A celebração do Cavalo Marinho pode incluir a presença de indígenas, representando a relevância das religiões afro-indígenas, especialmente a Jurema Sagrada e a Umbanda, que fazem parte do caldeirão cultural do evento.
Redação PE
CULTURA – Na zona da mata norte de Pernambuco e no sul da Paraíba, a celebração do Cavalo Marinho se apresenta como uma expressão cultural única, carregando consigo a história de luta e construção do povo negro e indígena do nosso país.
Essa manifestação artística, teve início no período dos engenhos de cana de açúcar em que trabalhavam muitos negros que vieram da África para serem explorados no período colonial pelos senhores de engenhos na região nordeste, e hoje, é representada por trabalhadores e trabalhadoras do corte de cana de açúcar, ainda em vigência em várias localidades dos dois estados. Nas entrelinhas dessa tradição, encontramos a história de um povo que enfrentou sucessivas tentativas de genocídios e de sua cultura, mas que resistiram preservando suas histórias e raízes.
O Cavalo Marinho é uma expressão singular, uma variante do famoso bumba meu boi, envolvendo um elenco com mais de 70 personagens, distribuídos em três categorias distintas: animais, humanos e seres fantásticos.
Entre essas figuras, encontramos o enigmático Capitão Marinho, que lidera a festividade, montado em seu cavalo e utilizando um apito para comandar os eventos. Ao seu lado, os companheiros que são chamados de Mateus e Bastião, inicialmente contratados para cuidar da festa, mas que, inevitavelmente, acabam se divertindo ao pregar peças uns nos outros. Além disso, encantadores casais, formados pelas damas e os galantes, prosseguem apresentando um emocionante baile.
A celebração do Cavalo-Marinho pode incluir a presença de indígenas, representando a relevância das religiões afro-indígenas, especialmente a Jurema Sagrada e a Umbanda, que fazem parte do caldeirão cultural do evento.
Dentre os animais que se destacam nessa manifestação, encontramos o ilustre boi e, claro, o próprio cavalo, que protagonizam momentos de grande fascínio para o público. Nessa representação viva, as cenas do cotidiano dos participantes são retratadas de maneira teatral, como se estivéssemos em um espetáculo popular ao ar livre, geralmente organizado em um semicírculo, proporcionando um espaço aberto e receptivo à plateia encantada.
Ao som harmonioso de sua melodia, a cada passo no chão de terra batida, ressoa a memória de uma história de resistência no campo, que se entrelaça à arte. Cada acorde no instrumento de rabeca, que é um instrumento de arco, precursor do violino, serve como elo que une o passado e o presente. Os mestres e caboclos de lança assumem o papel de guardiões dessa tradição, transmitindo com orgulho seus conhecimentos às gerações vindouras.
Nas entonações de cada verso e nos movimentos das brincadeiras, revela-se uma linguagem versátil, tecida com nuances de crítica social, registros históricos, política e espiritualidade. Personagens reais e imaginários dançam em uma sinfonia de músicas, loas e toadas, que carregam consigo representações profundas.
Tanto na expressão teatral quanto ao som dos tambores e dos versos cantados, o Cavalo Marinho nos ensina que a cultura é a essência de um povo, e que preservar suas raízes é honrar a história daqueles que vieram antes de nós. Nas entrelinhas dessa arte e cultura popular, encontramos um legado de resistência, força e beleza que merece ser celebrado e protegido.
Apesar das contínuas carências de apoio financeiro e infra estrutural por parte dos governos locais, que tornam desafiadora a manutenção dos grupos e a realização de apresentações regulares, os trabalhadores e trabalhadoras artistas e entusiastas dessa cultura essencial lançam um chamado para resistirmos contra os que querem ver o fim da cultura popular. Esse empenho genuíno nos conclama a todos para que reconheçamos a importância dessa manifestação artística e a riqueza que ela confere à identidade do nordeste brasileiro.
É um convite para todos que valorizam a diversidade e enxergam no Cavalo Marinho uma verdadeira joia da cultura popular e se unirem nessa luta pela preservação e perpetuação de uma herança do povo brasileiro que transcende gerações.
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Referência:
http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/501/