisionismo soviético e a luta da China para se tornar uma superpotência. 

Esse estudo pode ser visto de maneira clara através de um outro livro de Enver Hoxha, ou melhor, através de seus diários políticos pessoais dos períodos de 1962 até 1977 que, ao serem reunidos, ficaram conhecidos como Reflexões Sobre a China. Esses dois volumes de livros com 1.600 páginas juntas, segundo o cientista político revolucionário Nils Andersson, revelam uma grande demonstração da reflexão dialética cotidiana marxista-leninista. E também da profunda capacidade de abstração filosófica do camarada Enver Hoxha enquanto analisava os acontecimentos cotidianos da conjuntura mundial.

Antigos documentos secretos do fundo do Comitê Central do Partido do Trabalho da Albânia (PTA), revelados em 2020 pelo grupo Memorie da Albânia, mostram que o livro O Imperialismo e a Revolução não foi lançado deliberadamente por conta de um desvio “dogmático-revisionista oportunista” de Enver Hoxha após a morte de Mao Zedong, como afirmam os revisionistas. A realidade concreta mostra, na verdade, que o livro foi uma resposta política às pressões, sabotagens e chantagens econômicas dos chineses em relação a Albânia, para fazer concessões aos imperialistas norte-americanos e a Iugoslávia titoísta. Os novos documentos, traduzidos pela primeira vez para o português pelo jornal A Verdade, revelam o conteúdo da reunião do Birô Político do Comitê Central do PTA datado de 11 de julho de 1978, do qual o PTA decide lançar o livro (junto com Reflexões Sobre a China) após a publicação de uma carta-resposta às pressões da China.

Antes da reunião do Birô Político, no dia 7 de julho de 1978, os chineses encaminharam de Pequim uma carta de oito pontos ao PTA através do diplomata albanês e membro do Comitê Central, Behar Shtylla. A carta deixava claro que a China cancelava todos os acordos políticos e econômicos estabelecidos entre os dois países em 1965 em diante, além de retirar todos os seus especialistas, engenheiros e agentes técnicos do país.

Isso significava na prática que os projetos, investimentos econômicos e obras de infraestrutura da qual a China tinha se encarregado de realizar na Albânia, assim como fornecimento de máquinas e materiais de produção retornariam para a China e deixaria a Albânia, mais uma vez, com sua independência nacional ameaçada e sob o jugo de uma série de sabotagens e chantagens econômicas promovidas por forças maiores que a sua. Porém, novamente, o povo albanês não se dobrou diante das provocações.

A China passa a aplicar essa política de chantagem e pressões econômicas contra a Albânia em decorrência da chamada “teoria dos três mundos”, onde ela buscava achar seu lugar no terreno geopolítico internacional ao lado dos “países não-alinhados”, no qual estava incluída a Iugoslávia titoísta. Nessa política pragmática e antimarxista, a China favorece os fascistas titoístas (política que ficou marcada com a visita de Hua Guofeng à Iugoslávia) e busca forçar a Albânia a ser um peão seu na disputa imperialista do mundo. Como o pequeno país do mar adriático tinha uma política marxista-leninista independente, “as manobras internacionais” que buscavam favorecer uma potência imperialista em oposição a outra potência imperialista não fazia parte do seu repertório revolucionário. Em seu artigo Teoria e Prática da Revolução de 1977, o camarada Enver Hoxha dá um golpe decisivo na chamada teoria dos três mundos e estabelece que a linha correta é a reorganização de todo o movimento comunista internacional em defesa do internacionalismo proletário mesmo sem em nenhum momento mencionar a China ou Mao Zedong.

TEORIA— A obra “O Imperialismo e a Revolução” tem um importante significado teórico internacional para os marxista-leninistas de todo o planeta. Foto: Reprodução

Esse é o contexto para a reunião do Birô Político do Comitê Central do PTA em 11 de julho de 1978 no qual eles decidem o tom, a forma e o conteúdo da sua resposta contra a China; a primeira resposta seria, então, uma carta direta, seguido de um lançamento gradual das obras do camarada Enver Hoxha, entre essas obras, o livro O Imperialismo e a Revolução.

