Casa Almerinda Gama promove oficina de mandalas para mulheres vítimas de violência de gênero

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A Casa Almerinda Gama, construída pelo Movimento de Mulheres Olga Benário, promoveu uma oficina de arteterapia, com mandalas artesanais, para as mulheres vítimas de violência doméstica. 

Gabrielle Batista* | Rio de Janeiro


MULHERES – O Movimento de Mulheres Olga Benário é um movimento que nasceu a partir da necessidade de organizar mulheres trabalhadoras, estudantes, jovens, negras, indígenas. É o primeiro e único movimento feminista brasileiro responsável por construir ocupações de Mulheres na América Latina e Caribe. São mais de 10 anos de um extenso trabalho coletivo de mulheres que organizam sua luta pelo fim da violência de gênero e pleno acesso à segurança, à moradia, educação e saúde das mulheres brasileiras.

A Casa de Referência e Acolhimento à Mulher, Almerinda Gama realiza atividades culturais e políticas diversas na nona Ocupação de mulheres realizada pelo Movimento Olga Benário no país e a 1a no Estado do Rio de Janeiro. A oficina de mandalas é uma das iniciativas do Movimento Olga Benário de construir um espaço de resistência política e cultural para as mulheres acolhidas pela Casa. 

Ao ser perguntada sobre como está sendo a experiência de participar desta oficina, uma das mulheres abrigadas, expressa como se sente ao participar dessa atividade “É uma terapia, tira os meus pensamentos ruins”. Uma outra mulher que também reside na casa, explica como participar da criação de mandalas torna mais fácil lidar com sentimentos difíceis e desperta um olhar curioso sobre a vida. Em suas palavras: “Desperta a minha curiosidade, reduz a minha ansiedade e é uma terapia não convencional”.

Oficinas fortalecem as vidas das mulheres

Com estes relatos, é possível perceber que a Casa Almerinda Gama, promovendo atividades como oficinas culturais e artísticas, fortalece a vida dessas mulheres, para que elas continuem tentando vencer o ciclo cruel da violência, e romper com a dependência emocional e financeira de seus abusadores.

O Projeto Mandalar, criado por Gleice Medeiros, psicóloga e uma das responsáveis pela criação da oficina na ocupação, é o que inspira Gleice a elaborar um espaço de criação artística, de resistência e cura para mulheres vítimas de violência de gênero. A psicóloga, muito apaixonada por sua profissão, ligou seu amor pela psicologia a sua paixão por elaborar criação de mandalas, no intuito de pensar e concretizar o projeto “Mandalar” que foi elaborado com o objetivo de criar espaços de criação artísticas para mulheres, sobretudo mulheres vítimas de violência de gênero.

Nat Caputo, artista e também uma das responsáveis pela oficina na Casa Almerinda Gama   acredita que a oficina de mandalas buscar viabilizar “autonomia financeira” das abrigadas que podem descobrir uma nova profissão com o conhecimento sobre criar artesanatos quaisquer forem. Além disso, para Nat a oficina serve para resgatar as potências de ser independente que essas mulheres, ao serem violentadas, acabam perdendo.

Rafaela Falcão, Coordenadora do Movimento Olga Benário no Estado do Rio de Janeiro e da Casa Almerinda Gama, reconhece a importância de projetos como a oficina de Mandalas, que inclusive emula a coordenação da casa a promover, futuramente, uma feira de Artesanato. De acordo com a Coordenadora, ter esse tipo de atividade nas ocupações é de extrema importância, por ser uma ferramenta que auxilia o trabalho psicológico oferecido pela casa: “Enquanto produzimos as mandalas, conversamos sobre as dificuldades que as mulheres enfrentam no capitalismo, nos conhecemos melhor, percebemos realidades e vivências similares, realizamos dinâmicas que incentivam o apoio e a união entre as mulheres.”

Além disso ela também ressalta a importância de oficinas como esta, oferecida pelo Movimento, no intuito de promover a autonomia financeira dessas mulheres vítimas de violência, como explica que “Cerca de 30% das mulheres que estão em situação de violência doméstica não denunciam por dependerem economicamente dos seus companheiros, sem perspectivas e oportunidade de trabalho”. 

A Casa, que hoje enfrenta um processo judicial de despejo, promovida pelo Governo do Estado, continua resistindo há mais de um ano, através do trabalho forte e corajoso das mulheres que constroem o Movimento Olga Benário no Estado do Rio de Janeiro, e atuam na linha de frente da luta popular em defesa da vida das mulheres. Por isso, devemos nos orgulhar com o trabalho forte e corajoso feito pelo Movimento Olga Benário, que organiza a luta pela vida das mulheres, construindo diversos núcleos de estudo sobre organização política das mulheres, nas escolas, bairros, universidades e fábricas de todo Brasil.

*Militante do Movimento de Mulheres Olga Benário no RJ