O jornal A Verdade entrevistou Mohammed Jabr Abushanab, palestino de Gaza, atualmente morando em Brasília. Ele é pai de uma menina de 9 anos e de dois meninos de 11 e 12 anos, que estão na Faixa de Gaza neste momento. Com muita emoção, fala da sua aflição de não conseguir contato com os filhos em meio a mísseis explodindo diariamente, além de ter sido cortado o fornecimento de energia elétrica, gás e água por Israel. Mohammed também relata as décadas de sofrimento, perseguições e assassinatos contra a população palestina, que classifica como um verdadeiro regime de apartheid.
Nirceu Werneck e Alexandre Ferreira | Brasília
A Verdade – Durante mais de 75 anos, o Estado de Israel realiza uma sistemática ocupação do território palestino e descumpre todos os acordos internacionais em relação aos direitos humanos da população palestina, especialmente na Faixa de Gaza. Como você classifica esta política?
Mohamaded Abushanab– Desde o primeiro dia da criação do Estado de Israel, as autoridades de ocupação têm cometido vários crimes contra o povo palestino, incluindo assassinatos, desocupações e privando o nosso povo de viver em paz. Estão praticando um verdadeiro apartheid. Inclusive, assassinando sistematicamente crianças e cometendo um genocídio do povo palestino.
Os palestinos foram deslocados de seu país e de suas casas através de assassinatos e massacres, como os massacres de Sabra, Chatila e Deir Yassin. Estes deixaram milhares de pessoas mortas entre mulheres, crianças e idosos. O povo palestino foi privado dos direitos mais básicos, tais como a liberdade, a segurança, a proteção e o estabelecimento de um Estado independente. Para se ter ideia, hoje tem mais de 5.200 palestinos presos ilegalmente, incluindo 33 mulheres e 170 crianças.
Gaza foi convertida numa grande prisão durante décadas. Está completamente bloqueada. Não vem sendo garantidas as necessidades mais simples da vida. É uma situação injusta e racista. Todos estes crimes devem acabar e os direitos humanos devem ser respeitados em Gaza e em toda a Palestina.
Como é viver em Gaza nas condições de um bloqueio que impede que chegue à população remédios, alimentos e até água?
Devido à intensificação do bloqueio, nos últimos 16 anos, não temos as necessidades básicas para viver em Gaza. A água, o ar e os alimentos estão poluídos. Não há liberdade de circulação de viagens e tratamento médicos são negados. Gaza se tornou uma grande prisão. Lá não existem direitos humanos.
Há mais de dois milhões de palestinos vivendo em Gaza, num território de 41 km de comprimento e apenas de 6 a 12 km de largura. A maioria são crianças, mulheres e civis. Entre estes, estão meus três filhos. O que vemos agora são massacres contra civis desarmados, crianças e mulheres e tentativas de exterminar a população, gerando mais violência e revolta.
Como estão seus filhos lá agora?
Meus três queridos filhos nasceram em Gaza, vieram morar comigo alguns meses aqui em Brasília, mas, há quatro meses, voltaram para lá devido à precariedade da escola onde estudavam. Constantemente não tinham aula por falta de professores. Por isso, decidimos que voltassem a morar em Gaza, pois lá a educação e as escolas são muito sérias, não faltam professores, as crianças não ficam sem aulas. Agora, a situação é muito perigosa e perturbadora. Não consigo me comunicar com meus filhos por ter sido cortada a energia e a internet. Ocorreram muitas explosões e bombardeios por toda parte, não temos a garantia nenhuma de sua segurança.
É possível sonhar com uma Palestina unificada?
O povo palestino sonha com um Estado unificado e com a reunificação familiar. Há mais de 20 anos que não posso visitar minha família na Cisjordânia. É necessário pôr fim aos crimes da ocupação. O Estado de Israel tem que respeitar os direitos humanos e a ONU estabelecer o Estado da Palestina.