A resposta, o artigo que ficou conhecido como Carta do Comitê Central do PTA e do Governo Albanês ao CC do PCCh e do Governo Chinês, à carta chinesa foi um documento fundamental e histórico do Partido do Trabalho da Albânia (PTA) que mostrou a coragem daquela organização de vanguarda do povo albanês.

Toda a política albanesa, seja no partido e na imprensa, trataram a questão chinesa como uma resposta a ser dada diante de uma grave violação do internacionalismo proletário e uma grave violação de acordos econômicos e militares estabelecidos entre os dois países em comum acordo no passado. Esta é a questão essencial em discussão.

Anos mais tarde, em seu artigo Panorama de 1984, Hoxha resume, com a maturidade do tempo, os acontecimentos com a China em 1978: “Como a propaganda burguesa diz, fomos obrigados a fazer essa ‘abertura’ tendo em vista nossas necessidades internas, a fim de superar as dificuldades que surgiram para nós após nossa ‘ruptura’ com a China, para termos acesso à tecnologia moderna. Essa história é uma lorota. Em primeiro lugar, não é verdade que nós ‘rompemos’ com a China. Foram os dirigentes revisionistas e capitalistas da China que passaram a aplicar políticas anti-albanesas que terminaram com uma ruptura unilateral dos acordos de colaboração econômica entre nossos países, e tudo isso porque nos esforçamos para convencê-los de que estavam seguindo uma política externa contrarrevolucionária e estavam deslizando cada vez mais profundamente para métodos e alianças repreensíveis com o imperialismo americano. E sabíamos quais poderiam ser as consequências desta posição de nosso partido e país em relação à China, ou seja, estávamos conscientes de que haveria consequências econômicas para nós, assim como havia quando denunciamos as ações traiçoeiras dos revisionistas khrushchevistas. Portanto, nós tínhamos tomado as medidas necessárias”.

O povo albanês e o PTA não tinham nada a ganhar com um rompimento com a China e com a União Soviética. A questão central é que o rompimento foi algo imposto à força contra eles, eles foram vítimas dos acontecimentos, assim como é hoje o povo cubano contra o imperialismo norte-americano. Essa responsabilidade jamais poderia ser do povo albanês e do PTA.

O papel do partido e do Estado era a de achar uma saída para essa situação que a realidade material impôs a eles. A saída que encontraram se constituiu na consolidação e defesa do marxismo-leninismo, na via da revolução e na confiança na criatividade da classe operária dentro do país, no estabelecimento de mais relações internacionais e também na autossuficiência. Os comunistas revolucionários sabem perfeitamente que o marxismo-leninismo se defende com princípios. A posição albanesa, ao final, foi manter e fortalecer o princípio revolucionário que marca a história de resistência de seu povo originário contra as incursões estrangeiras naquele momento atual: “mesmo que a gente morra de fome, albaneses não violam princípios. Nós não trairemos o marxismo-leninismo”.

Estados Unidos da América: principal inimigo imperialista dos povos

No contexto histórico de aprofundamento da disputa inter-imperialista atual, de guerras de rapina imperialistas na Ucrânia, o livro Imperialismo e a Revolução continua representando uma grande contribuição para os marxista-leninistas. Em cada país, a burguesia nacional busca se associar em certa medida a algum dos polos em disputa em determinados graus e de acordo com condições históricas – em nossa época, esses campos estão separados entre os países membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), com os Estados Unidos à frente; e o chamado “polo contra hegemônico”, representados pela Rússia e China.

A notícia da ameaça do fim da hegemonia norte-americana pode soar como uma esperança formidável para todos os povos amantes da liberdade e da independência, mas o camarada Enver Hoxha alerta que essa possibilidade geopolítica não corresponde em certa medida em uma vitória principal da classe operária, pois o que se segue da dominação norte-americana não seria a revolução socialista e a marcha ao comunismo, mas sim a vitória de uma hegemonia russa ou chinesa, do qual correspondem também grandes ameaças para a vitória da revolução proletária. 

