Matheus Araújo e Mariana Belfort | Recife
LUTA POPULAR – Após 17 anos de resistência, as famílias da Ocupação Mulheres de Tejucupapo conquistaram seu direito à moradia digna. A Ocupação nasceu em 2006, no bairro da Iputinga, com mais de 200 famílias sem-teto organizadas pelo Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB). Foram seis anos morando em barracos de madeirite e lona, e mais 11 anos de luta para a construção do Habitacional. O ato de entrega foi realizado no dia 28 de julho.
O nome faz alusão às quatro Marias (Maria Camarão, Maria Quitéria, Maria Clara e Maria Joaquina), que lideraram, em 1646, a resistência à invasão holandesa em de Tejucupapo, região que fica na Zona da Mata de Pernambuco.
Para Serginaldo Santos, coordenador do MLB, essa conquista “só foi possível graças à determinação das famílias, que realizaram reuniões, assembleias, manifestações, pararam ruas e ocuparam órgãos do Governo para garantir que, de fato, o sonho da casa própria fosse realizado”. Ao longo dos 17 anos de luta, o movimento enfrentou muita dificuldade porque, apesar de conseguir o recurso para a construção com o Ministério das Cidades, a obra era de responsabilidade do Governo do Estado e passou por quatro empresas diferentes.
Ao todo, são 272 apartamentos que contam com dois quartos, cozinha, banheiro e sala. A imensa maioria das famílias é chefiada por mulheres, uma boa parte delas já idosas, que lutaram uma vida inteira para conseguirem conquistar sua moradia. É o caso de Dona Margaret Belo, 52 anos, artesã. “É graças à nossa organização que agora temos um lugar digno para morar e relembrar todas as pessoas que fizeram parte dessa caminhada, algumas que, infelizmente, não estão mais aqui. Estou feliz. Foram muitos anos de luta e de aprendizado. Enquanto ocupamos, também estudamos e fizemos cursos pelo movimento”, afirma.
Durante a cerimônia, Natália Lúcia, coordenadora da Central de Movimentos Populares (CMP) e militante do MLB, lembrou que “a luta por moradia digna não se encerra com a entrega do condomínio, porque moradia digna também significa ter acesso à creche, escola, saúde, lazer e segurança”. Por isso, afirma também que as famílias organizadas permanecerão firmes para cobrar os compromissos firmados pelo Governo do Estado.
Esse é o segundo habitacional entregue pelo MLB na cidade de Recife neste ano. Em maio, o Movimento realizou a entrega do Habitacional Ruy Frazão, em Afogados (ver A Verdade nº 269). Assim, mais uma vez, fica claro que o povo organizado tem muito a conquistar.
Matéria publicada na edição nº 276 do Jornal A Verdade.