Segundo o levantamento, 795 indígenas foram assassinados no país, entre 2019 e 2022. Roraima e Amazonas, estados onde está a Terra Indígena Yanomami, somaram 208 e 163 assassinatos, respectivamente.
Heron Barroso | Redação
BRASIL – Por quatro longos anos, os povos indígenas sofreram com a crueldade do governo fascista do ex-capitão Jair Bolsonaro. É o que revela o relatório anual “Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil”, do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), divulgado no último dia 26 de julho.
Segundo o levantamento, 795 indígenas foram assassinados no país, entre 2019 e 2022. Roraima e Amazonas, estados onde está a Terra Indígena Yanomami, somaram 208 e 163 assassinatos, respectivamente. Em terceiro lugar, aparece o Mato Grosso do Sul, com 146 casos. Juntos, os três estados foram responsáveis por 65% do total de mortes violentas no período. Os dados foram coletados da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) e das secretarias estaduais de saúde.
“Esse relatório, diferente dos outros, fecha um ciclo da perversidade, de quatro anos de brutalidades. É por isso que a gente se preocupou em trazer os dados compilados dos últimos quatro anos. Porque no governo do inominável havia um roteiro programático do genocídio”, explicou Roberto Antônio Liebgott, responsável pelo estudo.
Política de extermínio
De fato, essa violência tem relação direta com a política indigenista do governo Bolsonaro. O ex-capitão foi o primeiro presidente desde a Constituição de 1988 a não homologar ou demarcar nenhuma terra indígena. Sem terras, florestas e rios, muitos indígenas são condenados à miséria ou obrigados a abandonar suas aldeias e vender sua força de trabalho por um salário de fome. Além disso, sofrem com as ameaças e o estado permanente de terror imposto pelos latifundiários, as mineradoras, o garimpo ilegal, o tráfico de drogas e a polícia.
Além dos casos de assassinatos, também cresceu o número de suicídios entre indígenas (535 casos), quase o triplo da média nacional. “Nos quatro anos que se passaram, a terra indígena foi invadida pela grilagem, pelo agronegócio, imobiliárias, grandes hotelarias. Parte do território que foi homologada está sendo grilada. Denunciamos? Sim, mas tem omissão por parte da Justiça da região”, denuncia Erilsa Pataxó, vice-cacica da Terra Indígena Barra Velha, na Bahia. “A gente, indígena, já começa a sofrer dentro do útero da nossa mãe, pela falta de assistência de saúde. Sofre preconceito, discriminação. Mas nem por isso nós vamos desistir. Quando se mata um indígena, nascem dez guerreiros para a luta. E a gente não vai desistir jamais do nosso território”, disse.
A fome entre povos indígenas também ganhou proporções de crise humanitária durante a gestão do ex-capitão. De acordo com o Cimi, entre agosto e dezembro do ano passado, o governo federal suspendeu o fornecimento de cestas básicas às aldeias, deixando ao menos 800 indígenas das etnias Avá-Guarani, no Paraná, e Mbya Guarani, no Rio Grande Sul, sem ter como se alimentar. Em Dourados (MS), houve casos de indígenas que foram buscar comida no lixo para não morrer de fome.
“A fome é resultado da desorientação do Estado brasileiro. É muita falta de piedade com o outro, de olhar os pobres, sem condições, sem emprego, sem possibilidade de plantar, não conseguimos produzir nada, não conseguimos ser ninguém”, critica Erileide Domingos, liderança indígena da aldeia Guyraroka.
Responsáveis precisam ser punidos
Talvez a face mais cruel do desprezo de Bolsonaro e dos generais que mandavam em seu governo tenha sido reservada às crianças indígenas. Foram mais de 3.550 crianças de até 4 anos mortas entre 2019 e 2022. Uma em cada três dessas mortes eram evitáveis, segundo o Cimi. Entre as principais causas dessa tragédia estavam a falta de acompanhamento da gestação, casos de gripe e pneumonia, desnutrição, diarreias e doenças infecciosas para as quais já há tratamento.
Para o Cimi, essa desassistência médica foi consequência de uma política deliberada do governo Bolsonaro e das Forças Armadas, que não moveram uma palha para impedir que grileiros e garimpeiros invadissem os territórios demarcados. “A captura da estrutura de saúde por garimpeiros gerou uma situação de desassistência generalizada no território”, afirma o documento sobre postos de saúde que fecharam no território Yanomami por falta de segurança.
O relatório conclui defendendo a necessidade de criação de uma Comissão Nacional Indígena da Verdade, tal qual a comissão criada em 2011 para investigar os crimes cometidos pela Ditadura Militar de 1964, para que se identifiquem e se responsabilizem os culpados pelo extermínio contra essas populações. Essa é uma demanda que precisa ser atendida pelo novo governo para que os responsáveis por esse verdadeiro genocídio sejam punidos e os direitos dos povos indígenas sejam garantidos e respeitados.
Matéria publicada na edição nº 276 do Jornal A Verdade.