Nesse sentido, é do interesse dos trabalhadores não se deixar cair pela tentação de apoiar um polo imperialista contra o outro, porque nessa disputa serão os operários e camponeses, trabalhadores de telemarketing, entregadores e motoristas de aplicativo, lojistas e pequenos comerciantes aqueles levados para serem bucha-de-canhão nas guerras de rapina enquanto os capitalistas decidem em seus balcões de negócios as taxas de lucros de cada um.

Apenas a burguesia, os revisionistas modernos, os social-democratas e os reformistas interessam apoiar polos de disputa, em apoiar o “imperialismo menos pior”. O camarada Enver Hoxha, em O Imperialismo e a Revolução, ensina que à classe trabalhadora interessa somente a construção dos instrumentos de sua libertação nacional anti-imperialista, isto é, a revolução proletária.

No seu combate ao social-imperialismo khrushchevista, o camarada Enver Hoxha não deixa esquecer o papel do imperialismo norte-americano como um agente do caos, da guerra, da destruição e da contrarrevolução e dá grande importância na necessidade de destruir pela via da revolução este inimigo. “O imperialismo norte-americano e outros Estados capitalistas vêm combatendo para manter a hegemonia mundial, defender o sistema capitalista e neocolonialista e safar-se com um mínimo de perdas da grande crise em que estão mergulhados. Vêm se esforçando para impedir que os povos e o proletariado realizem as aspirações revolucionárias, libertadoras. O imperialismo norte-americano, que domina política, econômica e militarmente seus parceiros, tem o papel principal na luta por esses objetivos”.

Por outro lado, ele destaca que o crescimento do fascismo é um movimento do atual sistema imperialista mundial, que busca enfraquecer a luta dos trabalhadores. Nesse sentido, Hoxha coloca como o imperialismo estadunidense teve nos anos 70 (e tem ainda hoje) papel essencial no crescimento de movimentos fascistas pelo mundo. “Em seus respectivos países, as ditaduras fascistas foram as últimas armas da burguesia capitalista e do imperialismo mundial contra a União Soviética do tempo de Lênin e Stálin e contra a revolução proletária mundial”.

Para esses problemas do passado e do presente não há outro remédio senão a construção do socialismo através da revolução proletária com seu partido marxista-leninista na vanguarda. O imperialismo estadunidense jamais cairá de maduro, pelo contrário, somente com a intensificação da luta de classes, da luta dos contrários, tendo um partido capaz de operar tanto nos tempos de paz e de guerra que poderemos assentar grandes golpes no sistema imperialista mundial que se aproxima de uma nova guerra de rapina contra os povos do mundo inteiro.

Caminhando no caminho contrário da revolução, o revisionismo moderno constitui uma força desmobilizadora, vacilante e teoricamente eclética dentro do movimento operário. Que enfraquece a luta contra o imperialismo norte-americano. O livro O Imperialismo e a Revolução permanece mais atual do que nunca nos tempos de hoje quando o assunto é uma análise completa das bases que constituem o revisionismo moderno e suas debilidades.

Desde a época do camarada Enver Hoxha, o revisionismo posava como uma “aplicação criativa do marxismo com base nas características nacionais”, uma mera teorização, uma desculpa, para negar os princípios mais universais e revolucionários do marxismo. Hoje, a degeneração do revisionismo se confunde quase que totalmente com as posições mais reacionárias da social-democracia reformista, apenas mantendo (tirando os casos de quando são renegadas) os símbolos vermelhos, a foice e o martelo e a história de luta de determinado partido.

O revisionismo, o reformismo e a social-democracia constituem bases importantes e sólidas de determinado país imperialista dentro da influência do movimento operário, dos sindicatos, partidos e organizações de esquerda. Essas organizações acham, dessa forma, que ao se posicionar contra os Estados Unidos tendo a China e a Rússia como aliados principais e protagonistas nesse combate, que estão “explorando as contradições geopolíticas” e, assim, assentando golpes contra o imperialismo (norte-americano principalmente) como um todo. 

