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quarta-feira, 13 de novembro de 2024

Crise climática em 2023 mostra que o capitalismo pode levar ao fim do mundo

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Enzo Allevato | Rio de Janeiro (RJ)


Em 2023, temos observado, de norte a sul do globo, o desenrolar de uma série de eventos climáticos desastrosos para a humanidade e o meio ambiente, que parecem se tornar cada vez mais frequentes e intensos.

Temos assistido a temperaturas cada vez mais extremas sendo registradas em todo o planeta, como visto nas recentes ondas de calor que assolaram os Estados Unidos e a Europa. De fato, durante o verão de 2022, estima-se que cerca de 61 mil pessoas morreram na Europa devido às ondas de calor extremo.

Também no Brasil têm sido cada vez mais recorrentes os eventos climáticos extremos, como chuvas torrenciais e secas, que ceifam as vidas de centenas de brasileiros a cada ano.

Especialmente afetados são os moradores das periferias dos centros urbanos, como moradores de favelas e de regiões de encostas, que se tornam ainda mais vulneráveis a deslizamentos e seus efeitos desastrosos. No Brasil, como sabemos, a população periférica tem classe, gênero e cor: é composta majoritariamente por trabalhadores negros e negras, sendo estas últimas ainda mais vulnerabilizadas por sua situação social de desigualdade.

 

O que é o aquecimento global, afinal?

Aquecimento global é o nome científico dado ao fenômeno do aumento das temperaturas médias do planeta Terra. Este aumento das temperaturas é causado pela intensificação do chamado “Efeito Estufa”, um fenômeno natural que permite a retenção do calor do sol na atmosfera terrestre devido à presença dos chamados “gases de efeito estufa”, como o dióxido de carbono e o metano. 

A título de exemplo, estima-se que, sem o Efeito Estufa natural, a temperatura média da Terra giraria em torno de -18°C. Entretanto, a interferência humana – especialmente a partir do desenvolvimento do capitalismo e da revolução industrial – tem causado a liberação excessiva de gases de efeito estufa na atmosfera, aumentando exponencialmente a retenção de calor na atmosfera e ocasionando um aumento sem precedentes nas temperaturas médias globais. 

O IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, instituído pela ONU) é um grupo internacional de cientistas de referência sobre as mudanças climáticas. Em seu mais recente relatório, de março de 2023, consta: “A temperatura média mundial já subiu 1,1 grau Celsius acima dos níveis pré-industriais – uma consequência direta de mais de um século de queima de combustíveis fósseis, bem como do uso desordenado e insustentável de energia e do solo. (…) Cada incremento no aquecimento resulta em um rápido aumento dos riscos. Ondas de calor mais intensas, chuvas mais intensas e outros eventos climáticos extremos aumentam ainda mais os riscos para a saúde humana e os ecossistemas. Em todas as regiões, pessoas estão morrendo devido ao calor extremo. A insegurança alimentar e hídrica causadas pelo clima devem aumentar com o aumento do aquecimento”.

 

Causas e consequências

Nesse sentido, os dados mostram que há países e populações significativamente mais vulneráveis às mudanças extremas do clima a que temos assistido, e que estes são, justamente, os países explorados pelo imperialismo capitalista. Segundo a ACNUR (Agência da ONU para Refugiados), “mais de 70% das pessoas refugiadas ou deslocadas internamente no mundo vêm de países extremamente vulneráveis aos efeitos das mudanças climáticas, como o Afeganistão, a República Democrática do Congo, a Síria e o Iêmen”.

Para além das desigualdades nos efeitos da crise climática, também saltam aos olhos as flagrantes desigualdades quanto à poluição do meio ambiente e à emissão de gases de efeito estufa, que agravam o aquecimento global. Com efeito, segundo dados de um artigo científico publicado na renomada revista “The Lancet Planetary Health”, o chamado Norte Global (composto majoritariamente pelos países imperialistas da Europa e os Estados Unidos) são, de longe, os maiores poluidores, causando 92% do excesso de CO2 desde 1750. 

