Além de entrar, que as estudantes possam permanecer. Para que universidade não sirva apenas como um meio para sua formação profissional, mas como espaço onde, não somente as mulheres, mas todos possam se desenvolver social e politicamente de forma coletiva.
Elisa Polzin*
VIÇOSA – É evidente que uma das diversas opressões do sistema capitalista é a dificuldade de acesso das mulheres aos cursos de graduação por meio de vestibulares. Depois que entram ainda podem sofrer de muitas maneiras: física e psicologicamente, com
assédios morais e sexuais.
Isso faz com que a universidade seja um espaço onde as mulheres
precisam combater diariamente violências, principalmente mulheres trans, travestis
e pessoas não-binárias, para continuar estudando.
Na Universidade Federal de Viçosa não é diferente. Ao longo de muitos anos vemos
os relatos e a falta de providências. Em julho de 2023 tivemos um professor
demitido por denúncias de estupro. Edson Ferreira Martins, professor do
Departamento de Letras é acusado por 11 alunas e ex-alunas.
Em agosto ele é readmitido – uma decisão liminar da justiça que determina a imediata reintegração do docente ao quadro de servidores da instituição. Como as alunas vão se sentir ao continuar tendo aula com Edson?
Para além deste caso, temos o exemplo da insegurança das meninas que moram
dentro da UFV. Como afirmado pela CME (Comissão das Moradias Estudantis), o
desconforto é gigante.
Em abril deste ano uma moradora foi até a portaria à noite para buscar seu lanche e foi assediada pelo porteiro, em sua própria casa. O servidor terceirizado foi demitido. Dessa forma, muitos são os exemplos para poucas ações preventivas ou atitudes concretas acerca das violências sofridas por todo o corpo estudantil.
Durante a gestão Sem Tempo Para Ter Medo, dirigida pelo Movimento Correnteza, o
Diretório Central dos Estudantes realizou diversos espaços de acolhimento e
escuta, palestras, rodas e grupos de discussão com profissionais da área da
Psicologia e Direito a fim de promover o debate sobre a problemática, cobrar e
impulsionar providências.
Além disso, foi construído e divulgado coletivamente um material explicando sobre os tipos de assédio e como denunciar. Como fruto dessas lutas, a universidade hoje promove uma maior divulgação de seus espaços de denúncia: a USC (Unidade Seccional de Correição) e a Ouvidoria, que é responsável por receber e acompanhar os casos (https://ouvidoria.ufv.br/denuncia).
A reitoria também articula uma Comissão de Direitos Humanos e Combate às Opressões. Entretanto, na prática ainda precisamos de medidas mais efetivas para pôr fim a essa violência.
As estudantes pedem a expulsão dos assediadores da UFV. Queremos que nosso caminho de volta para casa seja mais iluminado; mais seriedade das administrações ao tratar das violências que sofremos por existir no campus, para que esses pedidos possam ser levados adiante, investigados em instâncias competentes com
encaminhamentos práticos e que possamos viver e estudar em paz.
Além de entrar, que as estudantes possam permanecer. Que a universidade não
sirva apenas como um meio para sua formação profissional, mas como espaço
onde, não somente as mulheres, mas todos possam se desenvolver social e
politicamente de forma coletiva.
Conheça o Movimento de Mulheres Olga Benário e o Movimento Correnteza, se
organize e denuncie. Nós não estamos sozinhas.
Por uma universidade e sociedade livres de assédio e de todas as opressões que
este sistema impõe ao nosso povo! Seguimos em movimento e luta.
* Estudante de Ciências Sociais na UFV e militante do Movimento de
Mulheres Olga Benário.