Mas a verdade histórica marcha contra esse tipo de ecletismo. A verdade é que os países imperialistas fortalecem suas posições dentro do movimento operário de cada país ao utilizar os partidos e organizações revisionistas e reformistas como marionetes, para que eles cumpram com seus desejos de enfraquecer, entre as massas trabalhadoras, a influência política do polo oposto. Não é à toa que nos sindicatos (minimamente de “esquerda”) do país hoje prevalecem direções dos partidos que defendem as posições da China e da Rússia e formam seus quadros com base nessa mentira que busca apenas enganar e confundir a classe trabalhadora. Enquanto as posições da burguesia e seus agentes políticos estão completamente ganhas para o imperialismo norte-americano.

O camarada Enver Hoxha, observando esse movimento, defende então que a saída para essa contradição é o fortalecimento da política independente da classe trabalhadora e de todas as demais camadas progressistas da sociedade em defesa do marxismo-leninismo e da revolução socialista. Que é necessário superar as formas de organização artesanais, para tomar os sindicatos do país, as entidades estudantis e de mulheres para estender os braços do partido até todas as formas de organização de massa e, assim, derrotar a social-democracia e o revisionismo moderno na luta política contra o imperialismo e todas as suas formas e cores.

Uma obra clarividente para o século 21

Podemos dizer com toda certeza que a maior contribuição do camarada Enver Hoxha na obra O Imperialismo e a Revolução é sua análise original acerca do plano da China em se tornar uma superpotência; todo um capítulo é dedicado a essa análise que se transformava diante dos seus olhos de forma cotidiana — após 45 anos, podemos dizer que absolutamente todas as conclusões de Enver sobre o plano chinês estavam corretas e a nova situação internacional presente está clarificada para os marxista-leninistas de hoje graças às análises do Partido do Trabalho da Albânia (PTA) com o camarada Enver Hoxha à frente. Podemos dizer, também, que o plano foi um sucesso para os revisionistas chineses.

Na época, o plano ainda tomava seus contornos iniciais e a China precisava se destacar no cenário geopolítico mundial de maneira a projetar e pôr em prática o seu desenvolvimento econômico e industrial. O camarada Enver Hoxha prospectou essa tendência desde o seu gérmen como demonstra suas pequenas reflexões no longo livro de memórias e diários políticos Reflexões Sobre a China. Na época, o que se estabelecia, segundo Nils Andersson era a “Diplomacia do Ping-Pong” (que, diga-se de passagem, é muito pouco estudada e formulada em nosso território nacional, até mesmo pelos apologistas da política nacional chinesa pouco falam da consequência dessa política no Brasil, principalmente na época da ditadura militar fascista de 1964), que caracterizou em uma aproximação entre China e os Estados Unidos, marcada pelo encontro entre o Presidente estadunidense Richard Nixon e Mao Zedong na China em 1972 — visita na qual o PTA se posicionou contrário. 

Afastada da URSS desde os anos 60 após a ruptura com Nikita Khrushchev e profundamente pragmática em nome de seus interesses nacionais, a China passa a fazer uma aproximação oportuna (olhando para seu plano) junto os Estados Unidos da América (EUA) buscando seu lugar ao Sol. Essa aproximação com os estadunidenses já tinha uma data de validade para terminar de acordo com a estratégia delimitada pela China.

Logo após cumprir seus objetivos e metas econômicas oportunistas com os EUA, nada impediria a China de se voltar contra eles novamente quando tivesse reunida ao redor de si todo o aparato econômico, político e militar conquistados através dessa aproximação. Reunidas as condições essenciais, o objetivo passa para ultrapassar os EUA na luta para se tornar a principal superpotência imperialista do mundo, agora utilizando a Rússia (antigo adversário da China nos anos 70) como instrumento para combater a hegemonia dos Estados Unidos da América (EUA).

