Trabalhadores de TI no Porto Digital, Pernambuco, buscam reajuste salarial que cubra inflação e ganho real. Liderados pelo SINDPD-PE, mobilizam-se contra proposta de 2% de reajuste do Sindicato Patronal (SERPROPE).
Jesse Lisboa e Beatriz Fulco | Recife
TRABALHADORES – Em uma expressiva demonstração de unidade e busca por melhores condições salariais e de trabalho, trabalhadores do setor de Tecnologia da Informação (TI) organizaram um ato nesta terça-feira (22). Os profissionais se reuniram em frente ao SOFTEX, na Rua da Guia, para expressar sua insatisfação com as atuais propostas salariais e para reivindicar reajustes necessários para a categoria. Sob a liderança do SINDPD-PE, essa mobilização reflete a determinação da categoria em conquistar condições mais justas e de acordo com o papel fundamental que desempenham na área de tecnologia em crescimento.
Levando isso em consideração, resolvemos fazer uma entrevista com o líder sindical Bruno Lira, com o objetivo de entender mais sobre as demandas da categoria e seu ponto de vista sobre a organização do ato pelo reajuste salarial:
A Verdade – Poderia fornecer algum contexto sobre a situação atual dos trabalhadores de TI em empresas privadas, especialmente aqueles localizados no Porto Digital? O que motivou a necessidade dessa mobilização?
Bruno – Como eu comecei minha carreira aqui mesmo no Porto Digital, eu vi isso na prática, porque a gente está numa área absurdamente liberal. A gente tem na nossa cabeça desde o início uma ideia individual. Então todo mundo acha que vai ser o próximo Mark Zuckerberg. Daí tiram da gente a noção de coletivo e o poder do trabalhador de TI. Eu tô aqui hoje por causa da proposta ridícula do Sindicato Patronal, de 2% de reajuste, ou seja, praticamente metade da inflação; e para tentar mobilizar o povo a ter uma noção do que juntos nós podemos fazer.
A Verdade – Poderia detalhar as negociações com o Sindicato Patronal (SERPROPE) até o momento? Quantas rodadas de negociações ocorreram e qual foi o resultado dessas discussões?
Bruno – Nessa negociação, estão sendo tratadas só questões financeiras, ou seja, mais especificamente o reajuste. Então, o que o sindicato tá em busca agora é de um reajuste que cubra a inflação, esse seria o mínimo. O Sindicato Patronal está se negando e só propôs o índice na 4º reunião de negociação. Ou seja, foram enrolando até chegar agora para compor um índice que não faz sentido nenhum. Então o sindicato está aqui para tentar mostrar ao povo o que está acontecendo. Ocorreram quatro rodadas de negociação e o resultado é o Sindicato Patronal querendo basicamente largar de mão da gente, né? Deixar a gente de lado com uma proposta ridícula, que não faz sentido nenhum pra categoria, pra ninguém. A gente teve uma inflação de, aproximadamente, 4%. Logo, uma proposta de reajuste de 2% não faz sentido nenhum.
A Verdade – O crescimento de 29% no ecossistema do Porto Digital foi destacado. Como você enxerga o papel dos trabalhadores de TI em contribuir para esse crescimento, e como isso se relaciona com as demandas feitas pelo SINDPD-PE?
Bruno – Agora, a gente está tentando tratar apenas da pauta financeira do reajuste, sendo uma negociação mais focada, mas não deixando de lado a questão do aumento de 29% do Porto Digital, né? O Sindicato está ciente disso e vê que não teve nenhum crescimento para a categoria. Não faz sentido que uma área cresça 29% e os trabalhadores dela não sintam nenhum reflexo positivo. É algo que o SINDPD-PE tem sim a vontade de atuar sobre, mas no momento a gente não está com nenhum projeto concreto. Negociar primeiro o reajuste para poder partir para outras pautas.
A Verdade – Poderia detalhar as possíveis implicações caso as negociações não alcancem uma resolução satisfatória?
Bruno – Em relação às implicações dessa negociação, se a gente não conseguir um valor satisfatório, uma porcentagem satisfatória desse reajuste, o que vai estar acontecendo, realmente, é que o salário de todo mundo aqui da área, vai estar sendo reduzido no fim das contas, porque a inflação vai estar “comendo” nosso salário. A gente não teve um reajuste suficiente para cobrir essa inflação, e, no fim das contas, a gente teve um decréscimo salarial. Em relação a uma greve, a gente tem uma grande dificuldade, pela área de TI, pelo pensamento individualista mesmo dos trabalhadores da categoria. Na pouca vivência que eu tenho por aqui, eu vejo muito desse pensamento individualista e de uma conotação negativa do sindicato entre as empresas. A gente está tentando mudar isso, mas é necessário ter o apoio da classe, é necessário ter o apoio dos trabalhadores para que a gente possa realmente fazer mudanças na área.
A Verdade – Por último, como as partes interessadas, incluindo o povo e aqueles dentro da indústria de tecnologia, podem mostrar seu apoio ao SINDPD-PE e seus objetivos durante este período de mobilização e negociação?
Bruno – O que eu julgo mais importante é entender o que tá acontecendo e participar das manifestações, participar da luta do povo para que a gente consiga alguma coisa. Porque no fim das contas, se a gente não tiver dinheiro, mas tiver 500 mil pessoas na rua, isso é o que importa, para a categoria não só ajudar o sindicato, mas ela mesma.
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