Ocorreu, nos dias 01 e 02 de setembro, a 27º edição do Seminário Internacional Problemas da Revolução na América Latina, com o tema “As lutas da classe trabalhadora e dos povos e as disputas interimperialistas”, organizado pelo Partido Comunista Marxista-Leninista do Equador (PCMLE) e pela Juventude Revolucionária do Equador (JRE). O evento cumpre um importante papel para esquerda revolucionária do nosso continente, permitindo às organizações marxistas-leninistas debaterem suas ideias, trocarem experiências e, principalmente, traçarem os rumos da luta revolucionária no mundo atual.
Devido à antecipação das eleições presidenciais e parlamentares no Equador, o evento foi realizado de forma online, contando com mais de 1.500 participantes, de 17 países, nas seis mesas de debates, entre eles, o Partido Comunista Revolucionário (PCR) do Brasil. Foi aprovada ainda uma Declaração Final do Seminário, que publicamos na íntegra.
DECLARAÇÃO FINAL DO 27º SEMINÁRIO INTERNACIONAL
PROBLEMAS DA REVOLUÇÃO NA AMÉRICA LATINA
Não são bons tempos para o capitalismo. Suas inevitáveis contradições internas são a fonte dos graves problemas de que padece. Há mais de um século, entrou na etapa que marcou o início de seu declínio e a luta dos trabalhadores e dos povos continua a pôr abaixo os muros da exploração capitalista. Agora, o mundo é testemunha de uma nova onda de protestos, que expressa o descontentamento e o rechaço dos povos a um regime que só lhes oferece incerteza, opressão e exploração.
Dezenas de milhares de trabalhadoras e trabalhadores em greve, manifestações e até enormes protestos operários e de jovens nas ruas, confrontação violenta com as forças repressivas foram a marca do cenário político-social das principais economias capitalistas da Europa nos últimos meses. Uma resposta à ofensiva do capital, que descarrega a crise sobre as costas dos trabalhadores e aos esforços da grande burguesia monopolista para financiar seus investimentos de guerra com medidas que provocam a redução dos salários e o aumento do desemprego.
A Europa se converteu no epicentro da luta das massas trabalhadoras, mas esta se encontra presente em todos os continentes, nos países com maior desenvolvimento capitalista, como Estados Unidos e China, e nos países com menor desenvolvimento, dependentes do imperialismo. O confronto burguesia x classe operária – expressão da contradição capital x trabalho – toma força e isso anima as organizações revolucionárias no planeta.
A luta de massas
Na América, junto à luta dos trabalhadores, dos camponeses pobres e médios, da juventude e das mulheres, existe um componente que, pelas características de nossos países, tem uma importância estratégica: os povos e nacionalidades indígenas.
A luta de massas freou os planos antipopulares dos governos neoliberais e dos que se apresentam como democráticos e progressistas; derrotou conspirações da direita fascista – como no Brasil – e conquistou, pela via eleitoral, importantes vitórias políticas, que, em vários casos, foram traídas pela falta de consequência dos que se beneficiaram destes triunfos.
A agudização dessa contradição, junto à exacerbação das que se apresentam entre os Estados imperialistas, configura um cenário particular no mundo atual, um contexto que confirma as teses de que o capitalismo-imperialismo é a fonte de agudização da luta de classes, da luta dos povos contra a dominação estrangeira, da disputa entre monopólios e Estados capitalistas-imperialistas por zonas de influência e da origem de conflitos que podem tomar a forma de guerras mundiais.
A guerra, que tem como teatro de operações a Ucrânia, é a expressão mais dura das contradições entre os monopólios e as potências imperialistas, mas não é sua única manifestação. O mundo atual é marcado por esses confrontos, que advertem-nos sobre o perigo de uma guerra mundial. Em outros momentos, esses confrontos aparecem relativamente “distensionados”, mas estão presentes em toda parte: no âmbito do comércio, no desenvolvimento tecnológico-científico, no campo financeiro, na corrida armamentista, no terreno cultural, etc.
Os acordos, tratados, ações conjuntas, a composição e a recomposição de blocos econômicos, políticos e militares que se produzem entre as maiores economias do planeta confirmam que, há décadas, vivemos num mundo multipolar, no qual o imperialismo estadunidense possui uma força hegemônica (agora em decadência), o que não é sinônimo de um único imperialismo.
Essa hegemonia agora é disputada pelo imperialismo chinês, que articula também acordos, convênios, investimentos que lhes permite colocar em circulação seu capital financeiro, não menos explorador e opressor que o proveniente de qualquer outro país imperialista. Nenhuma potência imperialista, assim como nenhum bloco econômico comandado por monopólios imperialistas, pode ser fonte de desenvolvimento autônomo e soberano para os países dependentes, como agora se pretende apresentar a propósito dos planos que China e Rússia têm com o bloco conhecido como BRICS, com o qual se propõem a disputar com o imperialismo estadunidense e seus aliados.
Reiteramos o que já foi dito em outras ocasiões: não há imperialismos bons; todos formam parte do sistema imperialista mundial e todos são inimigos dos trabalhadores e dos povos.
A América Latina e o Caribe são objeto das disputas interimperialistas, capitais estadunidenses, chineses, canadenses, ingleses, russos, alemães, japoneses, etc., circulam na economia de nossos países explorando os recursos petrolíferos, minerais, agrícolas; no sistema financeiro; nos projetos hidrelétricos; no equipamento militar, etc. A grande presença dos capitais chineses, em particular, deve-se às relações com os governos “progressistas”, que cumpriram e cumprem o papel de renegociadores da dependência externa dos países.
Independência de classe
Na luta por conquistar a emancipação social e nacional, as forças revolucionárias devem apresentar aos trabalhadores e aos povos um projeto estratégico orientado por uma política de independência de classe, que significa: contar com um programa que se proponha a atender e resolver as necessidades materiais e direitos dos trabalhadores e dos povos, afetar os interesses dos donos do grande capital nativo e estrangeiro e defender a soberania de nossos países; agrupar as forças motrizes da revolução e isolar os inimigos da revolução; combater o imperialismo em todas as suas expressões. Nesse sentido, para que avance a luta revolucionária, é uma necessidade a construção e o fortalecimento de poderosos partidos marxistas-leninistas.
Os participantes do 27º Seminário Internacional Problemas da Revolução na América Latina reiteram o repúdio à guerra imperialista na Ucrânia, exigem a paz imediata e a saída das tropas russas desse território, e que os EUA e a Otan tirem suas garras de Ucrânia. Ratificamos nossa solidariedade com o povo desse país e com os povos que sofrem com o confronto imperialista.
Somamo-nos às lutas de libertação nacional dos povos da Palestina e do Saara Ocidental, que travam batalhas legítimas e justas, sobretudo contra o imperialismo estadunidense, britânico e francês, assim como contra o regime de apartheid do sionismo israelense e a ocupação da monarquia feudal marroquina do território nacional saariano, em aberta violação ao direito à autodeterminação dos povos. Expressamos nossa solidariedade com os trabalhadores, o campesinato, a juventude e os povos, que, em todos os continentes, lutam contra os efeitos da dominação do capital, por trabalho, terra, moradia, liberdade, enfim, pela vida. Nessas lutas está o germe das torrentes revolucionárias necessárias para pôr fim ao mundo do capital.
Quito, 2 de setembro de 2023
Publicado na edição nº 279 do Jornal A Verdade.