Toda essa estratégia complexa e oportunista da China foi observada pelo camarada Enver Hoxha ainda nos anos 70 — a única coisa que ele não teve condições de prever (o que seria até sobrenatural) foi a desintegração da URSS em 1991, assim, a única alteração que faríamos hoje seria de nomenclatura, pois a Rússia não perdeu seu posto de controle regional (com exceção dos países do leste europeu que ingressaram à OTAN) dentro da cadeia inter-imperialista, ela apenas encontrou novas contradições na região, devido a alteração concreta de seu controle regional após 1991. Sem mesmo ter traços diretos, o camarada Enver Hoxha descreve em 1978 a conjuntura de 2023 com uma precisão impressionante que confirmam a linha correta de sua análise no passado:

A política pragmática e confusa da China levou-a a tornar-se aliada do imperialismo norte-americano e a proclamar o social-imperialismo soviético como o inimigo e o perigo principal. Amanhã, quando a China verificar que alcançou seus objetivos de debilitar o social-imperialismo soviético, quando constatar que, segundo sua lógica, o imperialismo norte-americano estiver se fortalecendo, então, já que ela se apoia num imperialismo para combater o outro, poderá prosseguir a luta no flanco oposto. Nesse caso o imperialismo norte-americano poderá tornar-se mais perigoso e a China converterá automaticamente a atitude anterior em seu contrário.

A recente visita de Xi Jinping à Rússia para se encontrar com seu “velho amigo” Vladimir Putin marca e reforça, mais uma vez, a correta análise do camarada Enver Hoxha quanto a China tende, através de sua política, converter sua atitude anterior em seu contrário, pois ela precisa enfraquecer o imperialismo norte-americano ao passo que se torna uma potência ainda mais forte e mais capaz de questionar a hegemonia americana.

Na época da Albânia socialista, o camarada Enver Hoxha já comentava sobre como a China passaria a buscar se tornar essa superpotência: “Os esforços da China para tornar-se superpotência concentram-se em primeiro lugar na escolha dos aliados e na criação de alianças. Existem hoje no mundo duas superpotências o imperialismo norte-americano e o social-imperialismo soviético. Os dirigentes chineses julgaram que devem apoiar-se no imperialismo norte-americano, no qual depositam maiores esperanças de ajuda nos campos da economia, das finanças, da tecnologia, da organização, mas também sob o aspecto militar. O potencial econômico-militar dos Estados Unidos é realmente superior ao do social-imperialismo soviético. Os revisionistas chineses o compreendem muito bem, em que pese dizerem que a América está em decadência. No caminho que estão trilhando, eles não podem se apoiar num parceiro débil, do qual não possam se beneficiar grandemente. Escolheram os Estados Unidos como aliados precisamente porque estes são poderosos”.

Todo o plano da China traçado de se tornar uma superpotência que vem se construindo de acordo com determinada época se reforma de acordo com que o PCCh (particularmente a partir de seu 10º e 11º Congressos em diante) atua para transformar a realidade e a realidade se impõe novamente contra o partido, exigindo que ele remodele, transforme e altere sua tática pragmática de acordo com que atuou anteriormente — essa é a dialética da qual o camarada Enver Hoxha foi capaz de prospectar com grande clarividência revolucionária. 

Atualmente, todo o plano da China de cumprir com essa meta deu certo e, a passos largos, ela se torna a principal potência mundial e se torna capaz de se igualar — e, em alguns casos, superar — os Estados Unidos da América em todos os aspectos econômicos, políticos, sociais e militares. Apenas com algumas ressalvas específicas, os chineses já tem uma política e um plano tático estabelecido de como superar o seu principal concorrente na luta pelo domínio dos mercados do planeta, os norte-americanos.

Para os marxista-leninistas que querem entender as contradições estabelecidas hoje na cadeia imperialista, é mais do que necessário estudar a obra O Imperialismo e a Revolução. Ele explica com profundidade o despertar nacional chinês que mobilizou todo o seu partido em torno do plano que hoje se conclui com grande altivez: plano de se tornar uma superpotência imperialista esse que não seria possível se concretizar com enorme sucesso sem uma exploração cruel, desumana e criminosa da classe operária, dos camponeses e dos intelectuais chineses pela burguesia. 

A China e o PCCh, com Xi Jinping à frente, hoje não dá nenhum traço de abandono desse plano e da socialização dos meios de produção privados para colocá-los sob controle da classe operária no poder, pelo contrário, pela apenas o reafirma de congresso em congresso a necessidade de construção do “sonho chinês” e o plano de “modernização de uma grande população, da prosperidade comum para todos, do avanço material e ético-cultural, da harmonia entre a humanidade e a natureza e por meio do desenvolvimento pacífico”.

