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sexta-feira, 15 de novembro de 2024

Segregação social predomina no Distrito Federal

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O jornal A Verdade visitou a Ocupação Furnas para ouvir os relatos das famílias que vivem lá. O nome da ocupação vem do fato de estar localizada sob as linhas de alta tensão da empresa Eletrobras Furnas, sendo, portanto, um local de risco para os moradores.

Alexandre Ferreira e Thauany Pires | Brasília


LUTA POPULAR – Fundada há 63 anos, Brasília tem sua história marcada pela segregação social. Construída por milhares de trabalhadores vindos de todo o país, especialmente do Norte e do Nordeste. Muitos apenas com uma mala e pouco dinheiro. Outros, só com a roupa do corpo. Enfrentaram dias em estradas de barro, buscando novas oportunidades de trabalho na futura capital do país, arriscando a vida em transportes irregulares, os chamados “paus-de-arara”. Chegavam com muitas esperanças, que logo viraram frustrações. Após erguerem Brasília, os operários que levantaram a capital do país foram expulsos da área central – chamada de Plano Piloto – para terrenos distantes e sem nenhuma infraestrutura.

Durante a ditadura militar, a segregação social só cresceu. Em 1969, o então ditador-presidente, general Garrastazu Médici, manifestou ao governador geral (coronel Prates da Silveira) seu desagrado por ter em seu trajeto para o Palácio do Planalto e, deste, para o sítio do Riacho Fundo, numerosas e “incomodativas invasões”.

Para atender à observação presidencial, e tentando coibir a proliferação das favelas, o Governo do Distrito Federal instituiu a Campanha de Erradicação de Invasões (CEI). Esta área, anos depois, deu nome à atual cidade de Ceilândia, Região Administrativa com maior população do Distrito Federal. Entre os anos de 1970 e 1976, foram expulsas cerca de 120 mil pessoas de favelas e áreas centrais de Brasília.

Este projeto político de afastar o povo das áreas centrais continua sendo aplicado. Segundo dados preliminares do Censo de 2022, a comunidade Sol Nascente, em Ceilândia, ultrapassou a Rocinha, no Rio de Janeiro, e tornou-se a maior favela do país, contando com mais de 32 mil domicílios.

“Ocupamos, não temos outra opção”

Samambaia é outra Região Administrativa do DF que começou em decorrência da expulsão das pessoas do Plano Piloto. Atualmente, a região é caracterizada por um significativo crescimento urbano, tanto por meio de condomínios quanto por ocupações.

O jornal A Verdade visitou a Ocupação Furnas para ouvir os relatos das famílias que vivem lá. O nome da ocupação vem do fato de estar localizada sob as linhas de alta tensão da empresa Eletrobras Furnas, sendo, portanto, um local de risco para os moradores.

Mais de 100 famílias residem na ocupação e cada casa abriga uma história de vida diferente, famílias que ocuparam por não ter outra opção de moradia. Muitos estão desempregados ou o que ganham não é o suficiente para pagar aluguel, nem muito menos para comprar uma casa própria.

Loiane dos Santos, 42 anos, mora na ocupação há três anos com sua filha de dez e um filho de cinco anos, e relatou a dificuldade que passava quando morava de aluguel. “Não dá para pagar o aluguel, pois tem as contas de água, de luz e, quando vê, não sobra dinheiro para comprar mais nada, não sobra dinheiro para a comida, para comprar uma roupa para as crianças”.

Vindo de Santa Rita de Cássia, na Bahia, Edivan do Amaral, 48 anos, reside na ocupação desde 2011. É um membro ativo das reuniões do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) e, ao chegar no DF, encontrou aluguéis caros e salários baixos, o que o levou a participar da ocupação. “É errado que a gente vê aí, gente com duas, três casas, enquanto gente que não tem nenhuma. Isso não é certo não. Todas as pessoas deveriam ter onde morar”. Hoje, o sonho de Edivan é ter uma casa própria para construir uma família.

O risco que os moradores passam, devido à precariedade da moradia, sem saneamento e com muitos barracos construídos com madeirite. Devido a isso, em maio deste ano, um incêndio atingiu seis barracos. Felizmente, ninguém ficou ferido, mas o fogo consumiu tudo.

Rosimeire Ferreira foi uma das moradoras que teve seu barraco destruído pelo incêndio. “O sentimento é de raiva e de tristeza. A gente luta para conseguir as coisas, juntar dinheiro para comprar nossos móveis e aí vem o fogo e leva tudo. Graças a Deus, nem eu nem meus filhos nos ferimos. Mas bate uma revolta”, relata.

Rosimeire nasceu em Minas Gerais e veio para o Distrito Federal também em busca de melhores condições de vida. Tem três filhos e o mais novo ainda não completou um ano de idade. Seu sonho é ter uma casa própria e fazer uma faculdade para arrumar um emprego e pagar a educação universitária dos filhos futuramente.

Esta é a realidade de milhões de famílias no país, que, por não terem outra opção, ocupam para ter um teto para sobreviver.

Matéria publicada na edição nº274 do Jornal A Verdade.

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