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quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Líder quilombola Mãe Bernardete é assassinada na Bahia em crime brutal

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Ialorixá e líder do quilombo Pitanga dos Palmares, localizado em Simões Filho, região metropolitana de Salvador, foi executada na última quarta-feira (17) dentro da própria casa. Há indícios de que o crime foi motivado pela disputa das terras do quilombo. 

Isabella Tanajura | Salvador


SALVADOR – Bernadete Pacífico, conhecida como Mãe Bernadete, foi vítima de mais um crime brutal contra lideranças populares e negras, no último dia 17, no Quilombo Pitanga dos Palmares em Simões Filho, na região metropolitana de Salvador. Durante a noite, o quilombo foi invadido e Bernadete assassinada com 12 tiros no rosto enquanto os netos estavam na sala ao lado. 

Mãe Bernadete lutava, desde 2017, pela responsabilização dos envolvidos no assassinato de seu filho, Binho do Quilombo, vítima de um crime parecido com o que a própria líder quilombola sofreu. A ialorixá estava inserida no Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos (PPDDH) do Governo Federal desde a execução do filho, medida que deveria garantir a segurança da ialorixá em sua rotina no quilombo. 

Em julho deste ano, Bernadete chegou a se encontrar com Rosa Weber, então presidente do Supremo Tribunal Federal (STF). Na oportunidade, ela relatou as ameaças de morte que sofria e o estado de constante tensão pelo monitoramento constante.

Jurandir Pacífico, filho de Mãe Bernadete, segura um arranjo de flores no sepultamento no último sábado (19). Foto: Rafael Freire / Jornal A Verdade

Comunidade se despede de Bernadete em clima de revolta 

No dia seguinte à morte de Mãe Bernadete, ocorreu um ato na Praça da Piedade em que os movimentos negros e lideranças populares exigiam o fim do genocídio do povo preto na Bahia, estado que mais mata pessoas negras no Brasil por operações oficiais pela Polícia Militar. O caso de Bernadete foi mais um motivo de revolta dos presentes pela omissão do Estado em proteger e garantir a vida de uma liderança tão importante para os quilombos de todo o Brasil. 

Atualmente, a Bahia é também o estado com a maior população quilombola no Brasil com 29% dos 1,3 milhão de pessoas quilombolas (equivalente a 397.059 pessoas). Segundo levantamento da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (Conaq), organização que Bernadete era líder, 30 quilombolas foram assassinados no país nos últimos 10 anos. A Bahia ocupa o primeiro lugar na lista de estados com maior número de casos, com 11 quilombolas mortos. 

Durante o sepultamento que ocorreu no sábado (19) no Cemitério Quinta dos Lázaros, em Salvador, lideranças quilombolas, de movimentos sociais, políticos, amigos e familiares se despediram de Mãe Bernadete com as palavras de ordem “Bernadete, presente!” e “Titulação já!”, exigindo justiça e reconhecimento imediato das terras do Quilombo Pitanga dos Palmares, do qual ela era líder.

Um ato nacional contra o genocídio do povo negro já estava convocado para o dia 24 de agosto e, agora, a luta por justiça para Mãe Bernadete estará presente também na pauta.

A realidade só mudará com a transformação do luto em organização do povo negro para acabar com o capitalismo, sistema que permite a exploração e a opressão do povo periférico e preto há mais de 500 anos no Brasil.

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