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sábado, 27 de abril de 2024

Encontro Latino-Americano reúne mil mulheres de 11 países

 

Lideranças femininas do Brasil, Colômbia, Equador, República Dominicana, Paraguai, Peru, Argentina, Uruguai, México, Venezuela e El Salvador debateram a situação econômica, política e social em que vivem seus povos, aprenderam umas com as outras sobre as diferentes formas de luta e as formas de organização que o movimento de mulheres desenvolve em cada país. 

Redação


MULHERES – O 3º Encontro de Mulheres da América Latina e Caribe reuniu, com grande alegria e combatividade revolucionária, cerca de mil mulheres de 11 países, entre 21 e 23 de julho, na Universidade de Brasília (UnB). Nesses três dias, mulheres com várias idades, raças, trabalhadoras da cidade e do campo, estudantes, com deficiência, desempregadas, artistas, trabalhadoras autônomas, intelectuais, indígenas e quilombolas trocaram experiências e se fortaleceram para as lutas do dia a dia e para as lutas estratégicas contra o fascismo e pelo socialismo.

Lideranças femininas do Brasil, Colômbia, Equador, República Dominicana, Paraguai, Peru, Argentina, Uruguai, México, Venezuela e El Salvador debateram a situação econômica, política e social em que vivem seus povos, aprenderam umas com as outras sobre as diferentes formas de luta e as formas de organização que o movimento de mulheres desenvolve em cada país. 

O Encontro foi aberto com uma grande manifestação “Pelos direitos e pela emancipação das mulheres! Por uma América Latina e Caribe soberanos! Não à intervenção imperialista!”. 

Segundo Luz Eneida Mejía, do Movimento de Mulheres Trabalhadoras da República Dominicana, “as mulheres são uma força fundamental para a transformação social. Não há democracia, nem justiça, nem soberania sem a participação organizada das mulheres”. Em seguida, Yanel Mogaburo, do Partido Comunista Revolucionário da Argentina, afirmou: “Nós, mulheres, fomos as que mais sofremos na pandemia. Estamos aqui hoje pelas nossas filhas e por todas as mulheres. A luta de todo o povo pela sua libertação é também a nossa luta”. 

Carlin Camacaro, do Movimento de Mulheres Ana Soto, da Venezuela, manifestou a importância da solidariedade latino-americana ao seu povo e às mulheres venezuelanas, que vivem constantes ataques do imperialismo norte-americano. Outra importante denúncia foi de Milagros Lerzundi, do Movimento de Mulheres pela Libertação Social do Peru, relatando que seu país passa por um momento de gigantescas manifestações em defesa da democracia e pelos direitos da classe trabalhadora, contra os golpistas que tentam implantar mais uma ditadura.

Ana Cristina, da Colômbia, denunciou que “nós, mulheres colombianas, sofremos com aumento da violência do Estado, que assassina milhares de lideranças políticas em nosso país, fruto do aumento da militarização e da presença do imperialismo”.

No encerramento do ato, foi entregue um manifesto assinado por todos os países presentes às representantes dos Ministérios da Igualdade Social – Rachel Barros; dos Povos Indígenas – Jozileia Kaigang; e das Mulheres – Ísis Táboas. Todas se comprometeram publicamente a debater o documento e dar encaminhamentos às pautas.

Abertura e informes dos países

“Porque nós estamos cansadas de morrer de fome, de morrer pela violência do Estado e de morrer pela violência machista. Nós estamos cansadas de ver o Estado olhar para as nossas vidas como se elas não valessem nada. E nós sabemos que só a luta e a organização das mulheres são capazes de fazer enfrentamento a essa realidade”, declarou Indira Xavier, do Movimento de Mulheres Olga Benario, na cerimônia de abertura do Encontro, na tarde do primeiro, já nas dependências da UnB. Estiveram presentes na mesa também:  Márcia Abrahão Moura – Reitora da UnB; Maria Lúcia Fattorelli – Auditoria Cidadã da Dívida; Erika Kokay – deputada dederal (PT-DF); Denise Carvalho – Secretária de Ensino Superior do MEC; Célia Watanabe – Ministério das Mulheres.

Em seguida, cada um dos países participantes apresentou seu informe sobre a situação local. Em comum, apontaram como as contradições entre as classes dominantes, o proletariado e os setores oprimidos foram aumentando nos últimos anos, com milhões vivendo na miséria, enquanto as potências econômicas buscam aumentar seu domínio sobre a América Latina e o Caribe, promovendo golpes de Estado, invasões e guerras para manter os privilégios de um punhado de monopólios imperialistas.

