O trabalho do jornal A Verdade tem crescido enormemente. Desde que nos tornamos uma publicação quinzenal nossa produção de textos só tem aumentado. Nesse cenário um desafio se coloca: como escrever para o jornal A Verdade?
Felipe Annunziata | Redação
IMPRENSA – Nosso jornal está há 23 anos fazendo propaganda revolucionária e luta política junto a classe trabalhadora brasileira. Neste período fizemos denúncias desde a falta de esgoto em bairros pobres até a hipocrisia dos líderes dos países imperialistas.
Também sempre fizemos um trabalho fundamental de divulgação do marxismo-leninismo, da história de luta do nosso povo e da classe trabalhadora mundial. Tudo isso para cumprir o que sempre defendemos e está no slogan do nosso periódico: “Um jornal dos trabalhadores na luta pelo socialismo”.
Não somos uma imprensa imparcial, somos uma imprensa de partido. Ou seja, somos uma imprensa de classe com um objetivo. Isso é o que o nosso lema diz. Tendo isso em mente, cabe a questão: o que e como escrever para o jornal A Verdade?
Aqui temos uma pergunta que demanda muita reflexão para responder. Primeiro, pensemos no que precisamos escrever. Isto é, no conteúdo dos textos produzidos.
A resposta, podemos encontrar na nossa própria história. O conteúdo do jornal é sempre em defesa do socialismo como saída para as misérias que a exploração capitalista nos impõe. Portanto, toda nossa produção deve estar subordinada a este objetivo fundamental.
A divulgação do socialismo e a denúncia do capitalismo são, em si, pautas fundamentais do ponto de vista da nossa imprensa. Nesses dois temas, podemos falar de grandes assuntos como as guerras, a fome, o analfabetismo ou a importância do trabalho coletivo.
Mas também podemos usar esta perspectiva para trabalhar os temas que, às vezes, consideramos menores. Quando noticiamos uma luta de um bairro por melhor saúde, ou mesmo uma greve de uma categoria pequena de trabalhadores, estamos falando também sobre o capitalismo e a ação coletiva da classe trabalhadora.
Na realidade, estes tipos de matéria costumam inclusive ter mais repercussão em vários setores sociais. A denúncia das injustiças do capitalismo é algo que nosso povo sente na pele e a mídia burguesa não trata disso do ponto de vista da classe trabalhadora e quando um jornal trata disso desta forma chama muita atenção.
Um jornal dos trabalhadores
Aqui podemos ter um pequeno resumo do que consiste o conteúdo fundamental de A Verdade. Neste texto, no entanto, queria tratar da outra parte da nossa pergunta: como escrever para A Verdade?
Esta pergunta é muito importante quando pensamos numa imprensa revolucionária. Primeiro, porque a língua escrita é a principal forma de comunicação de massas que temos hoje no nosso trabalho revolucionário. Usamos a escrita num panfleto, no nosso jornal impresso, nos estudos das reuniões dos movimentos e até nas redes sociais.
Diante disso, cabe perguntar: para quem estamos escrevendo. Voltemos à parte inicial, quando lembramos do lema do Jornal, em especial o primeiro trecho “Um jornal dos trabalhadores”.
Se somos um jornal dos trabalhadores, é para a classe trabalhadora que devemos escrever. Nossa escrita, portanto, tem que seguir uma forma que qualquer pessoa do povo possa ler.
Não se trata aqui de rebaixar nosso conteúdo, tampouco de tirar a complexidade dos assuntos que tratamos. Quem acha que escrever de forma popular causa isso, está, na realidade, reproduzindo um discurso elitista que encontramos principalmente no meio acadêmico.
Do que adianta escrevermos de forma rebuscada, academicamente precisa e complexa, se poucas pessoas vão poder nos entender e consequentemente refletir sobre o conteúdo? No modelo de universidade capitalista este tipo de escrita só serve para atender aos egos de doutores e catedráticos.
Na universidade é comum, por exemplo, vermos em avaliações de trabalhos científicos expressões como “falta de erudição no texto” ou “o autor tem um vocabulário pobre”. Todas estas posições expressam o caráter de classe pequeno-burguês da estrutura acadêmica do capitalismo.
Às vezes, acabamos reproduzindo este sentimento nos textos que enviamos ao jornal. Não podemos admitir isto. Uma imprensa realmente popular deve escrever para a classe trabalhadora. E a nossa classe trabalhadora, vítima de 500 anos de exploração, nunca foi incentivada a criar uma cultura de leitura e estudo.
Na realidade, o ensino básico só foi universalizado na letra da lei em 1988, na prática isso ainda não ocorreu. Contamos com 18 milhões de analfabetos e semianalfabetos. Todas estas pessoas são essenciais para a construção de uma revolução. Portanto, temos que escrever principalmente para elas.
Então, coisas simples, como usar frases mais curtas, parágrafos e palavras menores, evitar ser redundante, são formas de tornar nossa escrita melhor. Podem nos ajudar muito também usar mais subtítulos e títulos diretos e curtos e sermos objetivos na informação ou análise apresentada num texto.
Segue um exemplo. Em vez de escrevermos “As incongruências da estrutura capitalista atual podem ser compreendidas como características supervenientes e relacionadas às relações socioeconômicas de exploração anteriores que sempre albergaram, por exemplo, a exploração das mulheres”, podemos escrever “As contradições do capitalismo podem ser entendidas como resultado das relações de exploração anteriores onde a exploração das mulheres, por exemplo, sempre fez parte”. O mesmo conteúdo, mas de forma muito mais objetiva e com palavras mais comuns ao dia a dia das pessoas.
Escrever para a classe trabalhadora
Outro ponto é quando formos tratar de temas mais complexos, pouco debatidos na sociedade ou que ainda estamos amadurecendo politicamente, não podemos pensar na nossa satisfação pessoal. Muitas vezes, queremos tratar de uma polêmica ou um tema mais difícil apenas para atender uma demanda particular.
Não se trata aqui de concluir que não temos que escrever textos sobre estes temas. Mas sim, pensar em como subordinar estes assuntos aos objetivos do jornal A Verdade. Se formos tratar de uma polêmica não devemos fazê-lo para “lacrar” nas redes digitais, mas sim para ajudar a militância do nosso partido a avançar num debate e avançar o nível de consciência da classe trabalhadora.
Portanto, tratar de temas complexos e polêmicos não nos serve como um fim em si mesmo, mas como um meio de ampliar a luta pelo socialismo. Parece uma conclusão evidente, mas, quando vamos colocar em prática, esses vícios sempre disputam nossa consciência, especialmente nos dias atuais, com a consolidação das redes sociais.
Para finalizar, cabe aqui exaltar que estas questões são desafios positivos colocados à nossa imprensa revolucionária. De fato, a ampliação da produção e do acúmulo de toda a militância na construção do jornal é uma realidade desde que viramos uma publicação quinzenal.
Nossa produção na edição impressa e virtual tem apresentado um crescimento sem precedentes. Os desafios que tentamos abordar de forma rápida aqui são as chamadas “dores do crescimento”. Quanto maior nossa imprensa popular e revolucionária, maior será também nosso trabalho em mantê-la popular e revolucionária.