É importante observar que toda essa mobilização foi resultado da ação firme de Vinicius Júnior, que, durante o jogo e depois, denunciou os ataques racistas e exigiu punição. O exemplo de luta de Vini Jr contra o racismo reforça a necessidade de todos os negros conscientes e antirracistas irem às ruas em solidariedade aos que são vítimas do racismo em todos os países capitalistas.
Gabriel GB | Redação RJ
BRASIL – Os ataques racistas ao jogador Vinícius Júnior durante o jogo entre Real Madrid e Valencia, pelo Campeonato Espanhol, revelam, mais uma vez, a hipocrisia das instituições, da mídia e da democracia burguesa.
Não é a primeira vez que Vini é vítima do racismo e da segregação na Espanha. O brasileiro já foi chamado de macaco em outros episódios; teve objetos arremessados contra seu corpo e ainda colocaram um boneco simulando o jogador enforcado em um viaduto da capital espanhola. Casos como estes revelam o quanto países europeus conservam o preconceito racial e a xenofobia contra negros e imigrantes.
A hipocrisia da mídia burguesa
Após o acontecido, o jogador denunciou em suas redes digitais o racismo que vem sofrendo, a impunidade dos criminosos e a postura omissa por parte da La Liga (organizadora do Campeonato Espanhol) e denunciou o pronunciamento vergonhoso de Javier Tebas, presidente desta instituição, que, ao invés de condenar os ataques, preferiu fazer coro com os racistas. Os grandes jornais esportivos espanhóis também cumpriram o papel de encobrir os ataques sofridos pelo brasileiro.
Mas não é só na Espanha que a mídia é hipócrita. A imprensa hegemônica brasileira, enquanto aponta a ausência de políticas e leis de combate ao racismo na Espanha, vende, mais uma vez, a imagem do Brasil como país da democracia racial.
Ora, as leis de combate ao racismo no Brasil são desrespeitadas, relativizadas e deslegitimadas por parte dos próprios políticos fascistas, como o senador Magno Malta (PL/ES), que, durante sessão da Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, expressou o que pensam as elites brasileiras sobre os negros. Disse o canalha: “Então, é o seguinte: cadê os defensores da causa animal, que não defendem o macaco? O macaco está exposto. Vejam quanta hipocrisia! E o macaco é inteligente, está bem pertinho do homem, a única diferença é o rabo”.
Mas, após esse discurso criminoso contra o povo negro, o senador do partido de Bolsonaro continua recebendo R$ 50 mil por mês dos cofres públicos. Esta é a verdadeira democracia racial do Brasil: existem leis de combate ao racismo, mas não são suficientes para punir os infratores, que permanecem, em maioria, livres para praticar atos racistas.
Os estádios de futebol no Brasil também refletem o racismo presente na nossa sociedade: em um jogo de 2018, pelo Campeonato Carioca, o próprio Vini Jr foi vítima de racismo por parte de uma torcedora do Botafogo. Não houve punição nesta ocasião.
Capitalismo se vale do racismo
Outro fator que podemos observar com os ataques sofridos por Vinícius Junior é a falta de interesse por parte das instituições burguesas no combate ao racismo.
Após a denúncia de Vini Jr, deu-se início a uma grande campanha internacional em apoio ao jogador, que nasceu na periferia de São Gonçalo, Rio de Janeiro. Mas instituições como a Fifa, Uefa, clubes de futebol, entre outros, não se posicionaram. Quando muito, declararam uma solidariedade passiva ao jogador, evitando ir na raiz do problema para cobrar medidas efetivas por parte da La Liga e do Governo Espanhol.
Para se ter uma ideia, apenas depois do levante internacional em que artistas, figuras públicas e militantes do mundo inteiro se somaram, com manifestações em diversas capitais, como Rio de Janeiro e São Paulo, a polícia espanhola prendeu parte dos envolvidos no caso do boneco pendurado a um viaduto, simulando ser o jogador brasileiro enforcado.
Por fim, é importante observar que toda essa mobilização foi resultado da ação firme de Vinicius Júnior, que, durante o jogo e depois, denunciou os ataques racistas e exigiu punição. O exemplo de luta de Vini Jr contra o racismo reforça a necessidade de todos os negros conscientes e antirracistas irem às ruas em solidariedade aos que são vítimas do racismo em todos os países capitalistas.
Matéria publicada na edição nº 272 do Jornal A Verdade.