Mireya Lara, do movimento equatoriano Mujeres por el Cambio (Mulheres pela Mudança), denunciou que o presidente Guillermo Lasso dissolveu a Assembleia Nacional devido a uma forte crise social e política e que vem por decreto e vem governando, mas que “os graves problemas de insegurança, o aumento do narcotráfico e do crime organizado continuam, porque os responsáveis estão nas mais altas esferas das instituições burguesas: poder executivo, órgãos de justiça, nas chefias da Polícia, das Forças Armadas e da Marinha; os donos ou acionistas de bancos, empresas poderosas e grandes meios de comunicação”.

O informe da Venezuela revelou a crise enfrentada com o bloqueio econômico imposto pelos Estados Unidos há anos: “A Venezuela tem resistido e lutado desde a chegada de Chávez ao governo, com constantes agressões do bloqueio imperialista dos Estados Unidos e da União Europeia, dentre as quais, destacamos: golpe de Estado, inflação induzida, ataques à moeda nacional, ameaças de intervenção militar e paramilitarismo”.

Na Argentina, que também enfrenta uma crise econômica com milhões de desempregados e uma inflação alta, o povo foi às ruas mostrar como se enfrenta tentativas golpistas que atacam contra as liberdades democráticas. “Há algumas semanas, o povo de Jujuy saiu às ruas para enfrentar a reforma da constituição desta província, que está nas mãos da ditadura, por um aumento salarial, pela defesa das terras dos povos nativos e pela defesa dos recursos naturais e das liberdades democráticas. A repressão do governador Morales foi feroz. Nas ruas e nas estradas, o povo assumiu a liderança da luta. Fizeram isso com assembleias e outras formas de mobilização e de democracia direta. Foram dias que contaram com a solidariedade em toda a extensão do país”.

Grupos de debates e resoluções políticas

Todo o segundo dia foi dedicado aos grupos de debates, abarcando 16 temas, como as mulheres no trabalho, na educação e na saúde; mulheres negras; povos e territórios originários; luta anti-imperialista; etc.

No último dia, foi realizada a exposição das propostas aprovadas nos grupos temáticos, fruto de uma rica troca de experiências e de debates, que resultaram numa grande construção coletiva de pautas e de lutas a serem encaminhadas para os próximos anos em todo o continente.

Foi ainda realizada uma linda homenagem, conduzida por Vivian Mendes, dirigente da Unidade Popular (UP) e integrante da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos, a quatro companheiras que são exemplos de luta e de vida para todas as mulheres: Cristina Cabib, das Mães da Praça de Maio (Argentina); Maria das Graças (Gau), militante do Partido Comunista Revolucionário (PCR), que lutou contra a ditadura militar brasileira; Guita Marli, precursora do Movimento de Mulheres Olga Benario e membro da Redação do jornal A Verdade; e Ñasaindy Barrett (filha de Soledad Barrett, militante internacionalista morta e desaparecida no Brasil em 1973).

Foi um momento muito emocionante, em especial quando Ñasaindy declamou, em português e em espanhol, uma poesia deixada pela sua mãe: “Mãe, me entristece te ver assim/ O olhar quebrado dos teus olhos azuis céu em silêncio/ Implorando que eu não parta/ Mãe, não sofras se eu não voltar/ Me encontrarás em cada moça do povo, desse povo, daquele, daquele outro/ Daquele próximo, daquele longínquo/ Talvez cruze os mares, as montanhas, os cárceres, os céus/ Mas Mãe, eu te asseguro, que sim, me encontrarás/ De cada criança feliz, de um jovem que estuda, de um camponês em sua terra, de um operário em sua fábrica/ Do traidor em forca, do guerrilheiro em seu posto/ Sempre, sempre me encontrarás/ Mãe, não fique triste, tua filha te ama”.

Por fim, foi aprovada a Declação Final do encontro, juntamente com uma agenda de lutas, que culminará na Jornada Latino-Americana e Caribenha contra o Fascismo e o Imperialismo, pela Soberania e pelos Direitos das Mulheres, além de escolhida a Argentina como o próximo país-sede do 4º Encontro de Mulheres da América Latina e do Caribe, em 2026.

Matéria publicada na edição nº276 do Jornal A Verdade.

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