Redação MG
LUTA POPULAR – Na madrugada do dia 28 de julho, cerca de 200 famílias organizadas pelo Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) ocuparam um prédio vazio na Rua da Bahia, região nobre do Centro de Belo Horizonte (MG). A Ocupação Maria do Arraial contou com o apoio de outros movimentos de luta por moradia, que reivindicam a função social de imóveis vazios para políticas habitacionais dignas.
Segundo Poliana Souza, da Coordenação Nacional do MLB, “ocupar o Centro é lutar integralmente pelo direito à cidade, que vai além da moradia. A região é dotada de infraestrutura, aqui temos acesso a saneamento básico, educação, transporte, saúde, cultura. Ocupar o Centro garante ao povo o direito à moradia e a uma série de outros direitos básicos”.
A nova ocupação se soma às lutas do MLB em todo o Brasil, denunciando o absurdo cenário de especulação imobiliária envolvendo mais de 18 milhões de imóveis vazios e um déficit habitacional de mais de oito milhões de famílias.
Minas Gerais possui o segundo maior déficit do país, com cerca de 500 mil famílias sem casa. Apenas em Belo Horizonte, existem mais de 107 mil imóveis sem função social. O Romeu Zema, governador do Estado, nada faz em relação às políticas de habitação, e ainda quer acabar com o órgão responsável pelo setor, a Cohab, intensificando um sucateamento em curso nos últimos sete anos. O descaso é tal que a população sem-teto quase dobrou neste período, chegando a 11 mil pessoas.
Entre as famílias da Ocupação Maria do Arraial está Simone Fernandes, de 65 anos, que faz parte do núcleo de luta do MLB. “Eu estava morando de aluguel com meu esposo e ele infartou, por isso não está aguentando trabalhar. Eu sozinha não estava dando conta de pagar aluguel, remédio, consultas especializadas”.
A cidade de Belo Horizonte nasceu com caráter higienista, expulsando famílias pobres e negras que habitavam o Arraial Curral Del’Rey. O caso mais famoso é o de Maria Papuda ou Maria do Arraial, senhora negra que morava onde hoje está o Palácio da Liberdade, e que é homenageada por esta Ocupação. Maria é relembrada por ser a mulher que disse “Não” aos poderosos e resistiu aos primeiros despejos que se tem registro na cidade.
O histórico de políticas e ações violentas de expulsão do povo pobre de regiões que interessam ao capital e a especulação imobiliária dura até hoje. Com a nova ocupação, o MLB dá uma resposta a essa política elitista, racista e que só interessa à burguesia. Além disso, traz o resgaste histórico da memória da luta de Maria do Arraial, história essa apagada dos livros. Agora ela volta para o Centro de Belo Horizonte, lugar de onde jamais deveria ter saído.
Matéria publicada na edição nº276 do Jornal A Verdade.