Por fim, as desigualdades também ficam escancaradas quando se trata de classe. Segundo dados da Oxfam, o 1% das pessoas mais ricas do mundo foi responsável pelo dobro das emissões de dióxido de carbono quando comparadas aos 50% mais pobres da população mundial de 1990 a 2015. Em outro estudo, constatou-se que apenas 100 empresas são responsáveis por 71% das emissões de gases de efeito estufa no mundo todo desde 1988. 

 

Gravidade da crise climática

Órgãos governamentais, controlados pela burguesia e aliados à mídia burguesa, escondem da população mundial a real gravidade das mudanças climáticas em curso. Fazem-no com o intuito de impedir a inevitável revolta que adviria contra o sistema capitalista, dada a sua incompatibilidade fundamental com a continuidade da vida humana na Terra.

Em seu último relatório, o IPCC trouxe a público o diagnóstico de que, caso cessemos as emissões de gases-estufa em cinco anos, ainda seria possível evitar o aumento de 1,5ºC nas temperaturas médias da Terra até 2100.

Entretanto, em um dos mais importantes artigos científicos sobre as mudanças climáticas publicados recentemente, o proeminente cientista do clima estadunidense James Hansen e outros 14 coautores de diversas nacionalidades constataram uma situação muito mais grave do que o IPCC.

Tecendo críticas ao método de análise usado pelo IPCC em suas previsões, Hansen e seu grupo diagnosticaram que, mesmo que interrompêssemos todas as emissões de gases-estufa hoje, ainda veríamos um aumento em torno de 4°C nas temperaturas médias da Terra até 2100. Para termos dimensão da gravidade desta situação, uma diferença de 4ºC nas temperaturas médias da Terra é a mesma diferença entre as temperaturas atuais e aquelas da era glacial, onde conviviam mamutes e espécies humanas ancestrais.

 

Fim do mundo ou fim do capitalismo?

Mesmo quando temos acesso aos dados científicos que nos informam sobre a gravidade da crise climática, há quem procure apaziguar as contradições afirmando ser “alarmismo” ou “exagero” apontar a necessidade de lutarmos imediatamente contra o capitalismo e as mudanças climáticas. Até mesmo na esquerda é comum vermos uma certa negligência quanto à importância das mudanças climáticas, seus impactos na vida da classe trabalhadora e mesmo quanto à sua centralidade na própria sobrevivência da humanidade na Terra a médio-longo prazo. 

De fato, estamos vivendo em um tempo histórico de encruzilhada para a humanidade: devemos escolher entre o fim do mundo ou o fim do capitalismo. A atual geração tem a tarefa histórica de lutar pela sobrevivência e pelo bem comum da humanidade, sob a pena de extinção. Devemos compreender a gravidade do problema e ter a dimensão da tarefa que se põe à atual geração: ou mudamos o jeito que vivemos ou seremos uma das últimas gerações de humanos a pisar na Terra.

 

As tarefas da classe trabalhadora

Admitir a gravidade do problema é o primeiro passo para pensarmos e executarmos uma solução. Assim, entendendo a urgência da crise climática, deve estar entre as principais prioridades dos comunistas denunciar às massas o quanto a destruição do planeta Terra e da própria humanidade é consequência da lógica capitalista de produção. Por isso, deve ser também prioridade máxima destruir o capitalismo para construir uma forma nova de vida em sociedade, alinhada com a preservação do planeta Terra e a própria sobrevivência da humanidade. Isso requer, necessariamente, um chamado imediato à ação.

Os comunistas não podem se abster do tema e da construção de uma forma de sociabilidade realmente sustentável. Sabemos dos desvios revisionistas e reformistas que estão presentes em concepções como o chamado ecossocialismo e suas variantes. Entretanto, não podemos também incorrer no erro mecanicista que é pensar que devemos esperar o socialismo para começar a lutar contra o problema das mudanças climáticas e do equilíbrio do meio ambiente de maneira automática.

É preciso pensar e construir um socialismo que garanta a continuidade da existência humana na Terra. Para fazê-lo, não podemos mais ignorar a gravidade das mudanças climáticas atualmente em curso e devemos, antes, colocá-las no topo das prioridades da construção de uma nova sociedade.

Matéria publicada na edição nº 280 do Jornal A Verdade.

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