Para a população de São Paulo e de toda a região metropolitana, a época de chuvas traz morte e destruição, além de incontáveis prejuízos de ordem material.
Felipe Portas* e Pedro Calcagno* | São Paulo
DESTAQUES – Para a população de São Paulo e de toda a região metropolitana, a época de chuvas é como um triste filme que se repete a cada ano, trazendo morte e destruição, além de incontáveis prejuízos de ordem material.
As enchentes e alagamentos colocam população em estado de alerta. Para grande parte dos trabalhadores as chuvas representam grande risco, trazendo preocupação e desespero. E isso, como sabemos, não é por acaso.
Incidentes foram registrados no começo do ano em diversas cidades como Mauá, Itapevi, Osasco, Carapicuíba, Santo André, Diadema; e bairros da Capital como Parque Santo Antônio, Jardim Pantanal, Perus, Jardim Peri, entre outros.
Agora, voltaram a se repetir em diversas cidades. Taboão da Serra sofreu com o deslizamento de diversas casas e Caieiras viu seu teatro municipal ficar alagado devido ao alto volume de chuvas.
No senso comum do nosso cotidiano ainda há uma impressão geral de que o descarte incorreto de lixo e o manejo irregular de entulho são os principais responsáveis pelo problema, implicando em uma visão que acaba por colocar sob os indivíduos a culpa pelas enchentes na região.
É preciso notar que estamos tratando de um problema que envolve muitos elementos distintos. Não que o acúmulo de lixo e entulho nas ruas e terrenos também não seja um problema grave, mas para a busca pela solução da situação das enchentes e alagamentos deve partir de uma adequada ocupação do solo, com a realização de uma reforma urbana que, a cada dia, mostra-se mais urgente e necessária.
Partindo dos problemas que nascem com o zoneamento das regiões urbanizadas, processo capturado pelos interesses das classes dominantes, até chegarmos a problemas da gestão pública para prevenção de riscos e atuação emergencial por parte dos órgãos responsáveis, é nítida a falta de interesse dos prefeitos e demais gestores públicos.
Somente na capital do estado, entre 2014 e 2021, a prefeitura deixou de investir uma soma de R$3,4 bilhões na execução de obras e projetos para prevenção de enchentes – o que equivale, na média, a aproximadamente R$ 486 milhões por ano, valor que já havia sido previamente reservado pela dotação orçamentária.
E essa é só mais uma das diversas demonstrações do descaso com a população. Vale citar, nesse sentido, que a cidade ainda não conta com um Plano Municipal de Gerenciamento de Riscos, muito embora a criação do documento esteja prevista desde o ano de 2014.
O que a história das chuvas na cidade de São Paulo e região metropolitana nos conta é que os habitantes da região, especialmente os moradores de regiões periféricas, não podem contar com a boa vontade de políticos e poderosos para viver com o mínimo de paz, sob em segurança, sem o risco de perderem móveis, eletrodomésticos, carros, talvez a morada, quando não a própria vida ou a de entes queridos, pela ameaça das enchentes e deslizamentos de terra.
Se houve algum avanço recente na questão da prevenção de enchentes e demais problemas causados pelas chuvas, como é o caso da mobilização para obras no bairro de Perus, este avanço se deve sempre à luta e à pressão popular. Por isso, os moradores da capital e das cidades em redor devem estar unidos e cientes do poder que a organização popular tem na hora de discutir as prioridades da gestão pública.
Afinal de contas, quantas vidas não teriam sido salvas? Quanto de dor e sofrimento não se teria poupado se, ao menos, o mínimo fosse realizado pela administração pública na região?
*Militantes da UP