Em seu redundante e cansativo livro, Xi Jinping em A Governança da China deixa muito claro que o plano de modernização da China requer a expansão da política de abertura do revisionista e oportunista Deng Xiaoping:

As reformas de abertura estará sempre em curso e nunca terminará! A ‘Abertura’ é uma causa de longo prazo e árdua, o povo precisa trabalhar nela geração em geração. Devemos realizar reformas para melhorar a Economia de Mercado Socialista da China e aderir à política central do Estado de ‘Abertura’ para o mundo exterior. Devemos promover reformas em setores-chave com maior coragem e visão política, seguir em frente com firmeza na direção determinada pelo 18º Congresso do Partido.

[…] A ‘Mão Invisível’ e a ‘Mão Visível’ devem deixar o mercado desempenhar o papel decisivo na alocação de recursos, permitindo ao mesmo tempo que o governo desempenhe melhor suas funções. Esta é uma questão teórica e prática de grande importância. Uma compreensão correta e precisa desta questão é muito importante para promover as Reformas e promover o desenvolvimento sólido e ordenado da economia de mercado socialista. Devemos fazer bom uso dos papéis tanto do mercado, da ‘mão invisível’, como do governo, a ‘mão visível’. O mercado e o governo devem se complementar e coordenar para promover um desenvolvimento social e econômico sustentado e sadio.

[…] Devemos revolucionar a produção e o consumo de energia, revolucionar o mercado de energia. Prosseguiremos com a reforma de abertura, restauraremos o status da energia como mercadoria, construiremos um sistema de concorrência viável e criaremos um mecanismo no qual os preços da energia sejam, em grande parte, impulsionados pelo mercado. Além disso, mudaremos a forma como o governo supervisiona a indústria energética e estabeleceremos e melhoraremos a estrutura legal para o desenvolvimento energético.

O camarada Enver Hoxha coloca à prova do julgamento crítico da história a figura de Mao Zedong enquanto ponto de partida, uma crítica à medula racional do fenômeno e não às consequências dos pensamentos que surgiram como legados de sua ação teórica e prática. Dessa forma, a última parte do livro O Imperialismo e a Revolução dedicada a uma crítica profunda do Pensamento Mao Zedong é definitivamente uma contribuição teórica sem precedentes na história para a teoria marxista-leninista que é capaz de encontrar na própria figura de Mao Zedong e sua ação prática os contrários que se excluem.

Entre aqueles que colocam a crítica de Enver Hoxha à Mao Zedong como “desproporcional” ou mesmo desnecessária, pois o que seria correto deveria ser a crítica aos caminhos tomados pela China após 1976 com Deng Xiaoping, não reconhecem, ou, pelo menos tem a dificuldade de compreender que o camarada Enver já fazia uma extensa avaliação crítica da política chinesa desde 1962 — foram 16 anos acumulando informes, políticas, relatórios e compreendendo as tendências para entender a lógica por trás da política chinesa e da prática de Mao Zedong.

Dessa forma, Enver sabia melhor do que ninguém que a política nacional de Deng Xiaoping não começou nele mesmo. Ela já encontrava em seu antecessor todas as condições políticas e econômicas para ser posta em prática, pois não se tratava do pensamento de um único indivíduo com uma noção individual da realidade. Era a noção e a tendência de todo um partido que, em determinado momento histórico se encontrava em uma condição com Mao Zedong e, em outro momento, se encontrou com Xiaoping com novos desafios a se solucionar com base na política anterior e com reformas necessárias para a manutenção daquele regime.

Esses são alguns elementos que nos permitem ver que a obra O Imperialismo e a Revolução do camarada Enver Hoxha é uma leitura essencial e obrigatória para a formação política de todo revolucionário — uma leitura imprescindível para nossa época histórica e que nos permite entender como chegamos nas contradições candentes de nossa atualidade histórica. A política expressa no livro é um caminho que fortalece os princípios marxista-leninistas e arma todos os revolucionários e lutadores sociais para a construção da revolução socialista em nosso país e no mundo.

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