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domingo, 28 de abril de 2024

O que acontece quando a taxa de juros cai?

Está claro que a redução dos juros, por si só, é insuficiente para a retomada do crescimento e a geração de empregos. A razão disso é a brutal concentração de riqueza da sociedade brasileira.

Redação Rio


BRASIL – Em maio, a inflação acumulada em 12 meses medida pelo IPCA foi de 3,94%, o menor valor desde a pandemia de Covid-19. Para essa queda, foram decisivas a valorização do real e a redução dos preços dos combustíveis. Assim, apesar da sabotagem do Banco Central (BC), fica cada vez mais insustentável a manutenção da taxa básica de juros, a taxa Selic, no seu atual patamar de 13,75% a.a.

Como vem sendo denunciado há meses, a política de juros altos promovida pelo Banco Central aumenta o pagamento de juros pelo setor público, encarece o crédito e desestimula o investimento produtivo. Por isso, há uma justa reclamação contra a posição do BC, inclusive do próprio presidente Lula (vale lembrar que o atual presidente do BC foi indicado por Bolsonaro).

Mas, o que acontece quando o Banco Central, mesmo a contragosto, for forçado pelos fatos a reduzir a taxa Selic? Nesse momento, ficará claro que a redução dos juros, por si só, é insuficiente para a retomada do crescimento e a geração de empregos. A razão disso é a brutal concentração de riqueza da sociedade brasileira.

De fato, as 0,1% maiores contas de investimentos movimentam 37,8% do total de riqueza financeira do país (títulos públicos, ações, CDBs, cotas de fundos de investimentos, caderneta de poupança, etc.). Para os magnatas donos dessas contas, a principal questão econômica é onde aplicar essa montanha de dinheiro. Ou seja, como valorizar esse capital. É aí que a taxa de juros funciona como direcionador. Se a taxa de juros estiver alta, há migração desse capital para os títulos de renda fixa (títulos públicos), cuja remuneração é direta ou indiretamente vinculada à taxa Selic. Inversamente, quando a taxa de juros apresenta tendência de queda, o capital foge da renda fixa em direção à renda variável (ações). É por isso que o índice da bolsa de São Paulo (B3) cresceu tanto entre o segundo semestre de 2020 e o primeiro de 2021, justamente o período em que a taxa Selic atingiu o mínimo histórico de 2,0% a.a.

Da mesma forma, é a expectativa atual de redução da Selic a principal explicação para o crescimento de cerca de 20% da bolsa no segundo trimestre deste ano. Em resumo, o capital arbitra entre títulos públicos e ações a depender das sinalizações e expectativas em relação à taxa de juros.

O problema é que esse comportamento é extremamente nocivo para a economia nacional. Em ambos os casos (ações ou títulos públicos), a valorização auferida é sempre fictícia, ou seja, é uma valorização que ocorre sem a intermediação do trabalho, sem a criação de novos bens e serviços. Portanto, não gera emprego e renda. Pelo contrário, pode incentivar a formação de bolhas financeiras, preparando o cenário para novas crises.

Assim, é uma ilusão achar que a queda da taxa Selic é a solução para o desenvolvimento do Brasil. O capital financeiro não mudará suas características nem sua forma de valorização quando os juros caírem. Nas condições atuais, a chave para o crescimento é o investimento público, o aumento do número e do escopo de atuação das estatais, a ampliação dos direitos e da remuneração dos trabalhadores e a redução dos espaços de valorização do grande capital privado através das reformas agrária e urbana. Entretanto, as amarras impostas pelo próprio governo, como o Arcabouço Fiscal, restringem a capacidade do poder público de enfrentar esse mecanismo de valorização. 

É preciso enfrentar o poder do grande capital com uma política econômica popular, que favoreça o investimento público e combata o domínio do capital financeiro sobre a economia brasileira.

Matéria publicada na edição nº 276 do Jornal A Verdade.

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